19. Se isso for um sonho, não me acordem.

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— Que ótima ideia! Eu mando você tomar cuidado com o garoto e você começa a namorar com ele.

— Não estou namorando com ele, Michael. 

— Gente?

— Se eu te dissesse: "eu quero ficar com você" e você me dissesse "também quero ficar com você", configuraria namoro? — Perguntou Michael para o estagiário que me olhou confuso. 

— Eu não me sinto confortável estando no meio dessa conversa, posso sair e vocês me chamam quando forem discutir a matéria?

— Não! — Respondemos eu e Michael um uníssono. O garoto afundou na cadeira e abraçou a prancheta. 

Michael respirou fundo.

— Adultos não pedem adultos em namoro, Marina. Ou você espera que ele venha te buscar no fim do seu expediente com um cartaz e uma rosa que ele roubou da calçada de alguém? 

O estagiário riu e eu o fuzilei com o olhar. 

— Por favor me convide para a sua conversa com o Tiago. — Disse Michael olhando através da parede de vidro para o moreno que digitava atentamente na sua mesa. — Você sabe que minha alma despedaçada adora o som de corações se quebrando. 

Sentindo os 6 pares de olhos que o encaravam, ele olhou na nossa direção e acenou com um sorriso largo. O estagiário foi o único que retribuiu. 

— Você pode vir aqui na minha sala? — Interrompeu-nos Artur.

O estagiário colocou a mão no peito assustado.

— Marina. — Completou o nosso líder de RH e fuzilando o marido com os olhos disse: — Michael, pare de ameaçar os estagiários ou vou te dar uma suspensão.

— Você não pode me dar uma suspensão, eu sou o dono.

— Não foi uma ameaça trabalhista. 

— Éca! É como ouvir meus pais falando de sexo. — Coloquei o dedo na boca simulando vômito e juntando os meus pertences segui Artur para fora da sala. 

***

— Nina, eu quero alinhar contigo a questão do processo calunioso que você foi acusada. — Ele tentou cruzar as pernas, mas o puff onde estávamos sentados, o afundava de forma a limitar sua movimentação. Ele se ajeitou, endireitando a postura e logo foi engolido pelo estofado.

— Podemos nos sentar na mesa se você quiser. — Sugeri, notando o seu desconforto.

— Ótimo, obrigado! Eu comprei esse negócio para que as conversas não fossem tão formais. As pessoas sentem muita pressão estando na minha sala, mas na verdade eu sou apenas o mensageiro, não tomo as decisões de nada. 

— Foi uma ideia bem legal.

— Michael disse que foi um desperdício de dinheiro. Por ele, vocês sentavam em cadeiras de praia com o notebook sobre os joelhos. — Ele revirou os olhos. — Bem, voltando ao assunto. Michael me mandou a entrevista que foi feita com um dos escritórios. Eu vi que acabaram citando o nome da sua família e que a advogada acabou levando para o lado pessoal, o que foi muita apelação devo dizer. Ele também me disse que sua mãe é uma pessoa influente, então preciso te perguntar se você já tem um advogado de defesa ou se quer que a gente indique o mesmo que usamos aqui na empresa. 

—  Eu não quero envolver minha mãe em nada disso, Artur. Podemos arquitetar a defesa utilizando o mesmo advogado. Até porque minha mãe se mudou para a França há 6 anos. Duvido que ela assista o noticiário daqui, nem sequer deve ter ficado sabendo que citaram o nome dela. E também, não acho que ela faria nada além de jogar na minha cara que eu mereci isso por ser uma péssima profissional. — Soltei um riso de desdém que Artur retribuiu com um sorrisinho quase imperceptível de pena antes de baixar os olhos.

VizinhosWhere stories live. Discover now