17. Certeza

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O silêncio ocupou aquela sala escura, sendo possível ouvir nada além do som das nossas respirações - a minha um pouco acelerada, talvez. Pisquei algumas vezes, me preparando.

- Eu saberia se você me contasse - falei calmamente. - Em vez disso, você apenas foge.

Manter a calma era difícil, mas necessário. Prometi ser compreensível e paciente. Ele tinha passado por coisas que talvez justificassem suas ações e escolhas.

Fechou os olhos, suspirando. Pouco bastava para entender que ele estava constantemente travando guerras internas.

- Não esta noite - disse, suave. Olhava para um ponto aleatório acima da minha cabeça.

- Estarei aqui quando estiver pronto.

Sua expressão mudou no mesmo instante e seus olhos se apressaram em capturar os meus. Havia uma certa confusão em seu rosto, talvez surpresa. Fez um breve aceno com a cabeça que eu apenas entendi como algo positivo, não querendo mais tocar no assunto.

Só então me dei conta de que não fazia ideia do que seria de nós depois que eu saísse daquela sala. Afinal, nossos bons momentos sempre acabavam comigo questionando a razão da sua estranheza repentina. Eu precisava trazê-lo de volta toda vez. Precisava mostrá-lo a realidade ofuscada por suas inseguranças.

- Mas nós... - comecei, cautelosa - estamos bem?

- Sim, estamos.

Vagas palavras jogadas sem contexto. Inúmeros poderiam ser seus significados, mas parecíamos nos entender. Bastava uma pequena ação ou expressão de nossos corpos para que as dúvidas fossem cesssadas e, para mim, ainda estar em sua presença já era o suficiente.

Ele continuava parado à minha frente e, apesar disso não definir nada, já esclarecia muita coisa. Retribuí de modo significativo para mim, encostando minha mão à sua e entrelaçando seus dedos aos meus. Toquei seu rosto, afastando os fios de cabelo que me impediam de ter a plena visão da sua face.

O toque, para mim, era uma das maneiras mais genuinamente belas de afeto. Ia além de sentir sua pele. E vê-lo se entregar, deitando seu rosto em minha mão e fechando seus olhos, fazia meu peito palpitar estranhamente. Meu corpo transparecia plena calmaria enquanto tudo dentro de mim ardia em puro êxtase.

Era tarde, eu precisava partir. Mas, antes, eu precisava de uma confirmação. Minha ansiedade não me deixaria dormir se qualquer fio de incerteza permanecesse em minha mente.

Me inclinei, aproximando nossas bocas entreabertas. Em vez de colá-las, fui em direção ao canto de seus lábios, depositando um beijo suave. Agi lentamente, com medo de afuguentá-lo. Mas desejava, constantemente, que fosse provada a certeza que suas palavras me deram.

Arrastei meus lábios pela extensão que as linhas de sua boca me apresentavam, nunca encostando. O desejo me consumia enquanto eu aguardava seu retorno, sentindo o formigamento causado pelo magnetismo que quase fazia minha boca encontrar a sua.

Pareceu uma eternidade, mas quando finalmente senti a maciez e precisão dos seus movimentos suaves, pouco bastou para que eu esquecesse tudo ao meu redor. Foi o momento clichê em que todo o resto do mundo desaparece. Apenas nós dois, nosso momento, nossa certeza.

A certeza que eu até então não tinha sobre o dia seguinte. Dessa vez, porém, eu sabia que o encontraria. Eu já esperava vê-lo antes mesmo de partir.

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A última semana de aula foi extremamente estressante. O fim de semana anterior à essa foi resumido em muito tempo de estudo e poucas horas de sono. Eu sabia que não teríamos paz na semana de provas e a única coisa que me motivava era pensar nas férias de fim de ano.

Hermione se isolou do mundo para que pudesse fazer suas revisões sem distrações, então aproveitei para estudar com Draco em todos os nossos momentos livres. Eu gostava de estudar com ele pelo fato de sabermos respeitar nossos limites e estarmos dispostos a tirar breves momentos para descanso - coisa que Hermione jamais faria.

- Sinceramente, eu não aguento mais - o bruxo murmurou, cansado. Fechou os olhos e apoio sua testa em cima de um livro que estava aberto sobre a mesa.

Estávamos na biblioteca, em um local mais isolado e próxima à janela. O ambiente estava quase vazio naquele horário, na manhã de um domingo, então aproveitamos.

- Está apenas começando, colega - respondi, rindo um pouco da situação apesar de estar em uma semelhante. - Preparado para amanhã?

- Não mesmo - respondeu com a voz abafada pelo livro.

- Aguente mais um pouco e logo estaremos nos despedindo.

- Por falar nisso... - levantou a cabeça, parecendo ligeiramente interessado - Onde vai passar as férias?

- Provavelmente aqui - dei de ombros. - Não estou afim de voltar para casa agora.

- Deprimente! Poderia passar uns dias comigo.

- Ah, claro - ri com sua inocência. - Aposto que seu pai adoraria.

- Ele adoraria conhecer a namorada do meu padrinho - brincou, agora com o rosto apoiado em sua mão e rindo de modo travesso.

Meu rosto esquentou levemente com o comentário, e precisei unir todas as minhas forças para parecer irritada. Joguei uma bolsa pequena nele, derrubando um livro e fazendo uma pessoa que estava próxima nos repreender. Foi preciso abafar risadas, é claro.

- Não estamos namorando! - cruzei os braços. - E quanto a sua namorada? Ele já conheceu?

- Mudando o assunto, não é? - cerrou os olhos.

Apesar da sua pose, percebi seu rosto pálido ganhar um leve tom rosado. Me forcei para não rir e deixá-lo ainda mais constrangido, abrindo meu livro novamente e voltando aos trabalhos.

Seria uma semana árdua, de fato, mas a repentina ideia de ficar em Hogwarts me pareceu estranhamente animadora.

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Nota: Autora se encontra triste por saber que nunca vai beijar o Snape.

𝑭𝒊𝒙 𝒀𝒐𝒖 | Severus SnapeKde žijí příběhy. Začni objevovat