45 - Adeus

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Lágrimas inundavam meus olhos, mau conseguia dirigir, a melodia de "love song" da Lana Del Rey havia acabado de começar a tocar, e reverberava por todo o carro. Eu não podia acreditar que ele havia feito isso com o nosso relacionamento, comigo. Eu o amei, não sei se do jeito certo, mas o amei. Cada detalhe, cada erro, cada acerto, cada gesto. Ele era meu. Eu era dele. Ou pelo menos, era o que eu pensava. Mas eu estava certa? A essa altura, já não tinha mais certeza. E se ele só me usou porque a Moon estava em outro relacionamento? Ele seria capaz de fazer isso? O meu Falcão, com toda certeza não, mas aquele não era o meu Falcão. Eu realmente o amei? Ou amei alguém que eu inventei? Eram tantas perguntas sem respostas. Eu só tinha certeza de uma coisa, de como o amor pode doer. Já havia sentido vários tipo de dor, mas essa era diferente. Eu já remendei meu coração muitas vezes. Quando minha mãe morreu, quando fui estuprada, quando todos viraram as costas pra mim, mas não sei se aguentaria remendá-lo mais uma vez. 

Quando me dou conta, havia acabado de chegar em casa e estacionar o carro. Apoio a testa no volante por um momento, e respiro fundo algumas vezes, mas era como se o ar não quisesse entrar nos meu pulmões. Desço do carro, ainda com as mão tremendo e chorando, quando estava caminhando até a minha casa, ouço uma voz chamar meu nome. 

- Zaryna? - o Miguel perguntava, ele estava descalço e usando um moletom, enquanto segurava um saco de lixo, ao lado do contêiner. 

Ao vê-lo, caminho em sua direção, sem dizer uma palavra, e apoio minha cabeça em seu ombro e ele me abraça. "tudo vai ficar bem", era o que ele dizia, mas ainda sim, eu não parava de chorar. 

- Acabou - digo, entre soluços. - Ele está com a Moon agora - forcei para que aquelas palavras saíssem da minha boca, a ficha ainda não tinha caído. 

- Eu não acredito que ele foi capaz de fazer isso - diz Miguel, ele estava tão decepcionado quanto eu. 

- Simplesmente, acabou assim - digo, e forço um leve sorriso de lado. 

Miguel joga o lixo na caçamba com força, e volta a me abraçar. Ele sabia o quanto precisava dele agora. Ele acariciava o meu cabelo, enquanto me dizia para ficar forte, e eu assentia, sem dizer uma palavra se quer, e  aos poucos, ir  me acalmando. 

- Ele é um completo babaca! - diz Miguel, e a amargura tomava conta de suas palavras.

- Não quero que você fique bravo com ele - peço, eu estava magoada com a situação, mas não admitiria que eles brigassem, não por minha causa. - Me prometa que não vai falar nada pra ele!

-  OK... - ele cede, mas percebo ele travar o maxilar, mostrando o quanto estava insatisfeito com isso. - Eu odeio te ver assim

- E eu odeio me sentir assim... - digo, como se fosse uma confissão. - Preciso entrar, mas queria ficar aqui com você. 

- Eu também, mas amanhã precisamos acordar mais cedo que o normal - ele diz, e me pergunto o que teria amanhã de manhã, e ele parece perceber a minha dúvida. - Karatê, lembra? Amanhã vai ser na parte da manhã.

- Nossa, real - digo, e eu nem me lembrava mais, maldita hora que concordei com isso. - Então até amanhã - digo, e ele me abraça mais uma vez. 

- Até, baixinha! - ele diz, e sorri pra mim. - Não se atrase! 

Caminho até as escadas e vejo Miguel entrar em sua casa, então subo até a minha. Estava rezando para o meu pai não perceber a minha cara de choro, não queria explicar para ele toda essa situação, pelo menos, não nesse momento. 

- Voltou cedo - meu pai diz, assim que me vê entrar pela porta da sala.

- Eu falei que voltaria - digo, e me forço a dar um sorriso. 

Um passado sem compaixãoWhere stories live. Discover now