Capítulo 13

664 28 9
                                    

-Vai ficar tudo bem. -Disse baixinho enxugando as lágrimas dele. Ilgaz puxou as duas mãos dela para sua cabeça e se encolheu, como se só Ceylin pudesse protegê-lo. -Já cuidei de tudo, não precisa se preocupar com nada.

-Ele fez mal para você, fez para mim também, mas ele era meu pai. -Ceylin balançou a cabeça.

A coisa mais louca de sua vida acontecia, ela desejava que Metin jamais tivesse morrido. Ele vivo evitaria que seu marido, cunhada e filhos sofressem. As crianças.... seria a primeira vez que lidariam com a morte tão de perto, apenas duas semanas atrás estavam com o avô, agora ele tinha ido e nunca mais voltaria. Era difícil entender e explicar coisas assim.

Ceylin levantou assim que Ilgaz pegara no sono, foi checar Defne que também estava em casa. A madrugada inteira os dois estiveram à beira do leito de Metin, esperando que alguma espécie de milagre acontecesse. Ele merecia um milagre? Ela se perguntava. Ilgaz passou tanto tempo longe do pai por ela, talvez ele lhe culpasse por isso futuramente.

Pensar em tantas coisas que aconteciam ao mesmo tempo lhe causavam náuseas, era a segunda vez que vomitava àquela manhã. Esperava que a maldita fase dos enjoos passassem logo. Mas enquanto não passavam, vomitava escondida para que Ilgaz não escutasse.

-Ceylin. -Defne chamou e foi andando até os braços dela. Ceylin envolveu em seus braços e a apertou.

-Você quer comer algo? -Beijou-lhe a testa. -Faço qualquer coisa para que você e seu irmão comam um pouco.

-Não quero. Só quero um abraço. -Ceylin deu um sorriso e a apertou mais ainda.

Defne era como sua primeira filha, por muito tempo ela ficou sob os cuidados de Ilgaz e da advogada. Só após a adolescência resolveu voltar a morar com  o pai e a tia. Defne era esperta, gentil e muito carinhosa. Muitas vezes, nas apresentações de escola, levava Ceylin e dizia que era sua mãe. A advogada sentia falta daquela proximidade.

Voltou para o quarto e assim que entrou Ilgaz abriu os olhos:

-Por que você saiu? -Era uma queixa, muito mais que uma pergunta. Ele abriu os braços e ela voltou para cama, direto para os braços dele. -Não saia do meu lado.

-Fui verificar Defne. -Se desculpou.  Ela circulava os dedos no couro cabeludo do marido, numa leve carícia. -Não quer comer?

-Não consigo. -Respondeu. -Queria as crianças....

-Precisamos conversar sobre como contaremos. É a primeira vez que passarão por isso, pode ser estranho.... -Ilgaz concordou. -Você quer que os traga para o enterro?

-Não. -Respondeu. -Explicaremos em casa e eu os levarei para visitar depois.

-O que você está sentindo? -Ilgaz balançou a cabeça, não sabia explicar.

-É estranho não ter mais uma mãe ou um pai, é como se algo tivesse acabado em mim. -Suspirou. -Mas meu pai já tinha desistido da vida há muito tempo. O tormento dele acabou, espero que ele esteja em paz ao lado da minha mãe e que os pecados dele tenham sido perdoados.

Ela balançou a cabeça. Diferente do que muita gente pensaria, realmente esperava que a alma de Metin estivesse em paz.

Era estranho estar lá, principalmente após a inimizade declarada de anos, mas ela estava lá por seu marido. Ceylin organizou tudo, até os mínimos detalhes. Não deixou Ilgaz um minuto sozinho e, quando se afastava apenas um pouco, sentia como seus olhos chamavam por ela. 

Ao voltar para casa sabia que Ilgaz precisava de um tempo com a outra parte da família. Ele foi e ela buscou as crianças, que com certeza sabiam que algo acontecera, apenas não sabiam o quê. Não paravam de perguntar pelo pai, nem de andar atrás de Ceylin para todos os lados.

SEE RED -IlceyWhere stories live. Discover now