11

402 35 13
                                    

Me desculpe de verdade papai.

Estava trancada na minha sala quando recebi uma chamada do meu pai, suspirei quando me lembrei que ele embarcou hoje, não mandei mensagem, nem fui vê-los como tinha prometido, me senti péssima. Se ao menos pudesse me justificar, mas definitivamente não queria que eles soubessem de nada, por enquanto pelo menos.

Tudo bem querida, apenas peço que vá visitar sua mãe enquanto eu estiver fora. — Ouço sua voz do outro lado.

Não se preocupe, iria visitá-la mesmo que não pedisse, amo o cuidado que tem por ela, e amo vocês também.

— Te amamos, se cuida por favor.

A sensação que tive foi como se minha garganta tivesse sido coberta, uma angústia, uma pressão que me prensava. Lembrei que meu pai estava na linha e aguentei firme para não chorar alto, mas o brilho de lágrimas estava sim nos meus olhos. Funguei ajeitando o cabelo.

Filha?

Respondi com um simples "oi", ele se despediu carinhosamente, alegando que estava ocupado, firmemente me despedi também, a última coisa que gostaria era deixá-lo preocupado, meu pai é um tanto quanto super protetor, me sentia amada, mas não me sentia confiante em contar para ele tudo que sentia, sempre tive medo de suas reações.

Pelo menos por algo eu estava agradecida naquele dia, consegui adiantar muitas coisas atrasadas do trabalho, usei toda fúria que sentia em meu corpo e depositei nos meus afazeres, pelo menos com isso eu estava satisfeita. Quando estava muito próximo da noite, desci até o estacionamento para pegar o carro, iria visitar a mamãe ainda hoje.

No volume máximo tocava alguma música animadíssima que coloquei, precisaria de medicação para suportar uma trilha sonora melancólica alterando todos os meus maus pensamentos e sentimentos. As ruas bastante movimentadas me ajudavam a não focar só nas minhas dores interiores.

Parei num posto qualquer para repor a gasolina, estacionei e desci para reabastecer, senti a exaustão assim que meus pés tocaram o chão, apoiei as costas na porta do carro e massageie as têmporas, meu corpo não queria acordo comigo mesmo, e ele tem razão, nem lembro qual foi a minha última refeição descente.

Droga! — Ouço alguém dizer.

Me posiciono corretamente e caminho ao redor do carro, meu cérebro imediatamente gritou "não é possível" assim que a figura masculina ficou visível para mim. Era ele de novo, incrível como esse ser aparece nas situações mais desconfortáveis da minha vida, talvez ele seja a maldição.

Fingi não ter notado sua presença, sigo em direção ao meu objetivo, percebo que ele visualiza lentamente cada passo meu, enquanto me aproximo do automóvel para concluir minha tarefa. Respiro fundo insegura, nunca me importei com olhares, afinal sempre achei que estava impecável em todas as ocasiões, porém hoje, agora, ultimamente...

— Que bom que ele está bem. — Atrai minha atenção lentamente com sua fala.

— Como?

— O carro. — Aponta.

— Oh. — Abro minha boca afirmando com a cabeça que entendi. — Sim. — Achei estranho sua colocação, mas eu também estava feliz por ter meu carro de volta.

Retornei ao meu serviço, logo o completando, olhei mais uma vez para quem estava ali abastecendo sua fiel companheira também, ele deve ser algum tipo de mototáxi ou entregador, não é possível, deve dormir com ela do lado. Nem mesmo eu notei, mas já caminhava em sua direção.

— Ela que parece sempre estar bem. — Me refiro a moto.

— Cuido muito bem do que me pertence. — Trouxe seu olhar ao meu.

Cocei a garganta com o ato. Cuidava principalmente de si mesmo, ele estava sempre bem arrumado, cabelos bem tratados, roupas alinhadas, acessórios atraentes, seu perfume então, invadia minhas narinas como se pudesse
me envenenar e me levar aos poucos.

Tentei impulsionar meu corpo para sair andando, mas foi a fraqueza que roubou minhas pernas, segurei na moto do rapaz que deu alguns passos ficando em frente a mim, senti seu toque no braço.

— Tudo bem?

— Sim. É cansaço apenas. — Disse e comecei a me recompor.

Me curvei agradecendo sua leve ajuda, foi uma tontura que logo desapareceu, e agradeci, não gostaria de desmaiar ou o que seja, tendo ao lado somente ele. Indo em direção ao carro sua voz pergunta se era uma boa dirigir e se não era melhor pegar um táxi, aleguei estar ótima, ele não insistiu, ficou me olhando um pouco estranho, mas não se opôs.

Coloquei o sinto respirando fundo, dei partida. O caminho inteiro eu me questionava qual seria a próxima situação que me colocaria diante dele, imaginei muitas coisas idiotas em minha perturbada cabeça. Já estava me acostumando com a ideia de ficar louca de vez.

Tão louca que o vi enquanto dirigia, estava refletido no espelho a minha frente, não poderia ser outro, tinha certeza que era ele, ou seria uma alucinação? Ele estava ali na minha cabeça a pouco tempo e agora diante dos meus olhos, a probabilidade de ser um pequeno, ou gigantesco devaneio, era imensa. Mas confio no que vejo.

MAGNETISM. jjkWhere stories live. Discover now