Vinte e seis

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As meninas ainda estão dormindo... — Maiara alertou, mordiscando o lóbulo da orelha de Marília enquanto seus braços cincurdavam o corpo nu da garota. As duas haviam decidido tomar banho nuas em um rio no Novo México pela manhã.

Pare de ser safada assim — Marília disse rindo, chupando o lábio inferior de Maiara. Eu já disse que não.

Chata! Maiara disse colocando um bico adorável em seus lábios.

Imagina se uma bactéria ou bichinho entra em mim bem na hora Marília disse realmente temerosa, fazendo a garota gargalhar alto ao ouvir aquilo.

Não acredito, Marília Mendonça!

Não ria de mim Marília exigiu, jogando água no rosto de Maiara ao se afastar.

-- Você está falando sério que está negando uma deliciosa transa matinal por medo bobo? Maiara ainda ria.

Não é bobo. As pessoas costumam fazer xixi nessas águas. Se fossem limpas o suficiente beberíamos dela Marília disse cruzando seus braços. Então você não vai enfiar seus dedos tarados dentro de mim enquanto estivermos nessa água e não permitirei que a sua vagina se contamine. Depois eu não poderei desfrutar, caso aconteça.

Marília... Maiara não aguentava de tanto rir, a loira estava realmente aferrada a tal ideia, o que a fez achar muito fofo seu jeitinho medroso.

Não ria! Repetiu seriamente, jogando mais água na garota.

Certo, certo! Maiara disse erguendo as duas mãos no ar, rendida. Coisa linda ela murmurou mordendo seu lábio inferior ao se aproximar e tocar seus lábios nos de Marília.

Você Marília sussurrou de volta, tendo seus lábios ainda sobre os de Maiara enquanto seus braços se entrelaçam ao redor do pescoço da menor e o beijo se tornava mais profundo.

— Hey... — Maiara chamou baixinho, tirando Marília de suas lembranças e fazendo uma força extra para conseguir subir no topo do caminhão sem a ajuda da maior. — Atrapalho?

— Não — a maior respondeu.

Marília tinha suas duas mãos embaixo de sua cabeça e estava deitada sobre a lataria do veículo enquanto tentava admirar as estrelas no céu escuro. Estava prestes a chover, o que fazia de sua tarefa algo bem mais custoso.

— No que estava pensando? — Maiara perguntou, se ajeitando, ainda sentada, ao lado da loira.

— Umas coisas do trabalho — mentiu.

— Oh... — Maiara disse encarando o rosto de Marília. — E o trabalho sempre te faz sorrir tristemente? — A maior suspirou, todavia, nada respondeu. — Por que saiu daquele jeito?

— Maraisa está com um humor muito bom, isso me irrita — disse séria.

— O fato de amanhã chegarmos não modificou em nada seu humor? — Maiara perguntou, tendo certeza que sim.

O silêncio era interrompido apenas pelo barulho dos grilos e do balançar de algumas folhas das árvores mais próximas.

Era a última noite de viagem das garotas antes de chegarem ao famoso e tão esperado — nem tanto assim para algumas — destino: San Diego, Califórnia. Mas, infelizmente, o transcorrer dos doze dias — sim, doze, Maiara no hospital somado às paradas para jantar e outras aleatórias fez dez dias virarem doze — não favoreceu as duas garotas, pois elas já se encontravam no Arizona, fronteira com Califórnia.

— O que você acha? — Marília perguntou sem olhar para Maiara.

As outras três ainda estavam na parte da frente, embaixo, afinal, haviam decidido comemorar o último dia com Maiara e após algum tempo Marília pediu licença, dizendo que iria ir tomar um ar. A garota ruiva esperou, mas uma hora depois ela decidiu ir checar se ela estava bem.

— Posso me deitar ao seu lado ou você prefere que eu desça para que fique sozinha? — Maiara perguntou cautelosamente, as orbes castanhas da mulher loira pela primeira vez se desviaram para a figura ao seu lado.

Marília estava com um short, apesar de estar bastante frio, e uma blusa xadrez verde, cabelos soltos como de costume e tinha uma mão apoiada na lataria do caminhão.

— Gosta de ver estrelas? — Perguntou solenemente, ignorando a pergunta.

— Oh, eu adoro. Principalmente com você — Maiara respondeu de forma maliciosa, rindo após proferir tais palavras, sua fala arrancou uma risada fraca de Marília, que retirou o braço direito debaixo de sua cabeça e o esticou para ela.

— Eu falo sério, Maiara — ela disse e a ruiva assentiu, olhando para o céu e vendo que não dava para ver estrela alguma.

— Desculpe — pediu, soltando uma risada doce. — Eu amo ver as estrelas. Principalmente se for com você — sem malícia dessa vez; o tom havia saído sério e a intensidade no olhar de Maiara enquanto olhava no fundo dos olhos da maior comprovavam que o que dizia era livre de brincadeiras.

O pequeno corpo se acomodou no vão do braço de Marília, não obstante, Maiara não se deitou de vez; ela usou seu braço esquerdo para apoiar o peso de seu corpo enquanto sua mão direita foi para o rosto da loira.

— Essa foi a coisa mais casual que eu tive na minha vida — Marília disse, sentindo a pele macia dos dedos de Maiara acariciarem seu rosto. — Aliás, essa foi a única coisa casual que eu tive e eu vou manter isso assim, porque dessa forma, mesmo casual, você ainda se torna única.

Maiara sorriu tristemente ante às palavras de Marília e se inclinou, depositando um beijo gentil no canto dos lábios da garota.

— Você é a mulher mais doce que eu conheci — Maiara falou pincelando a vértice de seu nariz pelo rosto da loira em uma carícia. — Não se esconda por trás do personagem grosseiro e rude.

— Certo — Marília assentiu, sentindo os primeiros pingos de chuva começarem a tocar a lataria do veículo e seu rosto. — Mai, está chovendo — falou ao sentir Maiara afundar o rosto no seu pescoço.

— Sim. Fica aqui comigo um pouquinho? — Maiara pediu com a voz ligeiramente embargada e Marília assentiu, sentindo um horrível nó se formar em sua garganta.

— Fico — a voz saiu falhada e baixa, arranhando a garganta da maior.

O silêncio se instalou e a chuva não caía tão forte, eram gotas geladas, porém fracas. Maiara envolveu o corpo de Marília em um abraço e respirou fundo.

— Nosso primeiro beijo foi na chuva — Maiara proferiu baixinho, inalando o cheiro natural do pescoço de Marília.

— Valeu a pena ter passado aquele frio — Marília disse rindo fraco.

— Valeu a pena ter pegado aquela gripe — Maiara disse, levantando o rosto e fitando Marília nos olhos.

— Valeu a pena ter te dado carona.

— Valeu a pena ter te beijado.

— Valeu a...

— Shhh... — Maiara proferiu, engolindo em seco, para então colar seus lábios nos de Marília.

A chuva se intensificou, mas nenhuma das duas se moveu dali. Se beijaram com intensidade, com leveza, com paixão. As gotas frias encharcaram ambas as garotas e Marília sentiu seu coração se comprimir ao sentir uma gota quente. O beijo foi interrompido por um soluço baixo da ruiva, mas nenhuma das duas se atreveu a dizer nada.

Maiara apenas se aconchegou mais no calor do corpo de Marília enquanto afundava a cabeça na curva de seu pescoço e chorava sem pudor.

Já Marília... Bem, ela abraçou Maiara fortemente, como se segurasse a coisa mais valiosa do mundo em seus braços e derrubou uma ou duas lágrimas, no máximo. Queria chorar, mas chorar era aceitar que sua teoria do início estava correta: ela se apegava fácil demais.

Quem se apaixonaria em doze dias, por Deus? Não precisava ser muito esperto para responder essa questão, bastava ver dois corações partidos em cima do teto do caminhão que saberiam; a

Ambas haviam se apaixonado.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora