Capítulo Vinte & Oito: Latatente luxuria

32 4 5
                                    

_Está preso o suficiente? - Lorenzo perguntou, ao apertar meu colete, que mais parece um macacão do que qualquer outra coisa.
_Sim amor! - Falei, olhando para ele.
_Se algo der errado, entre no carro e vá para um lugar seguro Laura! Não seja teimosa! - Lorenzo falou.
_Nada vai dar errado! - Falei.
Lorenzo me fez mudar de ideia faz algumas horas sobre o plano, eu vou para o racha e ele vai no meu lugar, com Ayla, para o carro de Ross, segundo ele, me colocar lá dentro, é arriscar demais e mesmo que eu queira discordar, não pude, sei que não é mais só a minha vida em risco e preciso cuidar também do meu bebê.
Meu pai me mandou uma série de mensagens, o homem está ficando mais paranoico com a vinda do neto, ou, neta.
Rafael/Cobra, está pirando também, segundo ele, ele queria estar aqui e só não está porque Beatriz está doente e precisa dele.
Tia Jade e minha mãe me ligaram, as duas, junto com a tia Analu estão programando um lindo chá de bebê, o qual eu não pedi mas sempre sonhei em fazer então, deixei que elas facilitassem meu trabalho.
Gustavo vai estar no carro comigo, eu e ele quase saímos no tapa ontem por conta da sua insistência em relação a ir comigo de qualquer maneira.
*Flashback Início*

_É burrice sim! Você se enfiar em um racha, contra ele, carregando MEU afilhado! - Gustavo enfatizou o "meu" olhando para mim, andando de um lado para o outro.
_Primeiro, para de me chamar de burra, segundo, você não pode usar esse bebê para tudo! Eu sempre ganhei os rachas, não vai ser agora que vou deixar o carro ficar descontrolado! Não seja infantil! Você me ensinou a dirigir! - Exclamei, furiosa.
_Eu vou com você ou ninguém sai desse hotel! - Gustavo fala, me encarando.
_Tá de brincadeira Gustavo!? - Encaro ele.
_Quer pagar para ver? - Gustavo perguntou.
_Parem de ser infantis, por favor! Deixa ele ir Laura, nunca se sabe quais são os planos de Ross! Além de que, todos nós vamos estar mais confiantes! Parem de brigar, estou com dor de cabeça! - Ayla falou, visivelmente irritada, talvez mais que nós dois juntos.
_Falou igual minha mãe! - Falei, Ayla revirou os olhos e se jogou no sofá.
_Quer massagem? - Gustavo perguntou, malicioso.
_Quero parar de ouvir sua voz! - A loira rebateu, sem olhar para ele, que soltou uma gargalhada.
*Fim do Flashback*

_Estão prontos? - Kent perguntou.
Kent está vestido todo de preto, da cabeça aos pés, ele está tenso, motivado pela vingança que o aguarda.
_Estamos! - Derek falou.
_Vamos nessa! - Kent falou, arrumando a postura.

************
O local do racha não é nada amigável, vejo os membros da gangue que Ross comanda por todos os lados, estamos em um carro blindado com película escura, mas nunca se sabe o que se passa na mente de um lunático.
Gustavo engoliu o orgulho e me deixou dirigir, Lorenzo e Ayla estão prontos para entrar em ação assim que Karl der o sinal, o show, vai começar.

Narração: Karl Markov.
Local do racha.

Eu tomei a decisão de ser soldado das forças armadas aos doze anos, onde literalmente, depois de assistir um filme do capitão América decidi que seria igual à ele.
Aos doze anos se sonha alto e não se entende os traumas que essa escolha traria.
Aos dezoito, larguei minha família, amigos e namorada, para me alistar, foram seis anos de forças armadas até que, de alguma forma chamei a atenção de alguém dentro do governo, então, me colocaram para ser a peça que faltava em uma equipe.
Treinei meu corpo para ser mais resistente que minha mente, as pessoas dizem que reconhem um militar a quilômetros de distância, o jeito como nos andamos, nossa postura, o modo como analisamos cada pessoa e possível inimigo ao nosso redor.
Estampo agora um sorriso torto, enquanto tomo mais um gole de whisky, preciso ver Ross e a nova equipe dele, se assim ele chamar.
Forjar a minha morte não foi a pior parte do que a vida de militar me trouxe, nem mesmo as cicatrizes adquiridas nas missões, a pior parte é ver a família que eu criei, os amigos que fiz, se perdendo, virando apenas caixões na soma de números.
Callie merecia mais.
Natalie merecia mais que essa porra toda.
Kent..
Infelizmente eu entendo a dor dele, perder pessoas não nos faz mais forte, nos faz esperar o pior de todos, de tudo, a nossa volta.
_Mais uma? - O atendente pergunta .
_Dispenso! - Falo.
Achei Ross a alguns metros de mim, ele parece em dúvida sobre estar alucinando e sobre, eu ser burro ao ponto de vir até aqui.
Sorrio, perverso e aceno para ele, balançando o copo quase vazio que seguro.
O olhar de raiva de Ross me atinge enquanto mantenho o sorriso.
Te peguei, corno.
"Ele está aqui! Iniciamos o plano! "
Digito rapidamente, fazendo Ross perceber, ele sabe que todos foram dados como mortos mas não sabe quem fez isso, e além da máfia, só a C.I.A faria algo assim.
Três homens se posicionam em frente a Ross quando me aproximo.
_Você não estava morto? - Ross perguntou.
_Estou. Por isso você deveria ter medo! - Rebato, sorrindo.
_O que você veio fazer aqui, sozinho? - Ross perguntou.
_Ver o seu rosto de princesa! - Falo.
_Ironia nunca foi seu forte! - Ross fala.
Me sentei ao lado dele.
_Inteligência também nunca foi o seu! Por isso, sugiro que levante essa bunda gorda da poltrona e me siga! - Exclamo, fechando os punhos.
_Veio me ameaçar? No meio do meu pessoal? - Ross perguntou.
_Eu nunca te ameaçaria! Temos uma história! - Falo, sarcástico.
_O que você quer Karl? - Ross perguntou.
_Te distrair! - Falei.
_Me distrair? O que você ganha com isso? - Ross pergunta.
_Eu não.. ele! - Olho para Kent, que agora acena diretamente da pista de corrida.
_Eu vou matar vocês! - Ross pragueja.
_Não se pode matar quem já morreu! Você deveria saber disso! - Falo, socando ele.

Narração por: Kent Hilick

Karl deu um soco no rosto de Ross que me fez sorrir, ver Ross cuspindo sangue, com toda certeza fez minha noite muito melhor.
Karl se aproxima de mim, entrego a chave da moto para ele, o mesmo põe o capacete e acena, acelerando a mesma.
Por mim, colocaríamos esse lugar a baixo, explodindo a merda toda, mas agora, preciso fazer o que um líder descente faria, agir com calma, diante do homem que matou Callie, Natalie e toda a minha primeira equipe de combate.
Sinto falta deles.
Era uma equipe formada apenas por homens, eu, Andrew, Maxion, Elói, Falcow - O qual na verdade de chamava Martin - Lúcio e alguns recrutas, explodiram nosso centro de treinamentos, eu estava no lado de fora, na piscina, tínhamos voltado de uma missão e nossa guarda estava baixa, todos morreram, eu fiquei oito meses no hospital, seis na reabilitação, então, outra equipe.

Jay, Derek, Lorenzo, Karl, Natalie, Jane e Michael.

Sei porque a C.I.A nos colocou lá, no campo de batalha, não tínhamos quase nada a perder e me colocar como líder foi besteira, loucura, no começo, eu mal conseguia me manter sóbrio, os terrores noturnos eram uma merda, eu vivo o dia da explosão desde que ela aconteceu, todos os dias.
A equipe, cada um de nós tinha uma qualidade.
A calma de Jane. Compaixão da Natalie. Inteligência do Lorenzo. Os planos de Derek. A destreza de Michael e eu, o líder perfeito, o soldado exemplar, tão fodido quando chegou na equipe, que Derek, Lorenzo e Michael tiveram que esconder as bebidas.
O luto não machuca tanto quanto a culpa.
Tiraram isso de nós.
Natalie.
Ela merecia mais.
Sempre mereceu.
Eu via como ela tinha um coração bom, isso me irritava no começo, ela nunca gritava, nunca ficava brava, ela sempre fazia nosso café da manhã e deixava remédios para a minha ressaca, ela me inscreveu no programa de tratamento psicológico e ia nas sessões comigo.
Odiei tanto perder ela.
Ela era minha irmã, ainda que não dividissemos o mesmo sangue.
Minha irmã...
Lorenzo quase morreu sem ela, agora eu entendo a dor dele.
Quando Laura e Callie chegaram, Callie me lembrou tanto ela que eu quase a odiei, ela sempre sorria, o modo como ela fazia as coisas, o jeito que comprava rosquinhas do sabor favorito de todos, o modo como passava a mão no meu rosto, ou, segurava minha mão antes das missões.
Callie...
Eu daria minha vida para ter ela de volta.
Deus, eu faria tudo.
Respiro fundo e entro no carro, dando partida no mesmo.
"Laura, vamos fazer a troca!"
Digitei, Ross está entrando no carro agora.
Acelero o máximo que posso e passo por o carro em que Laura e Gustavo estão.

Me pergunto todos os dias como Lorenzo se apaixonou por Laura, ela é tão diferente de Natalie, a forma de agir, a personalidade, o jeito que ela assume o comando sem ninguém ao menos pedir, o modo como ela analisa cada pessoa ao seu redor.
Mentalmente ela deve ter um plano B, um C, talvez um alfabeto todo de planos.
Laura seria a líder perfeita, coloquei isso no meu relatório.
"Estamos dentro"
Lorenzo fala.
Lorenzo tem insistido para que eu largue a C.I.A, me pergunto se sei fazer outra coisa além disso, viver a margem do perigo.

Narração por:
Lorenzo Albuquerque.

Dizem que é impossível criar a equipe perfeita, eu discordo, porque, eu vi a equipe perfeita ser criada, diante dos meus olhos, como uma linda obra de arte, que foi, destruída aos poucos.
Dentro do carro de Ross eu espero ele morder a isca, Ayla está deitada ao meu lado, estamos no ponto cego do carro, que para a minha sorte existe.
_Vou matar eles! Estão todos aqui? - Escuto a voz de Ross próxima ao carro.
_Abaixa Lorenzo! - Ayla sussurrou, me puxando para baixo quando fui conferir se ele havia realmente entrado.
"Alvo encontrado!"

Talvez devêssemos seguir nossas vidas, como pessoas normais fariam depois de aceitar que coisas ruins acontecem com pessoas boas, mesmo que não devam, mesmo que pessoas boas jamais se deem conta do quanto podem ser ruins, mesmo que a dor causada por alguém ruim por dentro, não mereça a bondade de quem tem paz no coração.
Essa merda toda, não deveria acontecer.
Mas ela acontece.
É real.
Traidores existem.
Esse será o fim de um deles, sinto a raiva dar lugar a adrenalina e a luxúria, agora, tudo que eu quero é ouvir o grito latente de dor de Ross, e eu estou tão perto disso, que me controlo para não sorrir.

Diante Do Seu Olhar - Livro 2 - Where stories live. Discover now