capítulo 4

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GABRIEL

Terminei borrifar perfume e coloquei um boné para trás. Escolhi uma blusa simples (sem estampa) e uma bermuda de tecido.

Fabinho tava enchendo o meu ouvido pra ir nesse jantar, mesmo a gente fazendo churrasco todo fim de semana.

Mesmo não entendendo a motivação, resolvi confiar no meu primo e na namorada doida dele.

Minha mãe pousou mais cedo vindo de São Paulo, a Dhiovanna já está acampada aqui a uma semana e o meu pai não pôde vir pois teve que viajar.

Hoje o dia foi menos corrido depois do treino, gastei minha horas ampliando a próxima coleção da minha marca e em contato com os caras do rap que me convidaram para um festival que vai ocorrer esse fim de semana.

E para combinarmos possíveis novas colaborações musicais, minha assessoria detesta mas eu gosto de fazer o que me deixa bem.

Tô nem ai pro que os outros vão pensar.

—bora Dhiovanna! Vou te deixar para trás—gritei pela última vez, senhora Lindalva veio da cozinha dando risada, sentou no encosto do sofá fazendo um carinho na minha cabeça.

—você ainda não aprendeu a ter paciência né criatura—dei uma risada sem graça e me concentrei em um ponto fixo no chão sentindo aquele puxão no peito que me acompanha desde ontem.

Uma sensação agoniante para caramba que eu não sei como me livrar.

—aprendi a ser bravinho com a melhor—ela revirou os olhos e deu um tapa no meu boné virando ele, arrumei e ficamos em silêncio de novo, eu respirei fundo e me encostei no sofá.

—filho está tudo bem?—ela perguntou segurando a minha mão e me obrigando a olhar em seus olhos, sempre dava certo para tirar informações que eu não queria dar.

Tratei logo de desviar a conversa fingindo que tinha chegado uma mensagem importante no telefone.

—claro, por que não estaria?—ela assentiu bem devagar e eu fui salvo pela minha irmã que desceu toda atrapalhada, já toda maquiada e com um vestido preto com recortes—finalmente hein garota, vambora!—me levantei pegando a chave do carro.

Não gosto muito de andar com motorista dirigindo para mim, mas a noite no Rio de Janeiro anda perigosa e precisamos de segurança.

O caminho até a casa do Fabinho foi rápido graças a colaboração do trânsito, quem nos recebeu foi a Lívia com um sorriso bem grande no rosto.

—qual foi branquela—abracei ela meio de lado bagunçando a cabeleira loira.

—chegou o insuportável, tava demorando—fiz careta e a mulher deu risada, sempre tivemos essa intimidade de brincar.

Cumprimentei meus outros parentes e alguns amigos nossos que estavam ali também.

Fui para a cozinha ajudar na parte que eu entendo: as bebidas. E tentar roubar comida antes do jantar que eu já estava vendo que ia demorar de sair.

Tava todo concentrado cortando limão e pegando as taças mais bonitas da Lívia para pirraçar ela, quando meus movimentos paralisaram.

Foi como se o mundo tivesse sido silenciado

Achei que estava ficando louco quando senti aquele perfume doce vindo de longe e meu coração disparando que nem bateria de samba.

Meu ouvido ficou cada vez mais aguçado e prendi a respiração quando me encostei na porta saindo para o corredor.

Vi a Maria Júlia entrar pela porta sendo recebida pela minha mãe e irmã, as três abraçadas e sorrindo.

Insônia | Gabriel B.Where stories live. Discover now