Prólogo

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Aquele era para ser o dia mais feliz da minha vida, mas não foi. É uma longa história, porém pouparei os detalhes entediantes e irei direto ao que interessa: a fofoca.

Bom, tudo começou em 1988, quando nasci num dia de… Brincadeira.

Na verdade, tudo começou quando conheci essa linda garota durante o colégio. Ela era popular, engraçada e, por algum motivo, conversava comigo. Naquela época, eu não era, digamos, muito atraente. Usava aparelho desde os doze anos, tinha espinhas que pareciam brotar a cada vez que eu respirava e não conseguia deixar meu cabelo arrumado de jeito nenhum.

É sério, de jeito nenhum mesmo.

O ponto principal era que essa garota, Irene, começou a conversar comigo, depois que nos tornamos dupla na aula de biologia. O que eu tinha de feia, compensava na inteligência. Então, quando vi que Irene se tornava mais acessível quando eu me oferecia para fazer sua lição de casa, aproveitei a oportunidade.

As semanas se passaram e nós começamos a namorar, o que me surpreendeu. O ensino médio acabou e nós continuamos a namorar, o que também me surpreendeu. Ela foi fazer faculdade na cidade vizinha, e eu, como estava sentindo as vibrações do universo me dizendo que deveria tirar um ano sabático, fiquei por ali mesmo, ajudando meu tio Marco a tocar sua clínica veterinária.

Queria ganhar uma grana antes de começar a faculdade de Medicina.

- Não são vibrações do universo, são vibrações do seu corpo cheio de preguiça!

Minha prima, Lalisa, dois anos mais nova, trabalhava comigo na clínica do pai. Ela tinha um jeito especial com os animais, principalmente os gatos, mas era horrível para lidar com outros seres humanos. Lisa tinha a mania de fazer piadas em momentos inoportunos e de dar conselhos desastrosos sempre que surgia a oportunidade.

- É sério, Jen, você precisa fazer alguma coisa - insistiu - Irene está na faculdade, se você não tomar uma atitude vai perdê-la! E eu não acho que você conseguiria outra garota super gostosa como ela.

E eu queria muito, muito mesmo, não ter dado ouvidos à Lisa daquela vez. Talvez, se eu tivesse apenas a ignorado, as coisas teriam corrido de um jeito bem menos… dramático.

Mas, sim, eu levei à sério minha prima tonta, e, um mês depois, lá estava eu, pronta para casar.

Parecia loucura dar esse passo sendo tão jovem, mas eu tinha certeza que havia encontrado minha cara metade. A pessoa que me amaria do jeito que eu era, com espinhas e tudo mais. Nosso relacionamento foi construído à base de confiança e eu mal podia esperar para avançar mais um passo.

Se é que me entendem.

– É sério mesmo que você e Irene nunca…

Lisa perguntou, fazendo um gesto obsceno com as mãos. Desviei os olhos do espelho e encarei-a, sentindo pena da minha tia por ter parido aquela criatura. De qualquer maneira, não tínhamos uma família muito convencional, e eu amava Lisa como uma irmã.

– Não, Lisa, não fizemos - suspirei - Irene queria se guardar para o casamento, então respeitei.

Minha prima fez uma careta, se aproximando para ajeitar meu cabelo. Ela havia feito um bom trabalho tentando esconder as espinhas com a maquiagem, tanto as minhas quanto as dela. Isso era uma das poucas coisas em comum que tínhamos na aparência.

– Que cara é essa? - perguntei.

– A minha cara, oras.

– Tinha esquecido que a feiúra é de nascença.

Lisa me beliscou e deu as costas, saindo do quarto. Deixei uma risada escapar e a segui, já pronta para andar até o altar. Tio Marco era quem me levaria, já que meus pais… bem, eles não estavam mais comigo há muitos anos desde que foram atingidos pela cauda de uma baleia maluca num espetáculo do Sea World (que Deus os tenha).

Esposa de Mentirinha (Jensoo)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant