Dois

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Marília estava preparada para subir a serra, já que se encontrava no litoral, quando seus olhos captaram a figura de uma garota magricela, dona de belas curvas e cabelos ruivos. Era, decerto, muito atraente, porém trazia consigo um dos olhos arroxeado e os lábios um pouco cortados. A garota, assim que viu o caminhão se aproximar, esticou o dedo na estrada de forma desesperada.

"Não ligue, não pare!" Marília pensava consigo mesma. "Outra pessoa dará carona para ela."

E pensando assim passou direto com o caminhão, numa velocidade tão lenta que pôde ver pelo retrovisor que a garota, ao ver que o caminhão passou por ela, encolheu os ombros e se jogou no canto da pista, com a expressão desolada.

Marília sentiu seu coração se comprimir e no mesmo instante freiou bruscamente. Deu ré com o caminhão, vendo Lauana ser a primeira a colocar a cabeça para fora da cortina.

— O que houve? -- A garota perguntou.

— Nada que te interesse. Volte para seu pornô.

— Hey, eu não estava vendo pornô — Marília olhou severamente para Lauana, que bufou derrotada. — A culpa é da Maraisa. Eu queria ver um filme de ação. — Marília riu baixinho e assentiu, parando e desligando o caminhão.

— Fique aqui. Eu já volto! — Pediu, abrindo a porta do caminhão preto e vermelho e descendo logo em seguida; fechou a porta para logo dar a volta no caminhão. O movimento ali era quase zero e por isso pôde dar ré sem problema nenhum.

Se aproximou da garota, que levantou rapidamente, espalmando o traseiro em busca de limpar o local que havia tocado o chão.

— Olá — a garota disse envergonhada. — Obrigada por parar. Estou aqui há cerca de seis horas e não consegui que ninguém me notasse.

— Para onde está indo? — Marília perguntou, analisando o vestido azul claro esvoaçante e a blusa fina de frio amarrada em sua cintura, totalmente desproporcional a algo que as garotas riquinhas e mimadas usariam.

— San Diego, mas qualquer lugar que me deixar mais para lá eu já agradeço — a moça respondeu.

— O que houve com seu rosto? — Marília perguntou.

— Fui assaltada. Levaram meu carro e meu celular; por sorte, levo meu dinheiro com Garfield.

— Garfield? — A pergunta saiu junto com as sobrancelhas franzidas.

— Meu gato. — Maiara disse, tendo um miado sendo proferido no mesmo instante por uma enorme bola de pelos felpudos, amarela, que se esfregava na perna de Marília de maneira toda entregue. — Parece que ele gostou de você.

— Não posso levar esse animal em meu caminhão. Sinto muito! — Marília disse solenemente.

— Ele não é barulhento e não sujará seu caminhão. Ele sabe esperar para fazer suas necessidades. — A garota acrescentou. — Por favor, preciso de uma carona — Marília bufou diante de seu coração mole e assentiu.

— Tudo bem, mas se ela incomodar terei que colocá-los na rua em busca de outra carona.

— Obrigada — Maiara disse agradecendo levemente eufórica. — Muito obrigada mesmo — repetiu, acompanhando Marília até o caminhão.

A maior abriu a porta de seu caminhão e esticou a mão, em sinal de gentileza para Maiara subir. A garota pegou seu gato e subiu no caminhão. Marília fechou a porta e deu a volta, e quando entrou no caminhão três pares de olhos estavam focados na garota.

— Ela viajará conosco — Marília disse, ligando o caminhão.

— Oh meu Deus, o que houve com você? — Lauana perguntou, ouvindo Maiara repetir o que havia dito a ela.

— Quem é essa lindeza aqui? — Maraisa perguntou, acariciando o pelo macio do animal gorducho, que logo começou a ronronar.

— Esse é o Garfield. — Maiara disse sorrindo. O gato, que trazia uma coleira azul em seu pescoço, se deitou ao pé de sua dona no caminhão, se estirando no chão do veículo e dormindo alguns minutos depois.

— Não acha que levar dinheiro na coleira de um gato é uma tremenda estupidez? E se ele fugir ou algo assim? — Marília questionou séria.

— Bem, ele está comigo há três anos e é adestrado. Não creio que fugiria — a moça explicou. — E só deixo quando viajamos. Parece que essa tremenda estupidez poupou meu dinheiro de ser roubado — diante do silêncio da mulher a garota também se silenciou.

— Como se chama? — Maraisa perguntou.

— Maiara Carla Pereira — respondeu-lhe com um sorriso simpático no rosto.

— Bem, sou Maraisa, esta é a minha namorada Luisa Sonza, esta é a minha irmã Lauana e aquela ali você já conheceu — ela disse da boléia. Lauana abriu de vez a cortina do lugar para se acomodar melhor no assento.

— Na verdade eu não sei seu nome — Maiara confessou, olhando para a motorista que mantinha seus olhos na estrada e agia como se não estivesse ouvindo a conversa.

— Mal educada como sempre — Maraisa zombou. — Aquela é minha outra irmã, Marília.

Os olhos curiosos da ruiva percorreram Marília. Usava um boné, uma camisa listrada roxa aberta e por baixo dela uma camisa simples branca. Sua calça jeans acentuava suas curvas e isso Maiara havia reparado do lado de fora do caminhão.

— É um prazer, garotas — ela disse baixinho. — Sinto muito incomodar e realmente agradeço pela carona.

— Para onde está indo? — Luísa perguntou.

— San Diego, mas qualquer lugar que me deixarem no caminho já está melhor do que a onde eu estava.

— Bem, Maiara, aparentemente você deu sorte. Estamos indo para lá. Não é, Marília? — Maraisa perguntou animada. A garota ao volante apenas fez um breve aceno com a cabeça e nada mais disse. — Ela não transa e por isso é tão seca assim, não ligue! — Sussurrou, fazendo Maiara rir baixinho.

— Está com fome? — Marília perguntou do nada, fazendo a garota corar antes de assentir. — Há quanto tempo não come?

— Umas oito horas, talvez — disse em uma careta.

— Eu já teria morrido — Maraisa disse espantada pela informação.

— Pegue algo de útil, sem ser essas bobeiras e dê para Maiara comer — Marília pediu e Maraisa abriu um isopor que estava ao lado delas, retirando dois sanduíches e a serviu com um copo descartável com refrigerante. Maiara aceitou de bom grado, agradecendo mais uma vez e sorriu disfarçadamente. Pelo menos a garota havia ouvido seu nome e não se esquecido dele.

Destino Incerto | MaililaWhere stories live. Discover now