Sete

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As orbes castanhas se abriram naquela manhã com muito esmero. A mulher sentia seu corpo ainda muito cansado, consequência de não ter conseguido dormir cedo. Maiara havia proposto algo entre elas, Marília tinha certeza, o problema é que ela nunca teve nada casual. Sempre fora a mulher correta que só se envolvia sexualmente com suas namoradas e por isso transou apenas com cinco mulheres, todas elas agora ex-namoradas.

Sexo casual não parecia algo correto a se fazer, mas em seu mais profundo interior ela admitia que com Maiara a proposta fora bastante interessante. A garota era bem linda, sexy, doce e divertida e esse era exatamente o motivo de Marília ter rejeitado. Seu maior defeito era se apegar rápido demais; ela se sentia uma adolescente em seu primeiro amor, mas nunca conseguirá amadurecer esse seu lado e, por esta razão, quando via alguém com potencial para laçar seu coração ela simplesmente fugia.

Maiara iria seguir seu rumo em alguns dias, nunca mais se veriam e, a menos que tivesse mal interpretado as coisas, se ela tivesse aceitado teriam um sexo, provavelmente, delicioso, levando em conta a forma como a garota gostava de provocar, contudo, Marília não correria o risco de se apegar àquela garota. Não podia e por isso a evitaria.

— Bom dia, Marília! — Lauana desejou assim que sua irmã saiu do banho.

— Dia! — Marília respondeu baixo. — Onde está Maiara?

— Acordou bem cedo e tomou um banho demorado, depois saiu com a Maraisa e a Luísa. Devem estar no caminhão — Marília assentiu e pegou sua mochila.

— Quando estiver pronta é só sair. Deixarei tudo pago na recepção — e saiu.

Depois de ter acertado tudo na recepção ela se dirigiu até o caminhão, não acreditando no que ouvia. A rádio do veículo estava ligada. Aumentou a velocidade dos passos e adentrou o veículo, desligando a rádio no mesmo momento. Seus olhos estavam acinzentados devido à intensa raiva.

— O que eu disse sobre não ligar a droga do rádio? — Ela perguntou de forma ríspida, olhando para Maiara com fúria. — Onde estão Maraisa e Luísa?

— Disseram que foram te procurar. — Maiara disse levemente assustada.

— Ótimo, desça do meu caminhão! — Exigiu. — A partir de agora você está por sua conta.

— O quê? — Perguntou incrédula. — Marília, por favor...

— Não! Desça já! — O olhar triste de Maiara mostrou que ela havia entendido.

— Certo — ela disse baixo. — Me desculpe pela rádio, eu só achei que não teria problema...

— Teve! — O tom firme de Marília impediu Maiara de dizer qualquer outra coisa. A mais nova apenas pegou seu vestido azul de onde havia deixado. Os olhos castanhos da loira acompanharam a garota descer do caminhão e pegar seu gato junto.

— Hey... — Marília gritou, fazendo Maiara lhe fitar. — A onde arranjou esse vestido? — Perguntou se referindo ao que ela usava no momento.

— Eu emprestei. — Lauana surgiu ali de repente. — Sempre uso vestido mais curtos mesmo, como ela é mais baixa ficou do tamanho ideal — disse sorridente. Marília apenas assentiu quieta e Maiara suspirou.

— Boa viagem, Lau. Foi um prazer conhecer você — Maiara disse, fazendo a morena franzir o cenho.

— Como assim? Você não vem com a gente? — A ruiva negou com a cabeça e sorriu-lhe fraco.

— Boa sorte em sua jornada. Vou ao banheiro trocar de roupa e já te devolvo o vestido.

— Não precisa. Seu vestido está molhado e eu realmente prefiro que você fique com esse — Lauana disse sorrindo simpática.

— Bem, muito obrigada então — e dito isso, foi para a beira da estrada voltar a pedir carona. Um grande vinco se formou na testa de Lauana.

— Eu a expulsei — Marília disse seriamente. Lauana arregalou os olhos e a olhou confusa.

— O quê? Por quê?

— Não está dando certo viajar com ela.

— Marília...

— Está livre para se juntar a ela caso discorde de minha decisão — Marília disse, batucando os dedos no volante. O rapaz da recepção, de repente, se aproximou de Maiara

— Você está com um péssimo humor esta manhã, mas isso não te dá o direito de ser grosseira com os outros.

Marília acompanhou Maiara negar algo com a cabeça e o rapaz tocar-lhe o braço gentilmente. A ruiva voltou a negar e tentou se esquivar do toque, no entanto o garoto não lhe soltou.

"Você não tem nada a ver com isso." Marília pensou.

O garoto tentou dar um beijo nela e a garota se esquiava, mas ainda sorria fraco. Maiara empurrava com suas mãos o peito daquele homem, tratando de manter distância, mas o mesmo era insistente. Sorria galante e falava algo que Marília não podia ouvir. O homem jamais foi grosseiro, ríspido ou algo assim, era só um idiota que não entendia um não. A loira bufou e abriu a porta de seu caminhão, caminhando até os dois.

— Maiara! Vamos — gritou séria e ambos lhe olharam.

— Ela já já vai — o garoto disse simpático. — Não é, boneca? — Marília se aproximou e segurou gentilmente no pulso de Maiara.

— Vamos? — Maiara lhe fitou com mágoa, mas entre aquele babaca e Marília a escolha era óbvia. Com um breve aceno de cabeça ela se despediu do rapaz e seguiu o caminho para o caminhão. — Sempre terá babacas como esse — resmungou.

— Pode me deixar alguns metros daqui — Maiara disse, entrando no caminhão. Maraisa e Luísa já estavam lá e Lauana já havia lhes explicado o que houve.

— Você irá conosco — Marília disse séria e Maiara lhe fitou.

— Não, obrigada — os três pares de olhos assistiam tudo da boléia. Marília suspirou lentamente e encarou Maiara.

— Olha só, me desculpe ter estourado daquela forma com você — as três garotas se cutucaram atrás delas. Marília não pedia desculpas assim, ela simplesmente fazia um longo silêncio e logo tudo voltava ao normal.

— Certo — Maiara disse olhando para a estrada.

Marília ligou o caminhão e seguiu o rumo. O silêncio era denso, não tranquilo como antes e ela sentia que devia dizer o motivo de ter estourado daquele jeito. Afinal, sair gritando do nada com alguém que sempre foi gentil com você era, no mínimo, algo bem estúpido a se fazer.

Destino Incerto | MaililaWhere stories live. Discover now