Capítulo 2

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Ele recolhia as roupas do chão com uma certa pressa, inevitavelmente Ceylin sentiu-se triste. Ele estava obviamente arrependido e ela devia se sentir da mesma forma, mas não.

-Você toma remédio, não é? -Questionou.

-Bom, não. Mas posso tomar a pílula.

-Estou indo para casa. -Pegou o sobretudo caído no chão. -Isso aqui não aconteceu, Ceylin. Não estava com a cabeça no lugar quando resolvi vir até aqui.

-Ótimo. -Respondeu zangada, entrando em seu roupão novamente.

-Vamos lá, não se comporte como se tivesse sido usada. -Ele parecia ter algum problema para vestir o sobretudo, talvez o nervosismo. -Tome seu remédio e, se possível, suma da minha vida.

-Por que está com tanta raiva de mim? -Gritou com ele, uma raiva incontrolável tomou conta dela. -Foi sua familia que acabou com a minha, foi você que preferiu eles do que eu. É tudo você, Ilgaz!

-Çinar precisava de ajuda. -Se defendeu gritando de volta. -No fim foi provado que ele agiu em legítima defesa.

A forma como aquela discussão veio à tona de repente, talvez pudesse ate soar engraçada para um espectador, mas nos dois era como se algo estivesse rasgando.

-E por isso ele precisou sumir com o corpo do meu pai? -Perguntou entre lágrimas. -Por isso meu pai não pôde ser enterrado com dignidade? Por isso eu.... Já chega. Entendi que meus sentimentos sempre estão abaixo do dos outros para você.

-Ceylin.... eu sinto muito por tudo isso.

O coração dele ainda doía por qualquer lágrima dela. O sentimento de que preferia morrer que vê-la chorar continuava tão forte quanto perturbador.

-Vou sumir da sua vida, promotor. -Caminhou para a porta do quarto e apertou a mão contra a maçaneta. Toda dor emocional estava sendo transferida para a forma como ela apertava aquele pedaço de metal. -Você tem razão, desde que apareci para você só trouxe desgraça. Esse caso será a última vez que terá notícias de mim, estou disposta a abrir mão do escritório.

-Está fazendo sacrifícios por mim agora? -O sarcasmo na voz dele deixou evidente em que pé estavam as coisas. Algo foi rompido para sempre.

-Eu já fiz o maior sacrifício por você... -Girou a maçaneta e abriu a porta. Ilgaz passou rapidamente por ela, mas enquanto ele ainda caminhava ela disse: -Te deixei ir mesmo sendo tudo que eu mais amava. Amava mais do que me amava.

O som da porta fechando em suas costas causou algo no corpo de Ilgaz, era como se voltasse a si após horas fora de órbita. Ter beijado-a, feito amor com ela, sentir o cheiro e o calor do corpo dela, tudo tinha sido surreal. Era como se estivesse em um dos muitos dos sonhos que esteve nos últimos dois anos, e nos pesadelos também.
Ceylin estava do outro lado da porta, disse que o amava, mas era muito mais que uma porta entre os dois. Entre eles haviam mundos, abismos e montanhas. Descobrira porque davam nome de pessoas a furacões. Ceylin era o seu furacão, e ele corria constantemente para o olho.

Conteve o impulso de bater novamente na porta, entrar e mais uma vez fazer amor com ela. Para ambos, o melhor era parar enquanto ainda tinham controle. Tudo se descontrolava rápido demais quando estavam perto um do outro.
Ceylin sentou no chão, encostada a porta. Seu coração dizia para chamá-lo antes que ele fosse, mas sua raiva e consciência diziam que deveria manter distância de Ilgaz. Ele estava ferido, ela sabia, mas desde que se reencontraram tudo que Ilgaz parecia disposto a fazer era machucá-la.

Amanhã poderia dizer que estava arrependida, mas o sentimento tinha muito mais a ver com tristeza que com arrependimento.

**
-Irmão, ao menos disfarce. -Cutucou Eren.

SEE RED -IlceyOnde histórias criam vida. Descubra agora