Trinta e seis

1.9K 205 131
                                    


— Eu preciso te contar algo.

Certo. Lá vem bomba. Por que raios Maiara sempre fazia isso?A maior piscou lentamente e subiu sua calça, a deixando aberta ainda.

— Então conta — Marília disse, vendo Maiara rir sapeca.

— Eu quase gozei junto com você — confessou, mordendo olábio inferior.

— Maiara! — Marília repreendeu com veemência, se virando ligeiramente apenas para empurrar levemente os ombros da menor. — Pensei que fosse algo sério. Que susto!

— Desculpe — Maiara riu baixinho, sentindo-se mais nervosa do que o normal de repente. — Lila?

— Hm?

— Não era isso que eu iria contar, apenas perdi a coragem — disse em um suspiro.

— Então do que se trata? — Marília perguntou e Maiara desviou os olhos para a chuva.

— Eu, huh... — Exalou o ar de seus pulmões e fitou intensamente Marília. — Olha, eu te contei que não tenho mais onde morar; te contei que apanhei, então não tenho por que te esconder nada.

— Maiara, você está me preocupando — Marília disse, se virando mais para a menor.

— Eu não sou mais uma adolescente boba e por isso eu vou ser bem sincera aqui. Por favor, só não me odeie ou se afaste de mim, eu realmente adoro a sua companhia — Maiara disse, vendo Marília

assentir.

— Prometo.

— Eu me apaixonei por você, Marília.

Silêncio.

Mais silêncio.

Marília não conseguia acreditar no que seus ouvidos haviam escutado, por isto acabou ficando muda, completamente sem reação, o que deixou Maiara mais nervosa ainda.

— Eu sei que só nos conhecemos há meio mê s e que é muito cedo, mas eu tenho certeza — Maiara afirmou com veemência. — Eu não sei se foi por carência, por nunca ter tido alguém que cuidasse de mim igual você ou se apenas seu jeito completamente protetor e sério — dizia enquanto Marília ouvia

tudo atentamente. — Eu fiquei fascinada com seu jeito no início.

Maiara dizia tudo, buscando a maneira menos impactante de se explicar, mas pela reação de Marília, não tinha dado muito certo.

— Você era totalmente o oposto do que falava. Era rude em palavras, mas doce em ações — Maiara disse sorrindo de um modo terno. — Brigava comigo enquanto colocava gelo em meu rosto; resmungava baixo enquanto me oferecia de bom grado sua blusa; me olhava seriamente enquanto me oferecia algo para comer; se mostrava dura, enquanto optava por passar frio ao me ceder seu cobertor.

Marília jamais havia se visto pelo ponto de vista de outra pessoa e realmente a figura que Maiara pintou dela era bem bonita.

— Eu senti a necessidade de tentar te descobrir, te entender — Maiara disse, acariciando o rosto de Marília gentilmente. — Percebi que você reagia como um furacão quando algo te machucava, mas logo se arrependia, igual da vez que liguei o rádio e você me expulsou do caminhão. Não se passou nem um minuto até você ter ido me buscar — riu. — Também percebi que fazia isso para se proteger da minha proximidade, igual da vez que me ofendeu e eu saí do caminhão no meio da chuva, lá estava você, de novo arrependida em menos de um minuto.

— Desculpe por isso — Marília falou entortando o canto de sua boca e Maiara negou com a cabeça.

— O fator principal aqui não é esse, Marília — Maiara disse, olhando para a chuva antes de voltar a fitar Marília com toda a intensidade que havia em seu ser. — O fato é que descobri que você vive cuidando e protegendo os outros e talvez você só precise de alguém que te ame e cuide de você também; que te mostre que o mundo pode ser divertido também... — Falou com toda a sinceridade, analisando minuciosamente as expressões da loira. — E eu estou disposta a ser essa pessoa se você deixar.

Se apaixonar em alguns dias só não era mais surreal do que se apaixonar e ser correspondido. O brilho e a expectativa no rosto de Maiara fizeram Marília perceber que deveria falar algo ao invés de afundar em sua mente.

— Eu deixo — sussurrou após longos segundos em silêncio, sentindo-se quase com falta de ar.

— Deixa? — Um lindo sorriso se abriu no rosto de Maiara. — Está falando

sério?

— Claro que eu estou, Maiara. — Marília disse solenemente. — Até parece que eu diria não para a garota que habita meu coração.

Isso realmente pegou Maiara de surpresa, pois suas sobrancelhas alçaram alguns milímetros e seu sorriso quase rasgou seu rosto.

— Está dizendo que é recíproco?

— Sim — Marília afirmou, segurando a mão de Maiara que acariciava seu rosto, a levando até sua boca e depositando um beijo gentil sobre a pele dela. — Estou dizendo que isso é surreal e eu até riria se alguém me dissesse que se apaixonou em tão pouco tempo, isso se não tivesse acontecido o mesmo comigo.

— Então me dá um beijo para provar que é real? — Maiara sussurrou, inalando o cheiro dos cabelos loiros antes de ver Marília se inclinar e esbarrar seus lábios nos dela.

O toque foi suave, gentil e singelo, todavia, o coração de ambas transbordava tanta felicidade que o toque de lábios passou a ser mais profundo, ainda lento, no entanto.

— Só colocando em outras palavras para eu ter certeza: Você aceitou namorar comigo ou... — Maiara proferiu com sua boca ainda sobre a de Marília. A maior riu e depositou um beijo em seu rosto.

— Sim, Maiara. Eu aceitei. — Ah, como Marília amava aquele sorriso de Maiara. Aqueles dentes perfeitamente alinhados e aquele brilho nos olhos sempre faziam seu coração errar uma batida. — Como consegue ser tão linda desse jeito?

— Para, Lila! — Maiara pediu, afundando seu rosto na curva do pescoço da maior devido à timidez.

— Como pode ser tão sem vergonha para algumas coisas e tão tímida para outras? — Marília questionou rindo.

— Eu não sei lidar com elogios.

— Pois deveria aprender, porque eu nunca vou me cansar de te elogiar — Marília disse, olhando para a chuva, que diminuía drasticamente. — Mai?

— Sim?

— Eu te disse que não gostava de nada casual — falou rindo.

— Mas comigo começou assim. Assuma!

— Talvez no fundo eu já soubesse que você seria mais do que isso na minha vida.

Maiara sorriu bobamente e envolveu seus braços ao redor de Marília, abraçando-a.

— Talvez já soubéssemos, então.

Destino Incerto | MaililaWhere stories live. Discover now