41 - Sangue e Plumas

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Já eram por volta de 10:30 da manhã, eu e o Falcão estávamos assistindo Demolidor pelo meu computador, então ele pede para eu pausar porque ele iria ao banheiro. Pauso e pego meu celular que estava em cima da mesinha de cabeceira, vejo que a Ash havia me mandado mensagem, ela estava pedindo para eu ir ajuda-lá hoje a tarde com a organização da festa. 

Óbvio que eu vou!! Te aviso quando estiver indo para aí!  10:37

Assim que envio a mensagem escuto uma voz vinda do corredor. 

- Que porra é essa!? - ouço a voz de meu pai dizer, e rapidamente me levanto da cama. Quando chego a porta do meu quarto, me deparo com meu pai encarando o Falcão, apenas de cueca, na porta do banheiro. FUDEU. 

- Pai... - digo, mas o Falcão me interrompe.

- Acho melhor eu ir... - ele diz, e percebi a vergonha em sua voz. 

- Você não vai a lugar nenhum. - diz meu pai, com uma voz firme e raivosa. - Bota uma roupa e vai pra sala! - ele ordena, e Falcão apenas abaixa a cabeça e o obedece. 

Falcão entra em meu quarto e bate a porta atrás de mim, me deixando sozinha com o meu pai no corredor. Abro a boca para tentar me explicar, mas meu pai apenas levanta a mão, como quem diz que não quer saber, e me da as costas e segue para a sala. Entro no banheiro, pois não queria olhar para a cara do meu pai nesse momento, lavo o meu rosto e então meus olhos se deparam com uma embalagem de camisinha jogada no chão, a pego e saio do banheiro. Assim que saio do banheiro, me deparo com Falcão saindo do meu quarto, nós nos olhamos e seguramos o riso, estávamos fudidos. No caminho até a sala, dou a embalagem na mão dele, que rapidamente a coloca no bolso de sua calça jeans. A mesa estava posta com alguns donuts e panquecas.

- Sentem-se - meu pai ordena, e nós obedecemos sem excitar. - Então... você que é o Falcão - meu pai diz, não como uma pergunta, e sim, como uma afirmação. 

- Sim senhor - Falcão diz, agora olhando para a cara do meu pai. - Desculpa senhor Allen, não era assim que esperava me apresentar formalmente ao senhor. - Falcão se desculpa. 

- É... nem eu - diz meu pai, então ele retira a arma do coldre e a coloca sob a mesa, e no exato momento percebo Falcão engolir em seco e encarrar a arma com cara de espanto, e eu apenas bufo. Não acredito que ele estava fazendo aquilo. 

- É mesmo necessário isso? - pergunto e reviro os olhos, meu pai apenas me olha convencido e deixa a arma no mesmo lugar. 

Os minutos a seguir foram extremamente constrangedores. Falcão estava gélido de medo, o que eu até achei engraçado, já que nunca o tinha visto com medo antes. Meu pai fez inúmeras perguntas a ele, se ele fumava; se bebia; se já tinha usado drogas; e por aí vai. Eu achava patético toda aquela situação, mas era de se compreender depois de tudo que eu havia acontecido comigo, meu pai nunca admitiria, mas ele nunca se perdoou pelo o que aconteceu comigo. Ele se sentia culpado, culpado por não ter conseguido me proteger de um merda como aquele monstro, mas a verdade é que ninguém, além daqueles nojentos, tem culpa de nada. Quando terminamos de comer, Falcão nos ajuda a arrumar a mesa, então pega suas coisa e vai embora. Assim que ele sai pela porta, vou até o sofá e me sento ao lado do meu pai, e um silêncio ensurdecedor toma conta do ambiente.

- Me desculpa... - digo, enquanto mexia em uma mecha de cabelo, minha vontade era de sumir daqui.

- Se sabe que ele nunca mais vem aqui sem eu estar presente, né?! - meu pai diz, e percebo ele olhar para mim, mas eu ainda estava com a cabeça abaixada. 

- Então isso quer dizer que ele vai poder voltar?! - digo, agora olhando para ele, e mordendo o interior da bochecha de nervoso. 

- Vai. Mas só quando EU ESTIVER - ele diz, dando ênfase no "eu estiver". - Ele parece ser um garoto bom. - ele diz, e me olha pelo canto de olho, e quando olho para ele, ele sorri. 

Um passado sem compaixãoWhere stories live. Discover now