Capítulo 5 - Um momento entre irmãos

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- Mas a porta já voltou ao normal, então não precisa pensar muito nisso. Do jeito que você é inteligente, continuar pensando nisso vai fazer sua cabeça pegar fogo igual daquela vez. -

- Foi você que colocou fogo em mim daquela vez! -

Camilo exclamou irritado enquanto me empurrava, me fazendo rir enquanto eu me lembrava de um dos melhores dias da minha vida. Eu tinha feito uma pergunta complicada de matemática pro Camilo, mas ele ficou pensando tanto na resposta que a cabeça dele começou a queimar com tanto raciocínio, mas na verdade eu apenas coloquei fogo no cabelo dele sem ninguém ver, e essa lembrança me fez rir ainda mais.

- Você ficou desesperado! Correndo de um lado pro outro feito um louco tentando apagar o próprio cabelo! Foi incrível! -

Eu comecei a rir ainda mais enquanto Camilo batia no meu braço e me encarava com uma expressão irritada. Eu finalmente parei de rir depois de mais alguns segundos, limpando algumas lágrimas dos meus olhos enquanto Camilo simplesmente se levantava com raiva e então começava a ir embora.

- Calma, hermano. Não vai ficar irritado comigo só por causa de uma piada, né? -

- Piada?! Você literalmente ateou fogo no meu cabelo! -

- Eu sei, mas foi só uma brasinha, e você lembra o que aconteceu depois? Mamá brigou tanto comigo que eu quase saí voando no tornado que ela fez, e depois o papá me colocou de castigo por um mês! Nós dois nos ferramos naquele dia... -

Eu olhei pra baixo novamente, suspirando pesadamente enquanto me lembrava da bronca que levei dos meus pais naquele dia, também me lembrando dos olhares que recebi dos aldeões nos dias seguintes e dos sussurros insuportáveis deles. Camilo riu um pouco, provavelmente se lembrando de alguma coisa que já fizemos juntos, e então disse:

- Nós erámos duas pestes quando a gente era mais novo. O pessoal da aldeia até nos chamava de gêmeos do mal, não é? -

Eu suspirei profundamente antes de encarar Camilo com um olhar irritado e então responder:

- Não. Eles me chamavam de gêmeo do mal, e ainda me chamam! Mas como você não se importa com o que os outros dizem então você nem percebe! -

- Isso não é verdade! Eu me importo com o que você diz. -

A primeira parte da frase de Camilo saiu forte e irritada, mas a segunda parte saiu bem mais suave e carinhosa enquanto ele se aproximava e então se sentava do meu lado de novo. Com um sorriso leve e sarcástico, eu respondi:

- Tá bom, eu vou fingir que acredito. -

- E por que você se importa? Você seria bem menos mal-humorado se você se importasse menos com o que as pessoas dizem de você. -

- Não é tão fácil quanto parece, sabia? Você tem noção de como é ser odiado pelas pessoas e nem saber por que elas te odeiam?! Se não, eu respondo: é horrível! -

Eu exclamei com raiva enquanto me jogava para trás e então me deitava, uma expressão amarga e melancólica decorando meu rosto.

- E o pior de tudo é justamente não saber por que as pessoas te odeiam... É horrível, simplesmente horrível... Mas vamos mudar de assunto, já chega de melancolia por um dia, eu- ah! -

Eu fui interrompido por Camilo acertando meu próprio travesseiro no meu rosto, não me deixando sequer entender o que estava acontecendo antes de me acertar de novo. Na terceira vez, eu usei minha Super Velocidade pra roubar o travesseiro da mão de Camilo e então tentei acertá-lo direto na cara, mas ele se transformou em um rato e começou a correr pela minha cama enquanto eu tentava acertá-lo. Eu usei minha Super Velocidade de novo pra segurar Camilo e então jogá-lo pra cima pra ele não ter como fugir, mas ele se transformou em um tucano e então começou a voar pelo meu quarto.

- Ei! Isso não é justo! -

Eu exclamei com um sorriso animado no rosto antes de atirar meu travesseiro na direção de Camilo, mas ele conseguiu desviar facilmente enquanto gritava "Errou!". Antes mesmo que meu travesseiro caísse no chão, eu o peguei usando minha Super Velocidade e então atirei em Camilo mais uma vez, repetindo esse processo mais quatro vezes antes de falar:

- Tudo bem! Agora é tudo ou nada! -

Ainda com um sorriso animado no rosto, eu me transformei num falcão e comecei a perseguir Camilo através do meu quarto, mas ele também se transformou num falcão e continuou fugindo de mim. Eu o perseguir através dos loops e curvas da pista de corrida do meu quarto em um pega-pega aéreo, mas no momento em que consegui alcançá-lo, Camilo voltou pra forma humana e fez nós dois cairmos enquanto eu também voltava pra forma humana. Camilo caiu de costas no chão e eu caí bem em cima dele, ambos eu e ele rindo sem parar onde estávamos até ficarmos sem ar.

- Tá legal, isso foi divertido... -

Eu disse ainda um pouco ofegante de tanto rir, começando a rir de novo, mas apenas algumas risadas fracas dessa vez. Tão ofegante quanto eu, ou talvez um pouco mais, por causa da corrida, Camilo perguntou:

- E aí? Tá se sentindo melhor? -

Eu saí de cima de Camilo e então me sentei me apoiando com as mãos no chão, Camilo se jogando pra frente e se sentando logo em seguida. Com um sorriso leve no rosto, eu respondi calmamente:

- Sim... Obrigado, eu tava mesmo precisando disso, principalmente depois do que aconteceu na praça... E da minha "conversa" com Isabela... -

- Falando da praça, a Dolores quase descobriu que você tem mais de um Dom naquela hora. -

Eu olhei pra cima e respirei fundo enquanto me lembrava da raiva que o Camilo me fez. Se a Dolores não sabia de nada antes, depois daquele ataque de raiva ela com certeza suspeita agora, mas ela não falou nada sobre isso. Pensando nisso, eu olhei pra Camilo e respondi:

- Ela já deve saber, e eu aposto que já faz um bom tempo. Você não é exatamente o melhor em guardar segredos. Você deve ter aberto o bico em algum momento sem perceber e ela acabou ouvindo. Como sempre. -

- Eu sou bom em guardar segredo. -

- Até parece. Se você descobrisse que a Mirabel tá, sei lá, em uma das visões do tio Bruno, você ia contar isso pra primeira pessoa que visse em menos de 10 segundos, e isso já é muito pra você. -

- Eu tô guardando o teu segredo até hoje. -

- É justo. Agora levanta, a gente tem que ir. -

Eu disse enquanto me levantava e caminhava até minha cama, pegando minha ruana e então a vestindo antes de olhar pra Camilo, que me olhou confuso e então perguntou:

- Ir pra onde? -

- Pra cerimônia, inteligência! Você não tinha dito que a cerimônia do Antonio tava quase começando? -

Eu perguntei retoricamente enquanto caminhava até Camilo e oferecia minha mão pra ele, ajudando meu irmão a levantar enquanto dizia:

- A gente pode descobrir porque as pessoas me odeiam amanhã, tá bom? Bora logo. -

- Tá. -

Depois disso, eu e Camilo saímos do meu quarto e fomos ficar com a mamá, o papá e a Dolores. Eu tô louco pra ver o Dom e o quarto do Antonio, e com certeza todo mundo vai amar o Dom e o quarto dele tanto quanto meu hermanito vai amar. Eles têm que amar, ou então o que aconteceu comigo vai acontecer de novo, só que dessa vez com o melhor Madrigal de todos, e eu não vou deixar meu hermanito se sentir do mesmo jeito que eu me sentir na minha cerimônia, nem que tenha que resetar o universo pra isso.

Olá. O próximo capítulo vai ser grande porque vai contar a cerimônia do Antonio inteira de uma única vez. Estou avisando previamente por desencargo de consciência mesmo, mas talvez eu possa dividir a cerimônia em duas partes caso fique grande demais. Tendo dito isso, passar bem, caro leitor, e até a próxima.

Eu voltei.

O Gêmeo Maligno - PausadoWhere stories live. Discover now