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Sai do estabelecimento desolada, não tinha o controle dos meus sentidos. Caminhava com meu pensamento unicamente focado em sair dali o mais rápido possível, não queria ser seguida, fiz tudo as pressas, mas tal decisão só serviu para que meu corpo reagisse pela primeira vez por um motivo nada agradável.

O som estridente do freio da moto me fez ir para trás quase caindo pela dormência que senti nas pernas, paralisei, totalmente pasma, ainda no meio da rua. O rapaz alto retirou o capacete enquanto caminhava rápido em minha direção, aparentava estar sério, sua feição não era nada simpática.

Porém parece que ao notar meu estado e as lágrimas que estavam ameaçando escorrer, recuou e suavizou o rosto, passou a mão pelo próprio cabelo como se estivesse tentando se acalmar, me analisou dos pés à cabeça, suspirando e piscando os olhos lentamente.

— Sabe quão perigoso isso foi não é? E sabe que a culpa cairia sobre mim também, certo? — Seu olhar em chamas parecia querer penetrar no meu e incendiar meu corpo. —Saiba que não costumo pilotar em baixa velocidade, talvez hoje seja seu dia de sorte. — Sua fala me fez arregalar os olhos, e dar um sorriso de escárnio.

— Se hoje é meu dia de sorte, me desespero só em pensar nos de azar.

E... Perigoso? Olhe só para ele, aparenta ser a própria personificação de perigo. Talvez eu esteja fazendo um julgamento errado, mas sua postura o fazia parecer ser o tipo cara que deveria vir com uma plaquinha de alerta. "Cumprimente-o e sua cabeça não fará mais parte do seu corpo em segundos".

Ele ficou calado após o que eu disse,  provavelmente estava pensando no que pode ter ocorrido, mas não moveu um músculo, me dando tempo de analisá-lo. Seu jeito era um tanto quanto intimidador, e poderia fazer algumas pessoas recuarem ou ficarem mais amáveis, mas eu estava de saco cheio para ser tão cordial.

A bagunça de seu cabelo, o completo preto que carregava no estilo, as botas bonitas e aparentemente caras, os brincos, os piercings, esse conjunto definitivamente não era entediante, mas está sendo agora, tudo está sendo entediante para mim agora.

Ficamos nos olhando de forma estranha, eu estava irritada, e ele, bom, ele parecia querer descobrir através dos meus olhos o motivo da minha decadente situação. Segurei minha bolsa com mais força e ajeitei meus fios virando o rosto.

O olhei novamente limpando as lágrimas que não chegaram a cair completamente, mas que foram capazes de molhar abaixo dos meus olhos e provavelmente desfazendo um pouco da  maquiagem.

Aos poucos retomei meus passos. Por fora eu tentava manter a postura de sempre, de uma mulher bem sucedida em tudo, mas por dentro eu estava insuportavelmente sentimental, mal sabiam que a única área da minha vida que ainda ia bem era a do trabalho.

Enquanto me afastava, um carro passou por mim em alta velocidade fazendo meu vestido levantar, me impulsionei para trás e agarrei o tecido. Outro susto, fiquei constrangida,  mesmo assim olhei para trás, o estranho da moto apenas me olhou e voltou a subir na Ducati, suas sobrancelhas levantaram como se ele estivesse pensando "não é mais problema meu".

Depois de quase ser atropelada duas vezes, comecei a cogitar ser um aviso do universo, que talvez fosse melhor morrer ao invés de passar por essa humilhação. Só me faltava chover até eu encontrar um táxi, ou mais uma moto desgovernada decidida a acabar de vez comigo. E pode até ser que eu agradeça.

Só desejava chegar em casa, me despir e afogar meu corpo na banheira. E fiz, mas até o ranger da porta do quarto me angustiava, me preparei para deitar devidamente como todas as noites, mas o sono não quis acordo comigo.

E não seria hoje que o Kim chegaria e me encontraria dormindo e a conversa ia ficando para depois. Sua silhueta no chão me induziu a afastar um pouco a cabeça do travesseiro para observá-lo melhor, e lá estava, o homem de pé na porta, agarrado a maçaneta.

— Gostaria de uma boa explicação para ter me deixado sozinho. — Respiro fundo ao ouvir sua voz.

— Não o deixei sozinho.

— Se não queria ir para o jantar era só recusar meu convite, não precisava ir e me fazer passar por essa situação. — Ele se aproximou da cama e eu me sentei.

— Se não era minha companhia que realmente desejava para essa noite, era só não ter me convidado.

— Não entendo. Reservei um lugar extremamente caro, já que são seus favoritos, ainda fiz questão de reservar um novo restaurante, um que nunca tínhamos ido, apenas para lhe agradar mais ainda. E é assim que me agradece?

Ele se aproximou mais, ligando o abajur que fica no meu lado da cama para ter mais acesso ao meu rosto.

Suspirando me levantei, coloquei o roupão de seda que estava próximo, e me direciono ao banheiro, estava farta, queria reorganizar minha mente, uma mistura de sentimentos que estavam me deixando maluca.

O que ele pensa? Que me levar num restaurante caro vai  deletar todos os pensamentos de dúvida e desconfiança que cresceram no meio peito graças à frieza dessa relação?

Somente pelo reflexo já era visível meu cansaço físico e mental, não fiz nada além de olhar para o vidro e retornar ao quarto, encontrando ele sentando na cama desabotoando a camisa.

— Você sabe que eu mereço mais do que jantares em bons restaurantes, você sabe que nenhum dinheiro é superior aos meus sentimentos.

MAGNETISM. jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora