XVI - A SAUCERFUL OF SECRETS (1968)

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1968. Um puta ano para o rock psicodélico.

Tivemos Electric Ladyland, do Jimi Hendrix. A estreia do Steppenwolf. Os Mutantes pegaram o cenário musical brasileiro de surpresa. O White Album, dos Beatles, é lançado. E onde o Pink Floyd fica nessa história toda?

A Saucerful of Secrets tem bastante história para contar. Sério. É o primeiro marco na história do Pink Floyd, e talvez seja o que definiu o rumo que a banda iria tomar ao longo dos anos. Era uma aposta ousada. Se desse MUITO certo, o Floydão ainda seria uma banda inteiramente psicodélica, se desse errado, a banda morreria na praia. Simples assim. Como podemos observar, não foi nem um, nem outro. 

Mal lançaram o disco anterior, The Piper at the Gates of Dawn, e coisas já começaram a dar errado em diversos sentidos. Primeiro, eles lançaram em uma janela de tempo disputada (Ahem, quase simultaneamente com o Sgt. Peppers), e segundo, o destino daria um migué neles. Tendo feito uma breve turnê pelos EUA e Reino Unido, o Pink Floyd retornou aos estúdios cerca de 1 mês depois do lançamento do disco de estreia para já dar início aos trabalhos do próximo álbum...

Tudo ia muito bem, muito bonito, até eventualmente aparecer a necessidade de emplacar um single outra vez. Tanto Arnold Layne quanto See Emily Play eram canções maravilhosas, contudo, a gravadora não iria esperar até a próxima bolacha. Nessa brincadeira, surgiram Apples and Oranges, juntamente com seu lado B, Paintbox. Esses singles foram fora da curva sonora estabelecida anteriormente, soando extremamente normais para os padrões floydianos. Ambos os singles floparam mais que Fallout 76, e a capacidade do Syd em escrever algo decente estava desaparecendo rápido. Muito rápido.

Antes de continuarmos, gostaria de abrir um parênteses. O que estava acontecendo com nosso caríssimo Syd Barrett? Coisa boa definitivamente não era. No período da curtíssima turnê, notava-se que ele simplesmente ficava fora de si no palco, olhando para o nada por longos minutos. Eventualmente, shows e aparições na TV foram sendo cancelados, até culminar na entrada de um quinto membro para substituir o Barrett quando ele ficava incapaz de tocar. Esse quinto membro era ninguém mais ninguém menos que David Gilmour, ou como prefiro chamá-lo nessa época, Dave Bonito (sério o bicho era um sonho, na dúvida é só pesquisar).

Em um primeiro momento, Dave Bonito estava ali para continuar tocando quando o Syd parava, assim permitindo que as situações ficassem um pouco menos constrangedoras. Como provavelmente a coisa não ia melhorar muito mais do que isso, os espertinhos decidiram que seria uma boa ideia deixar o Barrett compondo em casa, de boas, longe da psicose que é a vida pública. As gravações para o Saucerful começaram, quase que sem o sydão. Vez ou outra ele aparecia para contribuir com algo. Os esforços dele resultaram em músicas que soam muito felizes quando você não repara na letra (vou falar delas quando formos comentar da tracklist). 

Em janeiro de '68, foi decidido que seria melhor deixar o Syd para trás. Literalmente. A banda ia fazer um show na Universidade de Southampton, e já estavam todos enfiados na vanzinha, espremidos entre os instrumentos, até que alguém perguntou: "E o Syd?"

Não se sabe qual dos quatro espertinhos respondeu. 

"Não vamos nos incomodar com isso."

E assim, Syd Barrett foi kikado do Pink Floyd, sem pompa, muito menos circunstância. Apesar de ter sido uma "expulsão bonitinha e indireta", foi triste, pois todos os membros o conheciam de longa data, especialmente o Gilmour e o Waters. Havia um enorme sentimento de culpa, tão grande que jamais abandonou a banda, como se fosse uma espécie de trauma.

Trauma esse que em acabou por moldar a identidade do Pink Floyd mais a frente, abordando não apenas a psicodelia, como também o contexto mental como um todo.

Análise de (quase) toda a discografia do Pink FloydOnde as histórias ganham vida. Descobre agora