20. - Se eu não te conhecesse, diria que está com ciúmes.

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— Mas é sério, sobre o que foi aquilo? 

— Um cara qualquer que leu algo que não gostou. 

— Então é normal as pessoas te atacarem na rua?

— Eu não diria normal, mas comum? É sim. 

— Nossa, Nina. Isso é horrível! — Ele esticou a mão por cima da mesa de madeira do bar. Um choque correu pelo meu braço quando seus dedos envolveram os meus. — Se o cara fosse uns 20 ou 15 anos mais jovem, eu teria quebrado a cara dele.

Não consegui evitar uma risada.

— Sorte a dele então. 

Ele retribuiu o sorriso e acariciou minha mão.

— Duas cervejas. — Anunciou o garçom ao nosso lado. 

Instantaneamente puxei minha mão da sua. Ele me encarou com a testa levemente franzida. Eu também não havia entendido o porquê havia feito isso. Acho que não estava acostumada a demonstrar afeto em público. Curiosamente mantive minhas mãos no colo, longe dos seus dedos longos e finos. 

Agradecemos ao garçom. JP ergueu o seu copo americano propondo um brinde. 

— Aos bons vizinhos. 

Abri um sorriso e bati meu copo no dele.  

— E ao acaso que te trouxe pra mim.

Seu sorriso se alargou tanto que seus olhos quase se fecharam. Bebemos um gole do líquido cor de ouro.

— Seria essa uma demonstração de sentimento vindo direto de Marina Coração de Gelo? —  Ele levou a mão ao peito. — Devo me sentir lisonjeado? 

— HÁ HÁ! — Revirei os olhos e chutei-o por debaixo da mesa. — Nem todas as pessoas, na verdade, pouquíssimas pessoas tem a capacidade de gritar seus sentimentos aos 7 ventos como você faz.

— Você deveria se sentir lisonjeada então. — Ele escorregou o cóccix para a ponta da cadeira, sentando com as pernas mais abertas. Vestia uma jaqueta de couro preta que destacava seus olhos claros e sua postura de garoto mal.

— Você é sempre egocêntrico assim?

— Só nos primeiros encontros. — Ele deu uma piscadinha e se inclinou sobre a mesa, a proximidade inundando meus pulmões com o seu perfume doce e tornando imperceptível o cheiro de cigarro que pairava anteriormente no ar. — É meu charme para que as garotas queiram um segundo. — Então ele se afastou e abriu um sorriso brincalhão. 

— E quem disse que isso é um encontro? 

— Definitivamente isso é um encontro. — Ele ergueu uma das pernas acima da mesa e apontou para o rasgo no joelho da calça jeans preta. — Estou usando minhas calças de encontro, então... você meio que vai ter que aceitar que isso é um encontro.

Mais uma vez ele conseguiu me arrancar um riso sincero. OK, talvez isso fosse um encontro.

—  Não se esqueça, senhor Calça de Encontro, que fui eu quem te chamou pra beber. — Ergui a sobrancelha desafiando-o. Se ele pensava que ia controlar a situação, podia ir tirando o seu cavalinho da chuva. Eu não me curvo pra ninguém, não importa o quão gostoso seja.

— Ah, eu nunca negaria isso. Já te disse mais cedo e repito caso você não esteja entendendo: eu estou à sua mercê.

Ele baixou a cabeça e movimentou a mão em uma reverência como se fosse um duque. Seus olhos sagazes que me encaravam por baixo das sobrancelhas grossas e o seu sorriso petulante contradiziam seus gestos e as suas palavras. Garoto sem vergonha. 

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