Esquecida

746 86 9
                                    

Mirella:

Aos meus 20 anos de idade, eu cometi a loucura de adotar Madelaine mesmo sem poder cuida-la. Meu pai havia me posto para começar a participar das coisas ilegais, eu não ficaria com Madelaine por muito tempo após sair do hospital por ter de voltar a minha rotina. Ela não teria meu apoio diário, mas mesmo assim a garanti uma vida mais que boa em questão financeira.

Ali, sentada ainda em sua poltrona, a analisando pela imagem das câmeras... pude perceber que ela ainda era a garotinha frágil que me socorreu após os tiros dados pelos seus pais. Eu ainda podia sentir suas mãozinhas delicadas tocarem meu rosto mesmo que meladas de sangue. Seus olhos verdes me olharem com desespero... e sua voz temerosa soar como a salvação.

Mas a sentia se perdendo como se perdeu quando meus olhos fecharam, o oxigênio passou a se tornar insuficiente até minhas entranhas começarem a agonizar pedindo por socorro. O sangue encher minha boca trazendo seu gosto metálico indescritível, e minha visão ficar turva sem nenhuma solução.

- Mirella: Você consegue... - sussurrei sozinha enquanto a observava colocar o contrato sobre a mesa e Vanessa a olhar confusa.

Madelaine:

- Vanessa: Acha que pode me manter aqui? - questionou me olhando convicta.

Me vi respirar fundo e fechar os olhos por alguns segundos.

- Madelaine: Não. - assumi. - Mas eu vejo você como uma das maiores modelos dessa marca, eu quero que seja capa da Colcci.

- Vanessa: Madelaine... - ela soou rouca, mas não me passava confusão.

- Madelaine: Assina. Michael Kopech não pode te levar a lugar algum, eu posso.

- Vanessa: Não é sobre me levar a algum lugar, é sobre amor.

- Madelaine: Amor? - eu sorri, mesmo que tudo por dentro estivesse se rasgando. - Já aceitei que não me ama e que talvez isso nunca aconteça! - ela levantou-se, passando por mim e indo em direção a porta. - Se passar pela porta, considere esse contrato inexistente. - a avisei sem olhar.

Ouvi seus passos prosseguirem, e o silêncio constante na sala me mostrou que a porta de vidro havia sido fechada, e por ela havia ido embora a mulher qual eu amava.

Mirella:

- Mirella: Porra!.. - quase falei alto demais.

Observei Madelaine cruzar os braços, respirar fundo e em seguida debruçar-se sobre a mesa de vidro. Havia perdido..

Uma relação entre jovens nem sempre é as mil maravilhas, e pra falar a verdade... é a fase em que talvez mais sofremos. Quase sempre não existe reciprocidade, e a dor da insegurança é trazida juntamente da insuficiência.

- Mirella: Ei... - toquei suas costas a fazendo erguer o corpo outra vez e olhar-me atenciosa. - Tudo bem? - questionei a olhando sorrir frustrada, movendo a cabeça em negação.

- Madelaine: Não estou bem e não posso impedi-la de amar aquele projeto de homem resultado em um fracasso.

Vanessa era realmente a melhor modelo da Colcci e isso não poderia em hipótese alguma ser negado. Mas talvez não fosse somente a proposta de um empresário famoso, e sim sim o começo de um sentimento... por mais que ele também fosse alguém duvidável.

- Mirella: Vamos comigo, pra casa.

- Madelaine: O mundo não precisa saber sobre mim e não quero voltar pra casa... - ela disse temerosa. - Você não gosta de ser pauta de internet e notícias, e eu não quero ser a notícia que eles vão dar.

- Mirella: Eu tinha 20 anos e você só tinha 9 Mads, sabíamos bem pouco sobre a vida e talvez ainda saibamos. Eu estava assustada, foi um dos períodos mais difíceis da minha vida e olha onde chegamos. - respirei fundo, sentando-se na cadeira em que Vanessa sentou a minutos atrás. - Não tenho mais medo da mídia. Não precisamos discutir sobre isso.

- Madelaine: Sabe como me senti quando as gêmeas nasceram e eu soube por uma fala falha do Lipe? - ela sorriu com os olhos marejados. - Como tudo em relação a você me passava ódio e negação? Era só você e as gêmeas após a morte de Bragança, eu me sentia uma abandonada outra vez no Kansas.

- Mirella: Eu precisava cuidar delas.

- Madelaine: E me deixar de lado? - questionou baixo e aquilo soou tão sincero que pude sentir a dor através de sua voz. - Eu continuei escolhendo tudo isso após sua decisão de me mandar pela primeira vez para uma escola interna, eu continuei, avançando para um intercâmbio, porquê tinha medo de voltar e perceber que tinha passado a me odiar como Ester odiava. Eu preferia e precisava passar o dia enfurnada em livros, ao assistir você me deixando cada vez um pouco mais para trás.

Madelaine:

E retornando um pouco mais ao passado, retomei.

- Madelaine: Eu era só a filha adotada que você pegou em meio a um surto interno... eu estava entre você e o relacionamento perfeito. - respirei fundo, me clamando por alguns segundos. - Eu ouvi a briga, três dias antes do falecimento dela.

- Mirella: Madelaine...

- Madelaine: Letícia gritava e eu podia sentir seu ódio em todas as frases ditas. Em como sentia raiva por você ter iniciado as papeladas para ter meu registro legal.. e quando soubemos que ela faleceu no parto, senti que eu havia sido a causa... o estresse gerado.

- Mirella: E mesmo assim escolhi registrar você, assumir a burocracia e ir contra a justiça.

- Madelaine: Por precisar, ou por me amar de verdade? - questionei confusa. - A sua vida sempre foi uma bagunça e eu era só mais uma parte dela... Você havia sido abusada em Ohio após ir embora por conta da sua família não aceitar sua sexualidade, seu pai te colocou na ilegalidade, você foi até a casa dos meus pais biológicos fazer uma cobrança e no fim acabou com três tiros espalhados pelo corpo e em meus braços porquê você era um idiota colocada naquele caminho sem ao menos entendê-lo. Se sentiu culpada por ter "destruído" a família que já não me aceitava, e então me adotou. Me levou pra sua casa na Colômbia dizendo para todos que era só por uns dias... seu pai nem podia sonhar que você havia me levado.

- Mirella: Você não era parte dessa bagunça. - tentou me interromper.

- Madelaine: Mas aí seu pai foi preso e você estava cada vez mais distante... Ester tomou coragem engravidando em seguida e Tommy me levou pro Kansas, você precisava cuidar da máfia, das empresas e da gestação das crianças precisando assim voltar pra Minnesota outra vez. Mas não podia me levar, Bianca, Muryllo e sua mãe não podiam nem se quer imaginar minha existência ou contariam pro seu pai, você era nova demais para ter filhos e claro não podia me deixar com a Letícia pois ela me odiava... você tinha responsabilidades maiores e eu era só uma criança sem solução.

Ela mal podia me encarar, se sentia envergonhada. Em meio às lágrimas silenciosa eu podia sentir sua insegurança.

- Madelaine: Você seguiu a vida e me deixou no passado. Você achava que as mensalidades de escolas caras, roupas de grife, seguranças e babás eram o suficiente, mas eu só precisava de você, e você não podia me ter.

- Mirella: Me perdoa... - ela disse em um sussurro.

Mirella:

- Madelaine: Você odeia estar perto de mim por achar que é como sua mãe. - ela sorriu triste, de canto. - Mas você não tinha escolha, eu não te culpo... você tinha responsabilidades maiores, e eu era só a bastarda enfiada no meio.

- Mirella: Eu não deveria ter te mantido afastada depois que meu pai morreu, deveria ter voltado ao Kansas e te tirado da escola interna.

- Madelaine: Mas não fez. - ela disse convicta. - Não quero voltar ao passado, não quero que me assuma como filha para o mundo. Não quero voltar com você, não quero correr o risco de que possa ir embora e me deixar pra trás outra vez.

Ela enxugou algumas lágrimas e eu me mantive em silêncio.

- Mirella: Não vou embora, nem te deixar pra trás outra vez.

4/10

La MáfiaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon