Capítulo 9 Victor Newton

5 0 0
                                    

         Meses atrás...

        Sabia que tal explosão tinha afetado meu cérebro, só não sabia que me faria ter que aturar pessoas desconhecidas me dizendo o que fazer, esse laboratório é maior pesadelo que eu poderia ter. Remédios, agulhas, essas flores enjoativas até que decidi por mim mesmo sair daquele cafofo branco e azul, os corredores parecem iguais pra mim, chegando ao sexto andar, percebi o quão movimentado é por causa dos sobreviventes assim como eu.

     Até que ouvi alguém respirando alto como se estivesse com falta de ar e não conseguisse recuperá-lo. Olhei pelo vidro escrito quarentena em vermelho vivo e notei uma garota ruiva, olhava para o teto ainda ofegante

    - Isso é asma? - Perguntei alto, mas a mesma nem pareceu ter me escutado. Como não havia ninguém por perto, arrisquei e entrei no quarto passando o mesmo crachá do meu médico que por sinal não desgrudava de mim a alguns minutos, repliquei a pergunta, fazendo ela me olhar.

     - O que está fazendo? - Diz, entre suas buscas pelo oxigênio. - Saia! Não pode ficar perto de mim. - Ela coloca a mão na garganta, tentando estranhamente ganhar ar porém, começa a arfar e engasgar ficando corada.

      - Espera, eu sei que tem uma bombinha por aqui. - Falei, fechando a porta atrás de mim e indo nos armários, pegando uma garrafa e máscara de oxigênio. Corri até ela, percebendo seu rosto roxo, a mesma tentou se afastar de mim enquanto colocava a máscara em seu rosto, mesmo sabendo que eu estava tentando salvar sua vida.

     - Pronto... Respire devagar. - Orientei, ainda segurando a máscara para não sair de seu rosto.

       A mesma me observa, agora calma por conseguir respirar, tocando sua mão na minha para conseguir segurar sozinha. Sua expressão muda depois que fixa seu olhar na mão onde me tocou.

       - Quem é você? - Fala, segurando a máscara contra seu nariz e boca e se afasta lentamente na cama.

      - Seu salvador. - Digo, convencido.

      - Victo... Victor Ne... - Tenta ela, obviamente tentando ler minha pulseira do laboratório.

    - Victor Newton. - Corrijo. - E o seu? - Questiono, pegando seu braço que contém a pulseira mas, antes que eu possa ler, ela puxa o braço de volta, assustada. - Calma ai, eu não vou te machucar, só queria ler seu nome.

    - Não é você quem pode machucar aqui... As pessoas geralmente nem conseguem respirar no mesmo cômodo que eu. - Disse, séria ainda com o semblante confuso.

    - Realmente, não sabe quem sou eu? - Ela pergunta.

     - Eu deveria saber? - Replico, interessado.

     - Estique sua mão, na minha frente. - Falou em um tom de ordem e assim fiz. A mesma segurou firme sobre minha palma externa da minha mão, soltando logo depois.

     - O que é isso? - Questionei, aproximando meu rosto. Linhas escurecidas parecidas com raios de tempestades, pequenas, bem no local onde ela havia tocado.

     - Suas veias, você é imune a mim. Acharam a cura... - Ela diz, parecendo surpresa.

     - A cura para...? - Digo, querendo que a mesma continue a frase.

    - Meu nome é Isadora Baker. Eu estava em Minnesota mas, aconteceu algo diferente comigo. Sou perigosa demais para ficar perto das pessoas... - Explica, sua expressão parecia ficar confusa ao me ver ainda a encarando.

    - Então, as pessoas que ficam em contato com você, morrem? Tipo um vírus fatal? Quanto tempo até que morram após o contato? - Supus, enquanto me sentava na cama ao lado de suas pernas.

    - É, sim. Instantânea.

    - E o porquê eu não morri seria o fato de que eu também sobrevivi a explosão, como aquele garoto, o cacheado, James? - Continuei a falar enquanto recebia diversas expressões suas.

    - Eu não sei. Nunca estive no mesmo cômodo que ele. - Ela diz. Nos últimos meses, descobrimos como lidar com o vírus se manifestava, não acompanhei todo o seu processo porque recebi alta e como eu morava com meu pai em Minnesota, acabou que eu não sei onde ele está e se ele está, então estou morando em um lar temporário, uma mãe temporária, um pai temporário e um irmãozinho temporário. Em menos de um mês eu faço 18, o que eu diria, independência mas, não é.

    Em menos de um mês, eu estou sozinho e órfão. Não é a história que irei gostar de contar aos meus filhos, ou netos, quem sabe? A família mora aqui em Seattle.

     - Gostaria de ovos mexidos, Victor? - Pergunta Karine, minha mãe temporária, ela estende os braços e derrama os ovos no meu prato após ver que eu assenti.

     - Bom dia! - A voz grossa de Frank ecoa pela casa até que chega a sala de jantar onde estamos todos tomando café da manhã. Meu pai temporário é bem animado e hiperativo, bem o oposto de meu pai mas, ainda gosto mesmo que seja irritante ás vezes. Sam, o garotinho de 9 anos que está sentado ao meu lado, quase caindo em cima do prato por conta do sono da manhã, ele é amigável até, agradável eu diria. Dividimos o quarto.

     - Karine. - Chamo a, pegando o papel de autorização da mochila.

    - Ah, sim? - Ela se vira para mim, observando o papel em minhas mãos.

   - Isso é uma autorização para que eu possa ir em um passeio ao Museu Nacional. Pode assinar? - Perguntei.

   - Hoje? - Questiona Frank.

   - Sim, por que? Existe algo pra mais tarde? - Replico para o mais velho. Karine prontamente toma o papel de minhas mãos para visualizar melhor.

    - Deixa de implicância com ele! Claro que poderá ir, vai ser de ônibus?

    - Sim, claro. - Respondo, pego o papel e me levanto da cadeira junto com a mochila. - Não se perca e tenha cuidado! - Ouvi Karine gritar enquanto eu saia de casa com pressa.

     Às vezes, Frank me proíbe coisas, como sair muito tarde, falar com pessoas que ele não conheça, ir à festas onde a presença de pais é quase rara. Não o culpo, porque eu faria o mesmo, ora, eu sobrevivi a muita coisa e ainda nem me formei, talvez, ficar em casa, comer tacos e ver um filme não seja tão mal assim... Na escola, eu sou invisível mas não seja por isso, eu adoro ser assim, as pessoas não fazem bullying, não observam, não se importam, nem me conhecem! É incrível, eu vou terminar este semestre com notas altas, formatura e ai, eu vou voltar para Minnesota e recuperar minha vida antiga, recuperar e rever minha casa.

    As instruções são não se perca isto é, fique perto dos monitores ou seja, preste atenção nos artefatos que valem milhões mas, como irei prestar atenção em algo que não vale nota alguma no meu boletim? Cuidado? Por que? Ninguém está me olhando, correto? As vantagens de ser invisível.  

     Espera, como irei me divertir se tudo o que eu tenho é estatuas estranhas e mal desenhas? Quando entrei no museu, tinha um monitor explicando coisas e mais coisas, até que eu estava entendendo algumas coisas quando sinto alguém tocar meu ombro repetidamente a minha esquerda.

     - Você é veterano? Nunca te vi por aqui e nem na escola. - A mesma fala, puxando assunto.

    - Ah, eu cheguei no início do ano. - Respondo, seguindo o resto de todos naquele corredor cheio de pinturas abstratas e ela também.

    - Eu sou a Margô, e você? - Eu respiro fundo, já sabendo que ela não iria parar no meu nome, peguei seu ombro e a fiz parar de andar, colocando a face a face comigo.

    - Eu acho que tenho que ir ao banheiro feminino. - Disse, fixando meu olhar no dela.

   - Eu acho que tenho que ir ao banheiro feminino. - Ela repete, fazendo assim logo em seguida.

    Entenderam? Eu não sou do tipo normal, não preciso de interação social para ser alguém, poderia ir para outro estado passar o fim de semana, enganar todos para ficar impune, e agora, tenho total liberdade para mas, não completa. Não a que eu tinha antes, parece que a explosão tirou algo de mim que não pode simplesmente ser preenchido com habilidades sobre-humanas e a cada vez que eu percebo isso, ela parece tentar compensar mas, não pode e ela sabe disso. 

Controles da Mente - OriginalWhere stories live. Discover now