Capítulo vinte e nove

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Alina narrando:

-Não quero ouvir seus julgamentos.

A voz embargada de Anna atinge meus ouvidos quando giro a maçaneta da porta do escritório. Encontro-a sentada no sofá de couro escuro, com a cabeça entre as mãos, soluçando baixo.

-E quem disse que eu vim te julgar?_me sento ao seu lado.

-Não veio?_nego com a cabeça e ela me encara com seus olhos lacrimejados.-Então o que veio fazer aqui?

-Ombro amigo, caso queira desabafar._digo, segurando sua mão esquerda.

-Obrigada, mas eu não quero.

-Tudo bem._suspiro.-Então eu apenas te faço companhia.

Anna desvia seu olhar para janela e chora baixinho, apertando levemente minha mão, enquanto eu acaricio seus dedos.

Ela está relutante e não diz sequer uma palavra durante uns dez minutos, apenas chora silenciosamente. Por fim, Anna suspira, abaixa a cabeça e funga, sussurrando baixinho:

-Ele era mesmo um idiota._em silêncio, aperto sua mão, encorajando-a a falar.-E..eu não sei se realmente gostava dele, mas Andrew não tinha vergonha de me apresentar á ninguém._ela funga.-Acho que fiquei deslumbrada, mas é que eu já fui tão machucada por homens que colocavam defeito em meu corpo, que saiam comigo mas com vergonha de alguém nos verem juntos. E quando ele fez totalmente ao contrário, eu acabei aceitando certas atitudes, achando que se eu não aceitasse, quem sairia perdendo seria eu. Afinal, qual homem havia feito isso por mim?

-Anna...

-Eu apenas pareço ser bem resolvida com meu corpo..._seu soluço é doloroso.-Eu vejo muitas pessoas me olhando torto quando estou com os meninos._sinto um bolo em minha garganta.-Elas devem pensar "o que um cara como eles estão fazendo com uma mulher gorda como ela?"

-Não diga isso._limpo suas lágrimas com meus dedos finos e gelado.-Você é linda, tanto por dentro, quanto por fora. Não deixa nenhum homem ou qualquer outra pessoa te dizer o contrário.

-As vezes sinto que não fui feita para ser amada._ela engole em seco.-Os homens me olham apenas com desejo carnal...como um brinquedinho sexual.

-Você é linda, você é digna, você merece o melhor._digo, sincera.-Às vezes é muito difícil ignorar as coisas que não gostamos sobre nós mesmas, ainda mais numa sociedade que lucra com nossas inseguranças e gostar de si mesmo acaba sendo um ato de rebeldia._Anna soluça, deitando em meu colo.-Não deixe que seu valor seja medido pela opinião de outra pessoa. A única opinião importante é a sua, e é você que precisa se amar e se respeitar. Não se compare aos outros e não deixa que ninguém faça isso, pois a beleza de alguém não significa ausência da sua e reduzir sua vida a um corpo ideal é reduzir demais quem você é, e você é demais para isso.

-Alina..._ouço outro soluço, então a abraço, forte.-Obrigada, eu precisava mesmo ouvir isso.

*

Depois que Anna se recompôs e finalmente se acalmou, saímos do escritório conversando assuntos totalmente avulsos. Ela ainda não está cem por cento bem, mas disse que quer aproveitar a festa que Louis preparou para ela.

Quando os rapazes a viram, rapidamente vieram em sua direção. De certa forma, fico encantada com a cumplicidade e o cuidado deles com ela.

Apenas diga que me amaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora