VI - ANIMALS (1977)

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O que acontece quando uma fábula aparentemente infantil é usada como plano de fundo para uma metáfora sobre o comunismo? Bom, essa é a "Revolução dos Bichos", uma fábula satírica que virou uma distopia cabulosa e memorável nas mãos do Pink Floyd. Esta ideia aparentemente maluca se provou um plano de fundo perfeito para testar alguns conceitos e estilos de gravação novos, além de ser a resposta da banda á crescente tendência do rock a se tornar cada vez mais pesado e agressivo. Era o final dos anos 70, e o progressivo como gênero musical estava em uma encruzilhada não muito bonita.

Ou as bandas aceitavam o sumiço de seu estilo em silêncio, ou elas se desmanchavam na esperança de nascer de novo.

Para o Floyd, a primeira opção parecia impossível. Por isso, eles concordaram em mudar a abordagem de seu novo disco. Nada de sucessos imediatos para o rádio, nada de produção limpinha e imaculada, tampouco uma temática amigável ás gravadoras. Muitos fãs oriundos do hype criado pelo Dark Side of the Moon e do Wish You Were Here ficaram desapontados com o novo projeto, e houveram aqueles que nem sequer escutaram o disco, indo somente aos shows para ouvir WYWH ao vivo. A abordagem diferente fez um estardalhaço considerável, que cresceu com o passar dos anos.

Animals está em segundo lugar no meu top 10 do Floyd, perdendo somente para o Meddle. Mas por quê? É um álbum que pode facilmente passar batido, espremido no meio de duas obras-primas, e ainda sim, tende a eclipsar suas "rivais" de vez em quando. Como? Oras, pegue um café e vamos pensar um pouco.

Primeiramente, por que Animals existe? É óbvio, eles precisavam continuar fazendo bons discos para saciar a sede dos fãs, mas também para evitar a morte do gênero que haviam ajudado a popularizar. Era uma luta por sobrevivência em um mundo onde forças vindas de todas as direções tentavam incansavelmente destruí-los. Para ser mais exata, estamos falando da Inglaterra de Tatcher, onde o punk corria solto e sem controle algum, quando a Guerra Fria estava dando seus primeiros sinais de término. Foram anos loucos, e eles aparentemente sucumbiram sob a pressão, tanto que deram as costas para a imagem que criaram em 1973. Era como se eles fossem o leitãozinho fofinho que todo mundo ama tirar foto e bendizer. Só que um dia, o bichinho cresceu, virando um porco raivoso e com presas colossais.  

Para ter um pouco de liberdade, o Pink Floyd construiu seu próprio estúdio de gravação, abandonando o solo sagrado de Abbey Road. Isso rendeu algumas vantagens para o Animals em questão de produção. O estúdio, Brittania Row, acabou sendo o lar desde e do próximo álbum, e graças a alguns de seus recursos, conseguia capturar perfeitamente a sonoridade mais escura que nossos espertinhos procuravam. É claro que abandonar o lendário estúdio que gravou a maior parte da discografia dos Beatles era visto com maus olhos na época, mas essa era a intenção. Se afastar da imagem antiga. 

Voltando ao disco em si, pode-se ver que aqui eles, ou melhor o Roger, aponta suas armas para todos, e nos apresenta uma visão crua e incrivelmente honesta da nossa sociedade, pegando seus aspectos fundamentais e escancarando o que ninguém acredita existir. A universalidade aqui não é usada para transmitir sua mensagem ao máximo de pessoas o possível, como em Dark Side, mas sim para nos revelar as imutáveis verdades do mundo onde vivemos. As coisas não são tão intimistas quanto no The Wall, e aqui não temos exatamente uma história ou linha de pensamento tangível. O que temos é um panorama onde trocamos constantemente da segunda para a terceira pessoa, onde ora somos o observador em ambas as partes de Pigs on the Wing ou apenas mais uma engrenagem desse doentio sistema, como nas outras músicas. Aqui não existe uma pausa entre as partes mais agressivas. A calma só existe em duas minúsculas músicas, e o resto não te perdoa.

Agora que já apresentei a introdução, vamos começar antes que esfrie. Primeiro, a arte, como sempre. Nesse quesito, muita gente acha o Animals simples aos níveis dos álbuns iniciais da banda, faltando um tchan que só o Floyd tem. O surreal está aqui, mas não com a roupagem que estamos acostumados a ver. A capa do disco é icônica justamente por essa nova estratégia usada pela Hipgnosis para demonstrar que o mundo já é um absurdo e que o surreal é relativo. O porco voador que aparece na capa se chama Algie, e ele tem uma história MUITO peculiar....

Análise de (quase) toda a discografia do Pink FloydWhere stories live. Discover now