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Victória 👛

Meu dia foi horrível, eu não conseguia pensar em nada, ao não ser na dona Solange, tanto que eu nem fiquei o plantão todo, assim que finalizei o serviço eu fui pra casa dela.

Solange : Oi minha linda. -Me deu um beijo. -Chegou cedo, João veio?

Victória : Não...ele nem sabe que eu tô aqui, vim mais cedo pra conversar com a senhora. -Falei sentindo a minha garganta fechar.

Ela trancou a porta e nós fomos pro sofá, eu sentei, passando a mão no rosto e abri a minha bolsa, tirando os exames de lá.

Victória : Dona Solange...eu. -Senti minha boca ficar seca outra vez e limpei o meu rosto, ela olhou os exames na minha mão e colocou a mão sobre a minha. -Não é verdade, né?

Solange : Meu anjo... -Ela começou a falar e pela voz eu já entendi tudo, comecei a chorar igual uma criança pequena e ela me abraçou, colocando deitada em seu colo. -Não fica assim.

Victória : Não, não! A gente vai achar um tratamento, vai dar certo e...

Solange : Victória. -Falou segurando a minha mão e eu neguei.

Victória : O João Pedro, meu Deus, ele...

Solange : O João Pedro não vai saber! -Eu abri a minha boca, em negação e ela limpou as minhas lágrimas. -Eu não quero que ele saiba, meu bem, ele não pode.

Victória : Não, o tratamento vai começar e...

Solange : Não vai ter tratamento, porque eu não vou fazer. -Eu respirei fundo, abaixando a cabeça. -Nós sabemos como funciona, eu não quero isso pra mim, eu não quero me submeter a hospitais, exames, quero ficar livre.

Victória : A senhora não pode desistir assim, meu Deus! Isso é loucura, o João, eu...

Solange : O João não vai aceitar isso e você sabe muito bem, ele vai se sentir culpado! Eu sei mesmo antes dele comprar a oficina, não quero que se sinta culpado por isso. É uma decisão que partiu de mim. Meu filho merece ser feliz, ele merece aproveitar esse momento tão bom e único da vida dele.

Victória : E ai, o que a gente vai fazer? Porque eu não suporto perder a senhora pra essa doença, eu não quero, não vou deixar.

Solange : Eu vivi muito, Victória. Apesar de todas as dificuldades da minha vida, eu fui feliz. Criei o João Pedro sozinha, trabalhava o dia todo, minha única confiança era Deus, passava o plantão todo rezando, pedindo pra proteger ele sozinho em casa, só tinha seis anos, eu deixava tudo preparado, pedia apenas pra ele não sair quando eu não estivesse...

Solange : Eu pagava as contas sozinhas, não podia dar tudo o que ele merecia, mas eu dava o meu máximo, para ele ter comida, para ter uma vida digna. O meu filho nunca levantou a voz pra mim, nunca! Nunca me trouxe desgosto e a prioridade dele sempre foi eu. Nós dois fomos muito felizes, mesmo nos nossos piores momentos...ele pegou responsabilidades, muito novo, aliás! Mas eu sinto orgulho do filho que eu criei e eduquei, e sinto mais orgulho ainda em saber que ele encontrou uma mulher como você.

Solange : Minha parte eu fiz, meu bem! Eu sei o quanto ele te ama, o quão é apaixonado e louco por você, a primeira e a única que ele me apresentou. -Falou sorrindo. -E eu sei que você sente o mesmo, meu filho não ta sozinho, ta com uma mulher honesta, humilde e de coração bom! Vejo você o que eu vejo nele, não é atoa que tenho você como uma filha, uma princesa.

Victória : Eu sou tão grata por ter a senhora, só eu sei o quanto a senhora me ajudou a segurar a barra, com os meus pais longe, meu Deus, fez tanto por mim, deixa eu ajudar a senhora...

Solange : Meu anjo, não existe uma saída. -Me puxou pro colo dela outra vez. -Aceita a minha decisão, por favor, não quero que isso seja tão presente em nossas realidades. Eu te amo tanto, tanto, tanto!

Victória : E eu também, muito! A senhora é o meu suporte aqui, é sério!

Solange : Por isso que eu te peço, não fala nada pro João, preciso que isso fique entre nós, não quero ver o meu filho sofrer...já basta as noites em claro, com ele chorando pelo pai, eu quase morri, de dor no coração quando vi o sofrimento dele, não quero que isso aconteça novamente.

Victória : Nós nunca entramos nesse assunto...

Solange : João é fruto de um estrupo, Victória! Pra ele é doloroso, por anos se sentiu culpado, sempre dizia que não era digno do meu amor...mas quando aquele homem me deixou sozinha, lá pela Bahia a fora, ele foi a minha salvação, eu lutava pela vida dele, pelo bem! Vivia dizendo que iria colocar na adoção, mas eu não fui capaz. Meu filho foi o meu primeiro amor, e é o único. Se eu dei a volta por cima, é por intermédio dele.

Meu coração se encheu de dor, eu não imaginava nada do tipo, só soube correr pro abraço dela, eu não queria soltar, por nada.

Solange : Só me promete isso, que não vai falar. -Eu balancei a cabeça, mesmo sem concordar e ela beijou a minha cabeça.

Ouvi barulho de moto e levantei, secando o meu rosto rápido e ela o mesmo, levantei e fui correndo pro banheiro, na intenção de limpar o rímel e ouvi a voz dele.

Jp : E ai, minha coroa linda! Suave? -Ouvi ela responder e sai do banheiro. -Ih, qual foi? Tô podendo muito, não é não? -Piscou pra mim, se aproximando e me dando um beijo na bochecha. -Sorte em ter vocês.

Victória : Não te avisei porque saí antes. -Minha voz saiu meio falha e eu tossi.

Jp : Voz de choro, qual é?

Victória : Liguei pros meus pais. -Meu coração travou em mentir e ele deu um sorriso de lado, me abraçando.

Jp : Tenho uma novidade, semana que vem a gente vai pegar estrada pra Angra, um final de semana só, pra comemorar as bênçãos da vida e ficar de marolinha.

Solange : E hoje a gente vai pra gafieira, vai ter Diogo Nogueira e eu quero a companhia do meu filho e da minha nora. -Bateu palma e eu sorri, disfarçando.

Jp : Senhora que manda, bora, né? -Perguntou no meu ouvido e eu concordei rapidamente.

Victória : É óbvio!!! A gente vai. -Ela sorriu animada e eu subi, deixando o João com ela.

Oh meu Deus, faz um milagre acontecer, é só isso, que eu peço!

céu e fé. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora