12. Destruição mútua e consolo de carne

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Organizei a casa o melhor que pude aguardando-o para a nossa noite de filmes. Depois da conversa que tivemos no corredor, eu havia decidido: iria tentar não estragar isso e daria uma chance a nós.

Michael me dissera que meus relacionamentos eram superficiais porque eu queria que assim fosse. Eu tentara argumentar que simplesmente não tinha mais nada a oferecer e por isso as pessoas iam embora, mas ele me mostrou que eu quem não queria oferecer nada a mais e por escolha minha, as pessoas iam embora.

Claro que eu sabia que isso não se aplicava a tudo. Eu não queria que minha irmã tivesse me deixado e minha mãe me abandonara porque não aguentava olhar na minha cara e lembrar que perdeu a sua filha preferida. Todavia, se tratando de relacionamentos conjugais, eu aceitei e concordei com a crítica. Sinceramente, até então, não havia encontrado ninguém que valesse o esforço. E agora, podia afirmar que era mais fácil antes, quando eu não tinha medo de decepcionar ninguém.

Olhei a casa arrumada e suspirei. Já começara a querer agradá-lo; e a custo de quê? — Ele já havia dito que era a minha clareza e sinceridade que ele admirava. Joguei de volta algumas almofadas no chão e pendurei novamente e samambaia semimorta na parede.

Fiquei na dúvida sobre o que deveria vestir, afinal, assistiríamos um filme em casa, no sofá. Deveria me arrumar? Deveria colocar tênis? Usaria um pijama? Saí do banho e sentei na cama enquanto refletia sobre isso. Realmente, talvez a culpa dos meus relacionamentos anteriores serem tão superficiais, fosse exclusivamente minha, por não me esforçar. Acabei optando por uma roupa simples e confortável. Embora eu estivesse me dedicando, não queria parecer desesperada.

Enquanto secava o cabelo, recebi uma mensagem do meu vizinho preferido.

J.P.:

"Você prefere pipoca de manteiga, caramelo, chocolate, ou prefere os sabores mais exóticos como bacon, queijo e cebola?"

Marina

"Caramelo, é obvio. Pode escolher outra, mas nada de pipocas cujas quais o cheiro permaneça no ambiente por mais de 7 dias."

J.P.:

"Você restringiu muito as opções."

Apaguei todas as luzes frias do apartamento. Deixei as luzes de apoio acesas na cozinha, as arandelas do banheiro, o abajur da sala e a lâmpada da sacada. Acendi uma vela de cheiro na mesa ao lado do sofá e deixei o catálogo da netflix pronto na tv. Achei que a vela era um pouco demais e apaguei-a.

Sobre a mesa de centro, coloquei dois copos grandes com gelo e uma tigela com salgadinho. Sentei-me no sofá em algumas posições diferentes e me filmei com o celular para ver como seria a visão dele. Fiquei com vergonha de mim mesma e acabei excluindo o vídeo antes de terminar de assistir.

Eu daria um rim por uma dose de tequila agora, mas fiquei com receio de que ele sentisse meu hálito de álcool e me contive. Para distrair a cabeça e parar de acender e desligar a vela enquanto me decidia se era ou não forçar um clima mantê-la acesa, resolvi adiantar o trabalho do dia seguinte enquanto o aguardava.

Quando ouvi as batidas na porta, larguei o notebook sobre a mesa de centro e apaguei a vela uma última vez antes de ir encontrá-lo.

— Oi.

—  Nossa, isso tá perfeito. — Ele disse ao correr os olhos pelo apartamento. — Isso é cheiro de lavanda?

— Sim. Eu havia acendido uma vela, mas apaguei porque pensei que poderia ficar romântico demais. — Me arrependi assim que concluí a frase. Ele pareceu surpreso com a minha resposta, mas sorriu gentilmente. Dei espaço para que ele passasse e fechei a porta.

VizinhosWhere stories live. Discover now