Christopher: Não sabemos ainda. A empregada ligou pra policia; chegou na casa e achou que estava sozinha, seguiu o fluxo e encontrou na cama. – Anahí assentiu.


Anahí: Me avise se eu puder ajudar. – Christopher assentiu. – Com licença.


O silencio naquele local era perturbador. Não que se esperasse algo diferente de um necrotério, mas todo o hospital pulsava em funcionamento, exceto ali. Era frio, estéril, cheirava a éter e a quantidade de branco machucava os olhos. Alfonso, que a esperava do lado de fora, se desencostou da parede.


Alfonso: Então?


Anahí: Não tem como saber ainda, a empregada achou ele na cama. – Disse, tranquila – Você não acha engraçada a expressão "morreu dormindo"? – Perguntou, aleatória.


Alfonso: É o que?! – Perguntou, acompanhando-a.


Anahí: Fulano "morreu dormindo". Eu não acho que tenha como morrer dormindo. – Devaneou, caminhando – Acho que você desperta antes de morrer. Então o certo seria "morrer na cama". Ninguém corrige esses termos. – Comentou, dispersa.


Alfonso: Porque você está assim? – Ela o olhou.


Anahí: Assim como? – Perguntou, olhando-o. Parecia hesitante.


Alfonso: Já vi você perder pacientes diversas vezes. Você se retrai. – Ela assentiu.


Anahí: Quanto mais tempo eu passo perto da morte, mais ela se torna vida. É um paradoxo interessante. – Aceitou.


Alfonso: Mas você está... Se divertindo, com isso. – Apontou. Ela franziu o cenho – O cara com quem você passou uma fatia boa da vida morreu e você riu ao saber.


Anahí: Queria que eu tivesse chorado? – Perguntou, de novo com o sorriso afetado.


Alfonso: Não, só estou estranhando.


Anahí: Eu chorei pelos meus mortos, Alfonso. – Comentou, andando tranquila – Chorei demais quando Guille morreu. Chorei por uma semana inteira quando minha mãe morreu. – Recapitulou - Chorei pra dormir por meses quando foi meu pai. Chorei dias quando foi meu padrinho. Choro por dentro até hoje pelo nosso filho. Cada um deles foi pranteado a rigor. – Garantiu.


Alfonso: Sei disso. – Ela assentiu.


Anahí: Mas Arthur... Eu só me sinto bem. – Admitiu, tranquila – Não posso ter remorso por não me sentir triste por uma pessoa que no fundo nunca me fez bem. Estava tornando minha vida mais impossível depois do pedido de divórcio. – Pensou, parecendo leve ao caminhar – Não posso dizer que vou sentir saudades.


Alfonso: Ok. – Aceitou, assentindo.


Anahí: Estou vivendo um período da minha vida onde meu mundo está literalmente no meu umbigo. – Ele sorriu de canto, olhando a barriga dela de soslaio – Não vou deixar Arthur fazer sombra nisso. Pelo contrário, vou dormir melhor sabendo que ele não vai aparecer dando xilique na minha porta no meio da noite. – Concluiu.


A noticia da morte de Arthur foi recebida com surpresa pelo corpo hospitalar. Era jovem, forte, sadio, ninguém esperava. Anahí, por sua vez, seguiu seu dia fluidamente (e exigiu sua rosquinha, porque ela não havia esquecido). Alfonso deixou o assunto pra lá ao vê-la comer com uma expressão de puro prazer, lambendo confeito do dedo.


Anahí: Ele está bem ai? – Perguntou, ansiosa. Era fim de tarde, e ela tinha consulta de rotina. – Eu fiz tudo certinho. – Ele beijou o cabelo dela.


MientesWhere stories live. Discover now