Vinte e quatro

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— Demoraram... — Maraisa não resistiu em zombar, afinal, se Marília tinha tido a ela que convidou Maiara para um jantar deveria aguentar as consequências.

— Houve um problema com o pagamento na recepção — ela disse, vendo Maiara abrir a porta do outro lado e entrar.

As três garotas fingiram acreditar naquela mentira deslavada, afinal elas estavam mais empolgadas em comer em um restaurante. Amavam viajar com sua irmã, mas não aguentavam mais comer bobeiras, precisavam de comida de verdade.

O caminhão andou por cerca de uma hora até desviar da rodovia principal e adentrar uma pequena cidadela no Kansas. Mais vinte minutos foi o tempo que precisaram até chegarem no restaurante o qual Marília havia mencionado.

— Como conhece este lugar? — Maiara perguntou, vendo Marília estacionar do outro lado da rua.

— Já tive que fazer algumas entregas por esta cidade — e, sem dizer mais nada, desceram do caminhão, o trancando com uma pequena passagem de ar no vidro para Galfield não ficar sem ar. Marília deu a volta no veículo e parou ao lado de Maiara, seus olhos desceram para sua mão e então ela sorriu. — Posso?

Maiara sorriu tímida e assentiu, sentindo Marília entrelaçar seus dedos nos dela.

Três suspiros bobos soaram e a mulher mais alta revirou os olhos, olhando no momento seguinte para as garotas.

— Vocês não deveriam ir para qualquer lugar longe daqui? Para o inferno, de preferência.

Maraisa riu e assentiu.

— Só por isso vou pedir tudo do mais caro. É você quem vai pagar mesmo — Maraisa disse atrevida, enlaçando seus dedos nos de sua namorada e puxando Lauana pelo braço.

A risada suave de Marília penetrou os sentidos de Maiara que sorriu.

— Eu amo essas doidas — Marília confessou, se dirigindo à entrada do restaurante ainda de mãos dadas com Maiara, foram atendidas por um senhor de meia idade, que as conduziu até uma mesa um pouco distante das demais.

— Este lugar é lindo — Maiara comentou, admirando os detalhes das paredes, todas trabalhadas em uma obra de arte antiga; no centro do lugar havia um enorme lustre com luzes amareladas, no entanto, no lugar onde estavam estava mais escuro. O homem que lhes atendeu acendeu duas velas em sua mesa e lhes entregou dois Menu's de capa preta.

— Quando decidirem o que irão pedir é só apertar o botão sobre a mesa que virei em um instante. Com licença, senhoras — o homem falou e se afastou.

Maiara abriu o menu e corou; não conhecia nada do que tinha ali. Marília, por outro lado, era experiente em vários pratos ao redor do país.

— Você disse que não era chique o lugar, todavia, eu não conheço nada daqui do menu. Onde estão as batatas fritas? — Maiara brincou no final, tentando descontrair.

— Confia em mim o seu pedido? — Marília perguntou e Maiara sorriu.

— Nada cru e nada gosmento, por favor — Maiara disse rindo e fechando os olhos. — Sim, confio em você.

— Perfeito — a maior disse, chamando o rapaz e fazendo o pedido. O vinho foi o primeiro a chegar e o garçom lhes serviu na taça antes de se retirar.

— Querendo me embebedar para tirar a minha pureza, senhorita? — Maiara brincou, rindo no momento seguinte.

— É para apreciar e não para... — Marília corou e suspirou. — Quer beber outra coisa?

— Eu estava brincando, Marília — Maiara disse como se fosse óbvio e a maior voltou a corar. — Onde está a Marília séria e rabugenta que conheci?

— Eu só estava usando um escudo. Desculpe se fui muito, você sabe, grosseira — Marília falou entortando o canto de sua boca. — É que você é toda...

— Toda o quê?

— Perfeita — Marília confessou.

— Eu não sou perfeita e para que precisava de um escudo? — Maiara perguntou bebericando um pouco do vinho.

— Porque é fácil demais, bem, me apaixonar por você — disse sem olhar nos olhos de Maiara. — Eu não queria correr o risco, já que você vai embora em poucos dias.

Maiara suspirou e mordeu seu lábio interior, sem jamais colocar alguma expressão em seu rosto.

— Estou com vontade de atravessar esta mesa e te beijar — sussurrou e a loira sorriu, se levantando e se inclinando sobre a mesa para dar um beijo nela antes de voltar a se sentar.

— Então, Maiara Carla... — Marília começou, se ajeitando em sua cadeira. — O que faz na Florida?

— Bem, atualmente eu não estou trabalhando, por isso arrumei um tempo para ir visitar o túmulo da minha mãe — Maiara respondeu.

— Ela morava na Califórnia ou apenas foi enterrada lá? Desculpe se eu estiver sendo inconveniente. Só quero saber um pouco sobre você — Marília disse e Maiara sorriu-lhe fraco.

— Não tem problema. Bem, ela morava sim em San Diego. Nós não nos falávamos muito havia vários anos.

— Sinto muito — Marília disse sinceramente.

— Obrigada.

— Como se mantinha na Florida sem trabalho? Tem parentes lá?

Maiara corou e abaixou o olhar.

— Eu, huh, não tenho parentes lá. Estou desempregada há quase meio ano, tem sido um ano difícil para mim... Promete não rir?

— Por que eu riria? — Marília perguntou e Maiara voltou a corar.

— Nada. Melhor falarmos de...

— Não, me conta. Eu não vou rir — a loira se apressou em dizer.

— É que é meio embaraçoso dizer isso...

— Mai... Não precisa ter vergonha de mim — Marília disse docemente.

— Eu juntava recicláveis para vender — disse, corando fortemente, olhando para baixo.

Marília se levantou e andou até a cadeira de Maiara, se abaixando perto dela e tocando seu queixo, a fazendo lhe fitar.

— Não há nada de vergonhoso, embaraçoso ou desonroso nisso. Eu admiro muito você pelo que fazia.

Maiara sentiu uma lágrima escorrer de seus olhos e a enxugou prontamente.

— Minha mãe faleceu e me deixou uma dívida gigantesca no hospital — a menor disse, sentindo a mulher entrelaçar seus dedos nos dela e começar um carinho de leve com seu polegar. — Larguei meu serviço quando ela adoeceu e fui visitá-la, mas ela não foi muito receptiva nem mesmo doente. Ela nunca me aceitou por causa da minha sexualidade.

— E aí suponho que não conseguiu arranjar outro emprego. — Marília presumiu e Maiara assentiu.

-- Eu não tenho faculdade ou coisa assim, fica mais difícil — ela confessou. — Mas eu não vim jantar com você para falar dos meus problemas de vida.

Marília sorriu e se inclinou, tocando seus lábios nos de Maiara suavemente.

— Vim jantar com você para conhecê-la melhor e isso envolve seus problemas de vida.

— Mas eu não quero falar de coisas tristes — a menor falou, encostando sua testa na da mulher.

— Então que tal se falarmos de como você é cheirosa mesmo sem passar perfume? — Marília disse, fazendo Maiara rir.

Da outra ponta do restaurante havia três garotas suspirando bobamente. Era, com certeza, irrefutável o fato das duas mulheres combinarem, elas eram muito fofas juntas e havia uma conexão, como se elas se conhecessem de longa data. Também havia o brilho no olhar de ambas e naquele momento, Maiara parecia ter entregado seu mundo nas mãos de Marília.

— É uma pena a garota ter que ir, Marília parece ter, realmente, gostado dela — Maraisa lamuriou.

— Sim, Maraisa — Lauana concordou e suspirou tristemente. — É uma pena.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora