Ignorar é a Melhor Opção

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Jisoo não falou comigo pelas vinte e quatro horas subsequentes aos acontecimentos no passeio de iate. Assim que Irene e Robert deram as costas, Jisoo saiu correndo para dentro do hotel, e eu não tive notícias dela até o final da tarde seguinte.

Preciso de ajuda.

Eu estava deitada no sofá do quarto, comendo uma maçã e relembrando cada segundo dos meus beijos com Jisoo. Fiquei surpresa ao atender o telefone e ser ela do outro lado da linha. Meu coração deu um solavanco e eu tinha quase certeza que senti ele na minha garganta.

– O que aconteceu? - perguntei, desconfiada.

Soojin nos convidou pra um jantar essa noite.

Larguei a maçã na mesinha de centro e, tapando o bocal do celular, xinguei baixinho. Eu não estava com nenhuma vontade de ter que lidar com aquilo, mas achei justo deixar Jisoo se explicar. Além disso, eu precisava ouvir a voz dela nem que fosse por alguns minutos.

– E por que você disse sim? - eu quis saber.

Sei lá, eu só não consegui dizer não! - Jisoo bufou, frustrada - Você pode me fazer esse favor?

Nesse mesmo momento, Doyeon passou por mim para entrar no banheiro. Levantei com um pouco de dificuldade e sentei no sofá, observando-a me lançar um sorriso malicioso e deixar a toalha cair no chão. Ela sumiu banheiro adentro e eu voltei a me concentrar na ligação com Jisoo.

– Sem chances, Jisoo - anunciei - Essa é a minha primeira noite a sós com a Doyeon desde que chegamos aqui.

Escutei o suspiro pesado do outro lado da linha, indicando que Jisoo estava se controlando para não surtar.

Escuta aqui, Jennie, esse é o primeiro favor que eu te peço. O que aconteceu com o papo de “faço qualquer coisa por você?” - ela resmungou, irritada - Será que você não pode me ajudar? Eu só quero esfregar na cara daquele ser repugnante e desprezível…

– Tá, mas o que eu falo pra Doyeon?

Passa o celular pra ela.

Peguei a maçã mordida e caminhei até o banheiro com o celular na orelha. Quando abri a porta, a caixinha de som portátil tocava Steal My Girl em níveis absurdamente altos. Doyeon estava dançando e cantando dentro do chuveiro.

Por favor, não me diz que ela está ouvindo One Direction…

Ignorei o comentário de Jisoo e pausei a música, o que fez Doyeon reclamar. Estendi o celular na direção dela, que me encarou com estranheza. Enquanto ela conversava com Jisoo, me encostei no batente da porta e fiquei observando o corpo de Doyeon. Eu não podia acreditar que eu realmente trocaria uma noite desfrutando daquele monumento, para ficar sentada num restaurante vendo Jisoo e Soojin competirem entre si.

– E aí, quem é? - perguntei, tentando fingir naturalidade.

– Lisa… - ela disse, tapando o bocal - Ela quer me levar pra jantar hoje. O que eu digo?

– Diz que sim - dei de ombros - Ela é doida, mas não vai te fazer mal.

– Certo…

Ainda desconfiada, Doyeon terminou de combinar os detalhes com Lisa e me devolveu o aparelho. Eu não queria nem saber o que Jisoo havia feito para convencer Lisa a ajudá-la.

Lisa, só leva ela pra bem longe daqui! Você é inteligente, vai pensar em alguma coisa.

Escutei Jisoo resmungar, enquanto pegava o celular de volta. Me joguei no colchão, mordendo o último pedaço da maçã. Às vezes, eu me sentia culpada por ter metido Lisa e Rosé na confusão, mas logo passava. Minha prima sempre aprontava comigo, e Rosé não fazia muita questão de controlá-la ou agir em meu auxílio.

Pronto, resolvido - Jisoo falou, parecendo até um pouco contente - Vai me ajudar agora?

– Tenho escolha? - perguntei num muxoxo.

Não.

– Já que você me ligou, podemos nos encontrar pra conversar sobre o que aconte...

Nada aconteceu - ela me interrompeu, ríspida - O jantar será às sete, esteja pronta uma hora antes.

Com um suspiro cansado, decidi que, se Jisoo não falaria nunca mais sobre o que aconteceu entre a gente, eu também não iria. Eu estava certa desde o começo, no fim das contas. Desenterrar meus sentimentos por Jisoo havia sido uma péssima ideia.

Era nisso que dava ouvir os conselhos de Lisa!

Bufei, frustrada, jogando a maçã no cesto de lixo perto da porta da varanda. Errei na força, o que acabou fazendo o recipiente virar e cair. Irritada, levantei da cama e comecei a catar o lixo que se espalhou.

Eu estava muito bem fingindo que não sentia nada por Jisoo além de amor fraternal. Nós estávamos muito bem vivendo essa mentira. Por que eu fui mexer num time que estava ganhando? Eu estava no Havaí, acompanhada de uma mulher linda e legal, que gostava de mim de verdade, e, ainda assim, tudo parecia estar dando errado.

Quando era que minha vida amorosa finalmente se ajeitaria?

Beijar Jisoo havia sido um erro, um erro que eu tinha medo de jamais conseguir reparar. Porém, eu estava disposta a tentar, e o jantar daquela noite seria uma boa oportunidade. Eu agiria normalmente e mostraria a Jisoo que nossa amizade continuava a mesma.

Na verdade, ela ignorar o assunto provavelmente foi uma ótima coisa a fazer.

Terminei de ajeitar a bagunça e fui para a varanda do quarto. A maresia inundava o ar, e eu fechei os olhos para apreciá-la. Um par de braços rodeou minha cintura momentos depois. Doyeon apoiou o queixo no meu ombro e beijou minha bochecha. Ela cheirava a sabonete e exalava calor como o sol.

– Obrigada por essa viagem, está sendo incrível.

Não respondi de imediato, mas sorri e acariciei suas mãos, apoiadas na minha barriga.

– Sinto muito não estar conseguindo te dar tanta atenção, as coisas têm estado caóticas.

– Não se preocupe, Jen - ela sussurrou, beijando meu ombro - O objetivo da viagem era aproximar todo mundo, e acho que estamos conseguindo.

– Que bom que você se sente assim…

Doyeon provavelmente sentiu a melancolia na minha voz, pois me fez virar de frente para encará-la. Eu não sentia que estava me aproximando de todo mundo. Pelo contrário, eu estava me afastando mais e mais de Jisoo. A mulher aninhou meu rosto entre as mãos e selou nossos lábios.

– O que aconteceu? - perguntou, gentil - Seja o que for, pode me contar.

Eu queria muito contar a ela absolutamente tudo. Queria colocar um ponto final em todas aquelas mentiras, para que pudéssemos recomeçar direito. Cogitei seriamente a possibilidade de falar a verdade, mas fui covarde outra vez. Doyeon me olhava com tanto carinho… eu não queria perdê-la também.

– Não é nada demais, apenas preocupada com o trabalho - falei, soando o mais verdadeira que consegui - Nunca fiquei tanto tempo afastada assim. Acho que estou sentindo falta do consultório, dos pacientes e tudo mais.

Ela pareceu acreditar, porque seus olhos brilharam e um sorriso divertido brincou em seus lábios. Doyeon entrelaçou nossas mãos e me puxou de volta para dentro do quarto, fechando as cortinas em seguida.

– Ainda temos tempo até que eu saia pra jantar mais tarde - ela falou, maliciosa - Sei de algo que pode te fazer esquecer do trabalho e relaxar…

– Ah, é? - deixei um sorriso escapar - O que seria isso?

– Apenas me deixe te surpreender, Jennie Kim.

Doyeon me empurrou no colchão, parando de pé na minha frente e desfazendo o laço que mantinha o roupão fechado. Seu corpo escultural foi se desnudando diante dos meus olhos. A mulher engatinhou sobre mim, colocando minhas mãos em sua cintura antes de me beijar com fervor. Meu peito ficou pesado, e, ansiosa para realmente esquecer os problemas, deixei que Doyeon me despisse também.

O método dela funcionou, mas não totalmente, porque ainda havia aquela pequena parte de mim que insistia em dizer que eu não estava no lugar certo.

Esposa de Mentirinha (Jensoo)Where stories live. Discover now