38 - Quebra-cabeça

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- Meu Deus, é sério isso? - ele diz eufórico. - Caralho! Tava demorando pra você se interessar - ele diz, então segura meu rosto entre suas mãos e me dá um selinho.

- Mas não vai achando que eu sou o próximo Bruce Lee - eu digo, então ele começa a rir.

- Nunca - ele diz, todo convencido. - Pra isso, você precisaria ganhar de mim. O que definitivamente não vai acontecer. - ele diz, e volta a assistir GOT.

Arranco o controle de sua mão e pauso a série novamente, ele então me olha segurando o riso, então começo a fazer cócegas em suas costelas e ele se contorce de tanto rir. Conversamos por mais alguns minutos, ele me pergunta se iria treinar no Miagi-do ou no Presas de Águia, então conto pra ele que agora é uma coisa só, ou pelo menos, era isso que o pessoal estava tentando fazer. Me pego pensando em sua pergunta, sei que seria uma coisa só, mas com qual karatê eu iria me identificar mais?! Então o celular do Falcão começa a tocar e eu saio daquele transe.

- COMO É QUE É?! - o Falcão grita ao telefone. - ONDE VOCÊS ESTÃO? TO INDO PRA AÍ AGORA! - ele diz e desliga a ligação. - Coloca um sapato, precisamos ir! - ele diz, se levantando da cama e colocando uma camisa.

- Ir pra onde? O que tá rolando?! - digo me levantando da cama e seguindo ele. - Toma cuidado! - digo, quando ele se desequilibra e se apoia na cômoda.

- As chaves do carro estão lá em baixo, você vai precisar dirigir. - ele diz com a maior naturalidade do mundo, eu ainda não tinha carta mas já sabia dirigir.

- Eu não vou a lugar nenhum até você me dizer quem era ao telefone - digo, cruzando os braços na frente do peito.

- Era o Miguel... - ele diz, e percebo que ele estava me escondendo algo.

- Aconteceu alguma coisa com ele? - digo, e começo a buscar na minha memória pra ver quando tinha sido a última vez que havia falado com ele, e lembro dele ter me mandado um vídeo um pouco antes de eu chegar aqui, não é possível que tenha acontecido algo com ele.

- Não exatamente... - ele diz, coçando a nuca. - Linda, precisamos ir é sério. - ele diz caminhando até mim.

- Ok. - digo e saio na frente dele. Eu sei que ele estava me escondendo algo, mas pela preocupação e o nervosismo em sua voz, decido deixar a curiosidade de lado e fazer o que ele estava me pedindo.

- Pera aí, você sabe dirigir? - ele pergunta, assim que me vê pegando a chave do carro. 

- Entra no carro vai - digo, e ele dá de ombros e me obedece.

Assim que entramos no carro, o Falcão coloca o endereço no seu celular dele e vai me falando o caminho. Confesso que ainda estava bolada por ele não me contar o que tava acontecendo, então não estava muito afim de falar com ele, por isso a maior parte do caminho mau conversamos. Cerca de 15 minutos depois estávamos na frente de uma casa de alto padrão, e eu estava me perguntando quem morava lá, até que vejo o Miguel sair pela porta da frente. Paro o carro e vejo o Miguel vindo na minha direção, dou a volta no carro e ajudo o Falcão a sair, e o Miguel faz o mesmo.

- Que bom que vocês vieram - diz Miguel, e pelo seu tom de voz, percebo que ele estava aflito com algo. - É a Sam - ele diz, quando nota a minha cara de preocupação, então me dou conta de que ele não estava aflito, e sim triste.

- O que aconteceu com ela?! - eu pergunto, mas ele não me diz nada e entramos na casa. 

Assim que entramos na casa, me dou conta de que ela era muito maior do que eu imaginava, vamos caminhando até a cozinha e vejo uma janela que estava coberta por uns plástico, e ao invés de vidros, havia papelão no lugar. Miguel nos guia até a área de fora, e avisto Sam sentada em uma mesa redonda de vidro próxima a piscina. 

- Da pra você me dizer o que ta acontecendo, porque esses dois não querem me contar. - digo para Sam, então assim que ela se vira pra mim, eu entendo.

Sam estava com uma bolsa de gelo apoiada em na maçã do rosto, ela também estava com a boca cortada e eu pude perceber um roxo instaurado em seu olho. Olho para ela e depois para os meninos, por um segundo eu fico desnorteada.

- Cobra Kai - Sam diz, e a raiva que ela sentia, chegava a ser paupável. - Cobra Kai, é a resposta para a sua pergunta. 

- Eles a atacaram quando ela estava fechando o dojô - explica Miguel. - Eu sabia que deveria ter ficado lá com você - ele diz, então dá um soco na mesa, na mesma hora, Sam se levanta e abraça ele.

- Não é culpa sua, ninguém podia imaginar - diz Sam, consolando o Miguel. 

- Na verdade podia sim... - digo, praticamente sussurro, mas percebo todos se virarem para mim. 

- Como assim? - pergunta Sam, Miguel e Falcão se entreolham.

- Tory falou comigo hoje - digo, e percebo eles esperando uma explicação. - Ela surtou comigo na aula de história, achei que estávamos de boa, até ela começar com um papo de que éramos inimigas agora. Ela disse que eu deveria tomar cuidado, que TODOS nós deveriam, principalmente o Falcão - digo, e percebo que minhas palavras foram um baque para eles. - Eu não levei a sério, não achei que ela estava falando sério - digo, e percebo o quão burra eu fui. Porra, como eu não avisei eles antes. 

- Você não tem culpa - diz Falcão, então ele vem até mim e me abraça. 

- Falcão tem razão Zary, você não tem culpa, nós deveríamos saber disso - diz Miguel. 

- Também... depois de tudo, claro que eles não deixariam de lado. - diz Sam, se sentando novamente, então todos nós nos sentamos. 

Eles me contam então tudo o que tinha rolado, descubro que um pouco antes de eu chegar na cidade houve uma briga, entre Cobra Kai e Miagi-do. Descubro também que o Miguel era do Cobra Kai, e que antigamente o dojô era controlado pelo Sensei Lawrence, até o Kreese roubar dele. Sam me conta também, que o Robby era do Miagi-do, e que eles namoravam, e que o Miguel e a Tory namoravam. Miguel disse que a briga toda começou por conta de que ele havia beijado a Sam em uma festa, enquanto ele ainda estava com a Tory, e que por conta do ciúmes, ela começou toda a briga. Eles me contam que essa foi a maior briga que houve entre eles, e também foi o estopim para tudo o que estava acontecendo hoje em dia, Miguel então me conta que o Robby havia jogado ele do segundo andar, por isso ele havia perdido o movimento das pernas por um tempo. Eles me contaram tudo, toda a história até chegarmos aqui, e um turbilhão de sentimentos estava passando por mim naquele momento. Era muita informação, era muito para absorver. Agora tudo fazia sentido, o quebra-cabeça havia enfim se encaixado, e agora eu conseguia entender tudo que estava rolando. Eu não estava aqui quando tudo aconteceu, mas agora eu ESTOU aqui, e a luta dos meus amigos, agora é a MINHA luta, e eu não entro em uma luta para perder.

- Então, o que vamos fazer?! - pergunto, e percebo todos olharem para mim com uma cara de espanto.  


Um passado sem compaixãoWhere stories live. Discover now