46 - Acampamento

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- Maldita hora que inventei de fazer karatê - digo, assim que chegamos no dojô.

- No fundo, eu sei que você gosta - Miguel diz, e nós rimos. 

Assim que entramos no dojô, vejo Sam sentada dentro de um carro amarelo, e percebo a expressão do Miguel mudar. Digo que iria pros fundos e ele assente com a cabeça e caminha em direção ao carro, assim que coloco meus pés na parte de trás do dojô, vejo Demetri e alguns meninos, carregando pedaços de tábuas. 

- O que tá rolando aqui? - pergunto para o Demetri, que analisava cuidadosamente um esboço no tablet em sua mão. 

- Vamos montar um deck para treino - ele diz, virando o tablet na minha direção. - Olha que ideia genial, Eli que desenhou, ele é muito bom em design. 

- Muito... - digo com desdém. 

- Se não tá afim de ajudar, pode voltar pra casa - Falcão diz, e me viro abruptamente e me deparo com ele trás de mim. 

- Eu só não entendi uma coisa - digo, e percebo que ele e Demetri prestavam atenção em mim. - Você criou isso tudo, antes ou depois de transar com a Moon? - digo, o olhando seriamente nos olhos, e o percebo empalidecer. 

- Co-como é? - ele pergunta sem jeito, e pigarreia.

Arranco a marreta de suas mãos e caminho até uma das cercas e começo a marretar, enquanto escutava o murmurinho se formar atrás de mim. Depois de derrubar todas as cercas, vou até Sam e Miguel, e os ajudo a carregar algumas tábuas de madeira, enquanto contava para Sam do episódio de ontem. 

- Eu não acredito que ele foi capaz de fazer isso! - diz Sam, incrédula.

- Ah, mas ele foi - digo, com raiva impregnada em minha voz, e cenas deles se beijando surgem em minha mente.

Olho na direção do Falcão, e vejo ele conversando com Sensei Lawrence e o senhor Larusso. Como sou capaz de amar alguém que me machucou? e sinto meu coração apertar. De repente, a voz do Miguel intercepta meus pensamentos, e ele começa a falar com a Sam sobre os Senseis terem se acertado, mas nem presto atenção. Quando estava perto do horário da escola, corremos nos trocar e partimos para lá. Sam nos dá uma carona até o colégio, e percebo que nem tinha visto o tempo passar, quando chegamos, o sinal havia acabado de bater e corremos direto para a sala. Minha primeira aula seria de matemática, juntamente com o Miguel, assim que entramos, o professor já estava na sala e nos olha feio, corremos até a carteira segurando o riso. 

- Tenho um recado para dar - diz o professor, que apoia a costas na lousa e cruza os pés. - Nesse final de semana, teremos uma excursão até o acampamento Creek Settlement - ele diz, mas é interrompido pela comemoração do alunos. - Continuando, depois do último ocorrido, acho bom vocês não tentarem nenhuma gracinha. - ele diz, e novamente é interrompido pelo riso dos alunos. - Entregarei as autorizações, elas precisam ser preenchidas e entregues na secretaria até quinta-feira - ele diz, e começa a entregar as autorizações. 

- Que merda é essa? - pergunto ao Miguel.

- Todo ano, a escola organiza esse passeio, mas ano passado não teve, porque no ano anterior, a reitora pegou alguns alunos do último ano fazendo uma orgia. - Miguel diz, e percebo ele segurar o riso.

- Fala sério - digo, sem acreditar no que acabará de ouvir. 

- É sério - ele diz, me olhando nos olhos. - Ninguém sabe quem foi, mas aconteceu. 

- Senhorita Allen - diz o professor, me entregando a autorização. - Senhor Diaz - e ele entrega outra para o Miguel. 

O professor termina de entregar as autorizações e o Miguel me conta um pouco mais sobre o tal acampamento. Nem vejo as aulas passarem, mas também, nem presto atenção em nenhuma delas. Qual bate o sinal do intervalo, caminho até o refeitório, e vejo Falcão ao lado de Moon, na nossa mesa, respiro fundo e caminho até lá. 

Um passado sem compaixãoWhere stories live. Discover now