Os destinos se cruzam.

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Era um dia como qualquer outro. Saí de casa às 7:00, andei até a estação de metrô e segui para Tóquio. 45 minutos, de onde eu moro até onde trabalho. Trabalho como fotógrafa para um jornal local.

Estava no período de férias da escola, tinha que fazer algo para conseguir uma renda extra já que o que o meu pai mandava quase sempre não era suficiente.

Tenho sempre que estar atenta ao que acontece ao meu redor, sempre pegando os melhores ângulos de seja lá qual for a situação. Não é grande coisa, mas serve para segurar as pontas. O dia estava frio, pateticamente frio.

Estava relutante para ver um raio de sol, mas parecia simplesmente que havia anoitecido, nuvens pesadas de chuva se formavam enquanto o dia cada vez mais escurecia.
De longe podia se ouvir os ruídos dos trovões começando a aparecer.

Ótimo, o dia mal começou. Chegando na estação final, de longe era notório um movimento anormal do outro lado, uma porção de pessoas juntas, com expressões de desespero.

Imediatamente ligo a câmera, mas a carrego discretamente, vou em direção à massa e quando finalmente consigo espaço para observar. Bingo! Um cenário de crime.

Para quem havia saído de casa cedo em jejum, aquele era um belo café da manhã.

Certifiquei-me de que o flash estava desligado e logo comecei a tirar fotos.

Um corpo feminino caído no chão, com pelo menos uns 15 ferimentos de arma branca pelo tórax e abdômen. Havia um rastro de sangue mas depois dos 10 metros ele ia se desfazendo. Logo chegavam mais pessoas e pediam para se afastar, a essa altura a polícia já estava a caminho.

Saí da estação e abri o guarda-chuva com a câmera na mão, analisando e escolhendo as fotos. Ninguém percebeu que eu estava fazendo dinheiro diante de uma situação crítica. Perdão.
Faltavam apenas 10 minutos para chegar ao meu local de trabalho, fico entretida demais olhando as fotos que esqueço o tráfego humano na calçada, inevitavelmente acabo esbarrando em alguém. A câmera pula da minha mão.

–Nossa! Perdão, de verdade!

–Meu Deus! Me desculpa!

O sangue foge do meu rosto quando vejo a câmera quase estilhaçar no chão, a pessoa que esbarrou em mim era absurdamente ágil e a pegou rapidamente.

–Você está bem? Se machucou?

Pergunta me entregando a câmera. Ele está completamente ensopado, francamente, devia pelo menos andar com um guarda-chuva. Percebo que sua respiração está ofegante, ele tem pressa.

–Estou bem, obrigada.

Ele continua me olhando, e eu por sua aparência também não consigo parar de analisá-lo. Está de uniforme, um uniforme diferente dos que já vi. Azul, com botões peculiares no capuz vermelho. Cabelo rosa (?) e marcas abaixo dos olhos.

–Desculpa a pergunta, mas você está vindo da estação de metrô?

–Ah, sim. Está um caos lá, se eu fosse você tentaria pegar outro transporte. Com certeza vão fechar a estação por hoje.

–Sim. Obrigado pela dica. Enfim, estou com pressa. Até qualquer dia é...

Fez uma pausa para eu dizer meu nome.

–S/N.

–Até, S/N!

Eu estava tão desconcentrada, vendo se a câmera havia quebrado que esqueci de perguntar seu nome. Continuei meu trajeto e cheguei à empresa.

–Novidades, quentíssimas!

–Mostre-me tudo, S/N!

Meu patrão e eu temos uma boa relação. Embora eu não receba a melhor remuneração de todas mas isso não é algo que me preocupe profundamente, no momento.

O dia foi cheio e produtivo que não vi a hora passar, a chuva não dava trégua lá fora. Abri o guarda-chuva novamente, o relógio já marcava as 18h.

Como eu havia recebido meu pagamento e um extra pelas fotos, resolvi passar no mercado para comprar algumas coisas, o problema é que o mercado era longe, mas não o suficiente para pegar um táxi, então resolvi ir a pé.

No caminho para chegar até lá havia um edifício abandonado. A rua onde se situava era estranha, principalmente à noite.

A cada passo que eu dava eu perguntava a si mesma: Era realmente necessário passar por aqui?

Não havia ninguém nesta rua, e a chuva caia incessantemente, a iluminação estava escassa.

Passando pelo edifício ouço uma voz chamando meu nome, lá dentro.

Se é que é possível, sinto meu coração pular uma batida, e engulo seco.

𝕷 𝖚 𝖝 𝖚 𝖗 𝖞 Where stories live. Discover now