2 - A praia

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Já se passaram algumas semanas desde a minha chegada a cidade, já conhecia as praias, shopping e a escola, e particularmente não vi nada de interessante. Na escola mau olham na minha cara, já que sou apenas a novata esquisita. Se fosse apenas a esquisita na escola estava bom, mas a verdade é que sou uma esquisita em meu próprio corpo, eu não me reconheço mais, eu não era assim e não sei o que fazer para que as coisas voltem ao normal, ou pelo menos, para que eu volte ao normal.

- Zaryna, precisamos conversar... - sou interrompida pelas batidas na porta de meu quarto, e pela voz do meu pai ecoando por todo o cômodo.

- O que houve? - digo, me ajeitando na cama.

- Já fazem semanas que chegamos e até agora você não fez um amigo se quer, mau sai desse quarto.... e o pior de tudo, você nem está se esforçando, nós nos mudamos pra cá para termos um recomeço, se não fosse por isso, não teria razão para termos vindo. - percebo em seus olhos a angústia e decepção, eu juro que estou tentando mas não é fácil, e me doí muito perceber que no processo estou magoando meu pai.

- Pai... eu não sei o que te dizer.... e-eu... - sou interrompida por ele.

- Você precisa se esforçar mais, é só isso que estou te pedindo, eu também recomecei do zero mas... - dessa vez quem o interrompe sou eu.

- Mas nada, não foi você que passou por tudo que EU passei, e por mais que queira pai, você não pode mudar o que aconteceu e muito menos as consequências que isso ME causou! - nessa hora me levanto da cama, agacho pego minha mochila, vou em direção a sala e saio porta a fora.

Depois de aproximadamente uns 30 minutos de caminhada chego a praia, eu sai de casa sem nenhum rumo, apenas para esfriar a cabeça, e acabei vindo pra cá... a praia foi um lugar que sempre me acalmou, na minha antiga cidade só tinham ''praias'' de água doce (se é que aqueles lagos enormes com uma faixa de terra na borda podem ser chamados de praia), mas eu sempre viajava para praias de verdade com o meu pai. Tiro meus tênis, coloco minha mochila no chão e me sento na areia, sinto a areia grudar em minha roupa, mas nesse momento eu nem me importo... fico alguns minutos apenas sentada de olhos fechados respirando a maresia e sentindo a brisa fresca bater sob meu rosto. Decido então pegar meu caderno e ver se o pôr do sol me da alguma inspiração para desenhar, arregaço um pouco as mangas do meu moletom, abro minha mochila e tiro meu caderno e lápis de dentro e os coloco em meu colo, começo a olhar ao meu redor, então vejo uma criança toda lambuçada de sorvete; casais sentados sob toalhas para apreciar a vista; famílias arrumando suas coisas para voltarem para casa; e quando percebo, em minha frente havia um garoto sentado com a cabeça entre os joelhos, ele tinha cabelos pretos com as pontas pintadas de vermelho e usava um moicano... pera aí ele tava usando um moicano?! Rio comigo mesma por ter achado tão impressionante alguém usando um moicano. Como nenhuma inspiração surge, coloco minhas coisas de lado e pego meu celular que estava dentro da mochila, e vejo que havia 15 CHAMADAS PERDIDAS DO MEU PAI!! Cara eu to fodida, me levanto e mando uma mensagem pra ele.

Desliguei meu celular, desculpe. Vim dar uma volta na praia e já estou voltando pra casa.

Guardo o celular no bolso do meu moletom, pego minha mochila do chão e começo a me agachar para pegar o restante das minhas coisas, mas sem querer acabo chutando a porra do meu caderno no menino do moicano. Sério, meu dia não tem como piorar. Ao sentir meu caderno em suas costas, o menino olha para trás, pega o caderno e levanta.

- Deveria ser mais cuidadosa! - ele diz enquanto franze o cenho, percebo que ele estava irritado e isso ME deixa irritada, é só a porra de um caderno, não é como se eu tivesse chutado a mãe dele.

- Ah vai se fuder... - digo enquanto reviro os olhos e caminho com o braço esticado na direção dele para ele me devolver o caderno.

- Você tá falando disso? - ele diz enquanto estica seu braço para que meu caderno fique no alto, agora sua postura mudou de furioso para engraçado. Esse cara tem quantos anos?? Sério que a essa altura ele vai ficar de joguinho? Vai a merda.

- Nossa como você é um gênio!! Vai, me da logo essa porra!! - digo, enquanto tento pular para arrancar o caderno da mão dele, mas acabo me desequilibrando e caio no chão. Me levanto puta da vida, dou as costas pra ele e apenas grito.  - Quer saber? Pode ficar com essa merda de caderno, babaca.

Começo a caminhar em direção a orla, furiosa, até que percebo ele correndo em minha direção e colocando a mão em meu ombro, o que me faz virar em sua direção.

- Ou espera, eu só tava brincando com você! - ele diz, enquanto ri.

- Idiota - digo, e arranco o caderno de suas mãos e vou em direção ao ônibus.


notas da autora: iai conseguem adivinhar qual o segredo que Zaryna esconde?? Por favor deixem a opinião de vcs, pra eu saber o que estão achando.

Um passado sem compaixãoWhere stories live. Discover now