6. Aproximação

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Havia algo sobre ele que me intrigava. Talvez fosse sua história, símbolo de bravura, mas que ainda guardava mistérios. Talvez fosse seu toque, suave para quem pudesse sentir. Talvez fosse sua voz que, apesar do grave estrondoso, era melódica...

Um homem que cometeu erros, certamente, mas que recebeu uma segunda chance. Porém, solitário o suficiente para que não pudessem enxergar suas mudanças e tentativas.

Ele havia construído inúmeras paredes, afastando quem quer que se aproximasse e criando o aspecto de um ser impiedoso e desprezível. Mas, naquele momento, eu sentia que havia muito mais nele.

Algo em mim pensava que não passava de um homem comum se recuperando da guerra. Outra parte, contudo, me dizia que a guerra ia muito além daquela em que lutamos, e as feridas eram mais profundas que as marcas em sua pele.

Essa parte fazia toda a minha mente trair meu corpo, me arrastando para lugares que, há poucos anos, seriam inimagináveis. E ele estava lá, em todos esses lugares. Ia além da curiosidade de decifra-lo. Eu queria, de fato, entendê-lo.

Pelo resto da aula, minha mente vagou pelas inúmeras possibilidades de aproximação, e eu me repreendia quase instantaneamente por desejar algo tão absurdo. Era mais forte que eu, entretanto, e eu precisava saber até onde aquele impulso me levaria.

Fosse por pensar demais e perder a noção do tempo ou por simplesmente ficar me sabotando e me colocando em situações na qual eu não saberia como agir, quando todos saíram, eu permaneci na sala, e não demorou muito até eu começar a caminhar em sua direção.

Ele parecia não ter notado minha presença, o que poderia ter sido uma oportunidade de sair e deixar todas aquelas questões para trás. Mas, apesar da razão implorar para que eu retornasse, eu prossegui.

Quando fique de frente à sua mesa, ele largou uma pena e, ao levantar a cabeça, seu olhar me alcançou. Confuso, mas pacientemente aguardando a quebra de um silêncio constrangedor que até então eu não tinha notado se formar.

- Eu gostaria de saber se... - comecei, ainda incerta do que dizer - você poderia me instruir com poções.

- E por que acha que precisa de aula extra, Srta. S/s? - ele respondeu, voltando a escrever em seu pergaminho - Você está indo bem.

- Não tão bem, como você viu. - continuei - Se eu me tornar uma professora de poções quando sair daqui, preciso ser, no mínimo, excelente.

- Professora? - ele me olhou novamente, curioso - Então acha que poderia trabalhar ao meu lado?

- Eu poderia roubar seu cargo, se quisesse. - cruzei os braços

- Então por que eu te ajudaria a roubar meu cargo? - quase não dava para notar que seu tom estava ligeiramente divertido

- Porque, como meu professor, você deve apoiar meus sonhos. - sorri inocentemente

- E seu sonho é roubar meu cargo? - ele recostou na cadeira, também cruzando os braços, e seus olhos semicerrados tentando me intimidar.

- Talvez. - respondi divertida, e por alguma razão me sentindo mais confortável com sua presença.

Ele não respondeu, voltando a escrever como se eu não estivesse ali. Suspirei, mas não tão decepcionada por ter imaginado aquele possível cenário. Estranho seria se ele simplesmente aceitasse, na verdade. Fui até minha mesa e peguei minhas coisas para sair da sala. Mas, antes que eu pudesse chegar na porta, seu tom quase entediado alcançou meus ouvidos.

- Fins de semana. Aqui.

Não consegui conter um sorriso, e por isso permaneci de costas para ele, logo saindo da sala antes que eu dissesse algo que pudesse fazê-lo se arrepender da decisão. Claro que ele ainda teria a chance, até porque estávamos falando sobre ficar numa sala com uma das pessoas que mais o irritaram durante seus anos em Hogwarts.

Quando saí, me surpreendi ao ver que Draco estava parado lá, supostamente me esperando.

- Aconteceu algo? - ele perguntou

- Não... - respondi, confusa sobre suas ações - Precisa de mim para alguma coisa?

- É que eu estava pensando... - ele começou a andar e eu o acompanhei - Trabalhamos bem hoje. Poderíamos estudar juntos, quem sabe?

Fiquei surpresa com sua pergunta. Draco tinha sido um garoto terrivelmente insuportável durante anos, mas eu ouvi coisas que poderiam explicar suas ações. Apesar da sua riqueza e de ter muitas pessoas querendo ficar ao seu lado, ele aparentava ser alguém solitário. Ele parecia ter se encontrado e, pela primeira vez, estava agindo de acordo com suas vontades. Não havia mais medo do julgamento ou um julgamento vindo dele próprio.

- Claro! - sorri - O que sugere?

- Fins de semana na biblioteca?

- Hm... - parei de andar, pensando no que dizer - Estarei ocupada nos fins de semana.

- Ocupada?

- Questões com o Professor Snape.

- Questões com o Professor Snape. - ele repetiu, tentando acreditar - Uau. Como eu disse: favorita.

- Cale a boca, Malfoy. - bati levemente em seu braço, o fazendo rir - Seu ciúme está cada vez mais evidente.

Continuamos andando e planejando métodos de estudo. Por vezes ele me fez rir e eu pensei sobre a pessoa aparentemente incrível que ele estava guardando há todos esses anos e que poucos tinham a chance de conhecer. Nos separamos em um corredor e eu encontrei Hermione.

- Onde estava? - ela perguntou assim que me aproximei

- Na sala. Não sentiu minha falta, Mione? - brinquei

- Oh, mas é claro. - ela revirou os olhos de brincadeira - Tive que ver a diretora, ela precisava da minha opinião para algo.

- O que? - questionei, agora começando a andar com ela até a próxima aula.

- Deveria ser um segredo por enquanto, mas vou te dizer. - ela suspirou para tentar conter o entusiasmo - Haverá um baile.

- Um baile? - eu a olhei, confusa - Qual a ocasião?

- Ela acha que precisamos de algo para nos animar, depois de tudo.

- E ela acha que um baile é a melhor opção? - respondi com um leve desagrado - Imagina quão loucas as pessoas vão ficar ao esperarem os convites e terem que reservar suas roupas de última hora.

- Você a conhece. - ela respondeu, ainda animada com a ideia - Não entendo a sua preocupação, você certamente receberá muitos convites.

- Ah, querida, eu não irei. - ri com a ideia de me imaginar em um vestido, numa festa, e dançando - Seria um absurdo! Eu nem sei dançar, para começar.

- Ela falou que os diretores das casas ajudarão aos alunos.

- Merlin! - parei quando me dei conta de algo - Como serão as aulas de dança do Professor Snape?

- Sinceramente, eu não gostaria de saber. - ela riu baixo, abrindo a porta da sala de aula - Agora pense com calma e tente levar a ideia em consideração.

Revirei os olhos, não querendo discutir, mas fazendo-a me repreender e tendo que ouvir seu discurso sobre o quanto merecíamos uma distração. Eu apenas concordei, ainda achando irrealista a ideia de ir ao baile com alguém.

Mais uma vez, minha mente insana me trouxe imagens do meu professor dando aulas de dança e eu não pude evitar de me divertir com o pensamento. Eu passei a sentir um certo tipo de conforto e segurança com sua presença e o tipo de relação que estávamos criando, e estava ansiosa para descobrir o que poderia conseguir com nossa proximidade e tempo juntos.

Havia mais além da sua imagem, e eu estava disposta a tentar enxergar.

𝑭𝒊𝒙 𝒀𝒐𝒖 | Severus SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora