XV - MORE (1969)

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A primeira trilha sonora feita pelo Pink Floyd, caros leitores!

Agora estamos a dois álbuns de distância do fim dessa colossal coletânea de análises. Obviamente, todos os agradecimentos e notas finais ficarão para a análise do primeiro disco da banda, mas até lá, temos que conversar mais um pouquinho sobre as peculiaridades achadas bem no comecinho da era pós-Barrett.

Não se deixe enganar pelas aparências ou opiniões que se vê por aí na internet. More é um álbum cheio de historinhas para contar, além de segurar uma boa parte do Relics. E é aqui que descobrimos o que iria fazer o Ummagumma dar tão errado... As duas trilhas sonoras da banda estão em posições bizarras, e tendem a serem deixadas de lado por não terem peso na discografia, porém, a doida varrida aqui fez questão de dar igual importância, e descascar essa laranja azeda para a apreciação de vossas senhorias.

Antes de seguirmos com nosso roteiro de sempre, é importante comentar a história por trás desse carinha aqui. Gravado bem no início de 1969, More pegou top 10 nas paradas inglesas em seu lançamento, contudo, recebeu reviews mistas. O lance da recepção morníssima é algo que se manteve consistente ao longo dos anos, e sim, o disco não é lá grande coisa, mas há coisas para se aproveitar aqui. More é o nome do filme do qual o disco é a trilha, e diga-se de passagem, é só mais um filme obscuro sobre psicodelia e outros conceitos comuns nos anos 60, e fora esquecido por todos, exceto alguns floydianos mais curiosos, que queriam ver onde e como cada música se encaixava dentro da obra cinematográfica.

Por falta de tempo devido á faculdade, eu acabei não indo atrás do filme, tal como fiz na análise do Obscured by Clouds. More se provou como um belo dum improviso, sendo o primeiro disco da banda sem o Barrett (mais dele lá no Saucerful), fora que tudo aqui é mais honesto e bem trabalhado do que no Ummagumma. Para um disco que foi gravado em menos de 1 mês, me impressiona horrores que ele acabou soando bem melhor e mais divertido de ouvir do que o outro disco lançado no mesmo ano, vulgo "as quase 2 horas mais mal gastas da minha vida". 

A experimentação com outros gêneros (incluindo o rock mais pesado e o folk inglês), permitiu ao More a exclusividade de poder se deixar errar, ao contrário do Ummagumma. Por ser uma trilha sonora de um filme obscuro, estaria tudo bem se algo desse errado, afinal, naquela época as trilhas eram apenas formalidades da gravadora, e passavam batido por natureza. Isso deu uma vantagem ao disco. Agora sem o Barrett, eles precisariam de dar um jeito para testar o máximo o possível e descobrir um novo som que funcionasse com o Pink Floyd. Bom, eu creio que deu parcialmente certo.

Parcialmente, porque o outro disco de '69.... Já sabe, né?

A arte em More, tal como o Ummagumma, se limita mais á capa. No livreto que vem junto com as edições em CD, temos cenas do filme, porém, não há o mesmo cuidado e atenção que vimos em Obscured. A capa é legalzinha, e seria interessante comentar sobre ela. Como sempre, é uma arte da Hipgnosis. Na imagem, temos dois personagens do filme correndo e se pendurando em um moinho de vento em Ibiza. Contudo, ela não é uma mera foto. Os efeitos psicodélicos que vemos foram obtidos através do processamento da foto em uma sala escura. Eu gosto do laranja e do azul, e são cores que combinam uma com a outra. É bem diferente se comparada com o restante do catálogo da banda. 

Mas chega de enrolação. Tracklist:

- Cirrus Minor

- The Nile Song

- Crying Song

- Up the Khyber

- Green is the Colour

- Cymbaline

- Party Sequence

- Main Theme

- Ibiza Bar

- More Blues

- Quicksilver

- A Spanish Piece

- Dramatic Theme

Muita música, não? Então... O lado A é basicamente a nata do disco, já o lado B é quase todo instrumental, a única exceção sendo Ibiza Bar. É um álbumzinho divertido de se ouvir, mas desanda feio nas últimas 3 músicas. O lado A foi simplesmente uma belezinha de ouvir, e eu me diverti o suficiente para sair cantalorando junto. É uma viagem na maionese mui agradável, diga-se de passagem.

Destaques vão para The Nile Song, Green is the Colour e Cymbaline, que virariam queridinhas nas apresentações ao vivo na época antes do Dark Side. A primeira música é o exemplo perfeito de que o Pink Floyd é bem capaz de compor coisas mais pesadas do que o normal (para os anos 60) sem soar igual ao que já existia. É um rock pesadinho e caótico que soa como novidade para os ouvidos de qualquer um acostumado com a sonoridade da banda.

Green is the Colour e Cymbaline.... Sou extremamente suspeita para falar das duas. Eu AMO ambas. São músicas muito boas, especialmente Cymbaline, que até hoje é comentada por sua atmosfera um tanto sinistra e letra marcante. Green is the Colour é adorável e doce, porém, isso pode variar de acordo com seu gosto, tal como a primeira música do disco (Cirrus Minor, e já falamos sobre ela em Relics). Essa música é uma das minhas favoritas, e está na playlist que uso para ficar folheando páginas e mais páginas sobre locomotivas inglesas.

Enfim, os pontos positivos estão aí. Mas e os negativos?

Oh, esses são REALMENTE negativos. A inconsistência no lado B é um tanto gritante. Como eu citei antes, as 3 últimas músicas podem estragar o disco. Eu não fui com a cada de A Spanish Piece e a última canção simplesmente me fez fechar o player de música, porém, para a integridade da análise, eu me forcei a ouvir toda essa joça, tal como no Ummagumma. O máximo que eu posso dizer é: o lado B é extremamente confuso, e é mais por culpa do filme mesmo.

Vamos lembrar que toda essa inconsistência é causada pelo fato de More ser uma trilha sonora para um filme psicodélico nonsense. Simples, todavia, ainda sendo um problema para aqueles que não curtem muito esse experimentalismo exacerbado. Em geral, o lado B é fraquíssimo quando comparado ao lado A, e esse é o maior erro desse carinha aqui. 

Fora isso, são alguns minutos bem divertidos e curiosos. Apesar do grande número de músicas, infelizmente não há muito o que falar, e isso me dói um pouco. Eu realmente apreciei meu tempo com o lado A do More, contudo, não há muito o que tirar daqui, já que se trata de uma trilha sonora mais inconsistente do que o Obscured. O que vale ressaltar é mais o início definitivo do período pós-Barrett, além do que deveria ser feito no outro álbum de '69. 

Sinto muito por não poder escrever mais.

Veredito?

6/10 - Tolerável. Forte no início, fraquíssimo no final. Se tivesse mais tempo para ser polido e não fosse tão dependente do roteiro do filme, poderia estar aos níveis de Atom Heart Mother. Triste.

Até um outro dia. 

Análise de (quase) toda a discografia do Pink FloydWhere stories live. Discover now