A Distração

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Tudo bem, admito: eu era mesmo uma mulherenga.

Eu aceitava essa coroa, de verdade, por mais pesada que fosse. Era bom saber que eu poderia conseguir a mulher que eu quisesse, apenas usando meu charme e meu trunfo. Porém, se tinha uma coisa que eu me recusava a ser, era atrasada. Por isso, parei o carro na frente da casa de Lisa e Rosé, exatamente às 19h. Dei uma buzinada e esperei o casal de pombinhas aparecer.

Lisa conheceu Rosé pouco tempo depois que conheci Jisoo. Tudo aconteceu muito rápido, porque, bem, eram Lalisa e Rosé, e elas eram intensas: Rosé levou seu cachorrinho, Hank, até a clínica de Lisa, e foi aquela coisa de amor à primeira vista; uns encontros depois e elas já estavam adotando um gato juntas.

Lisa havia tirado a sorte grande. Rosé era praticamente sua cópia em questão de personalidade, com exceção de saber cozinhar muito bem, ter um sotaque australiano sexy e um pouco mais de noção. Segundo minha prima, a beleza poderia até acabar — o que eu duvidava, porque Rosé era, tipo, a última Coca-Cola do deserto — mas a fome existiria sempre.

Então, Lisa tratou de se tornar a melhor namorada de todas para manter Rosé eternamente apaixonada e, por mais incrível que pareça, estava conseguindo a proeza pelos últimos doze ou treze anos.

– Qual é a boa, Jen?

Rosé falou, assim que entrou no banco do carona e colocou o cinto. Era sempre assim, desde que ela chegou, Lisa nunca mais conseguiu sentar no banco da frente. Eu duvidava que minha prima se importasse. Dei partida no carro depois de colocar no GPS o endereço da festa.

– Nada interessante, e você?

– Lisa comentou sobre você e Jisoo, e eu acho que ela está certa - não fez rodeios.

– Pelo amor de Deus, não comecem outra vez - bati no volante - Lisa, eu juro que vou comer seu pâncreas com farofa se você insistir nisso.

Olhei para ela pelo retrovisor, vendo sua cara de tédio. Não importava o que eu fizesse, acho que Lisa nunca abandonaria essa ideia estúpida de que Jisoo e eu deveríamos ficar juntas. Ela deu um sorrisinho e eu quase parei o carro para jogá-la pela janela.

– Por favor, Jennie, você nem sabe o que é um pâncreas - debochou.

– Eu literalmente sou médica? - rebati, incrédula.

– Amor, fica quietinha, vai - Rosé disse, carinhosa - Jennie, pensa bem. Você não acha que já passou tempo demais nessa vida? Não acha que está na hora de sossegar? É bom ter alguém para amar, Jen.

– Eu gosto da minha vida, ok? - insisti - Eu gosto de não ter que dar satisfação pra ninguém, gosto da minha liberdade.

– Você tem liberdade às custas de uma mentira! - Lisa rebateu - Você desfila por aí com essa aliança estúpida achando que nunca vai ser pega. Você ainda está fodendo, mas vai chegar a hora que o universo vai te foder de volta, e ele vai foder com força.

Dentre as três pessoas que sabiam da história, Lisa era a que mais se irritava. Eu sabia que sua raiva tinha a ver com o fato dela se preocupar comigo, mas, qual é, eu fazia aquilo há dezesseis anos e nunca tinha dado errado. Lisa estava lá quando minha ex-noiva/lacraia aproveitadora falou aquelas coisas horríveis sobre mim horas antes de nos casarmos.

– Ela tem um ótimo ponto - Rosé disse.

Soltei um suspiro cansado. Não adiantava discutir com aquelas duas. Elas eram o exemplo perfeito de que almas gêmeas existiam. Às vezes, me perguntava como seria se eu me permitisse me apaixonar e todas essas baboseiras. Era tentador querer o que Lisa e Rosé tinham. Porém, eu acabava chegando à conclusão de que era trabalhoso demais.

Esposa de Mentirinha (Jensoo)Onde histórias criam vida. Descubra agora