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Eu estava impressionado com a ousadia de Carol. Desde o início, eu sabia que ela não era uma mulher que abaixava a cabeça, e mesmo assim eu insisti que a amansaria. Era louvável a jogada dela, e mesmo estando irritado por ter sido colocado em exposição para minha família, gostei de vê-la tão bonita e cheia de si. Foi uma surpresa agradável, e eu demorei segundos para aceitar que era mesmo ela, bem ali, sendo segurada por Miguel.

Eu não queria ela aqui, porque conheço a família que tenho: o Gerson, o Miguel, e principalmente meu pai, são os que não têm papás na língua e não estão ligando se vão ou não magoar a pessoa. Morri de medo só em pensar que o meu pai pudesse destrata-la. Não era o momento de eu confrontar meu velho, e com certeza eu iria para cima de qualquer um que se matesse a besta com minha Abacaxi.

— Vou ter que te apresentar a meu pai. - Resmunguei enquanto Carol se servia no buffet. - Antes que ele ache que é algo ilegal.

— É algo ilegal. Isso aqui está uma delícia. - Ela provou um canapé e escolheu mais alguns para seu prato. - Seu cunhado costuma ser um pé no saco?

— Você não viu nada. - Tomei um gole de champanhe. - Miguel está na aba do meu pai, desde que tinha uns dezesseis anos.

— Sério? Ele é parente? Primo, ou alguma coisa?

— Ele e minha irmã têm um elo muito forte. Na adolescência, ela estava a ponto de um surto, quando nossa mãe faleceu. Tivemos medo de que Dhiovanna fizesse uma loucura. Aí o Miguel apareceu na vida dela... - Parei de falar sem desejar de recordar aquela época conturbada. Carol até parou de mastigar para me olhar um tanto intrigada. Eu sabia que ela poderia estar pensando que nesse caso eu deveria ser grato ao Miguel.

— É, pode olhar com essa cara. Ele a ajudou, ele foi a tábua de salvação para ela, e devo confessar, que se não fosse por ele, minha irmã não estaria aqui hoje.

— Ah, nossa Gabriel.

— Eles têm uma história juntos. Às vezes, minha irmã ainda têm umas crises... Ele é o único que consegue colocá-la nos eixos.

— Mas tem algo que você não aprova. - Tentou adivinhar.

Eu ia dizer pra ela o, "mas" da questão, todavia meu pai veio sorrindo ao meu encontro.
— Gabriel. - Olhou para Carol se empanturrando de canapés e apontou para ela. - É a moça? Miguel me contou. -Tinha que ser o fofoqueiro.

— Pai, quero que o senhor conheça a Carol. Mora aqui mesmo no Rio de Janeiro, e é uma excelente cerimonialista, da mesma forma que faz deliciosos doces diets. - Os olhos de Carol brilharam de divertimento quando eu menti sobre os doces horríveis feitos por ela. - Além do mais, ela rouba muito, a atenção de qualquer um.

— Olha que coisa, temos uma mulher prendada. Olá querida. - Meu pai pegou a mão dela e beijou. -Valdemir Barbosa.

Graças aos céus ele gostou dela de imediato. Totalmente diferente de como agiu com a de Daniel anos atrás.

— É um prazer seu Valdemir. O seu filho é encantador, ele deixa qualquer uma adoravelmente. Presa - Alfinetou na maior cara de pau, com seu sorriso malicioso.

— Estou feliz que ele enfim tenha me apresentado alguém de verdade, e não aquelas moças que todo mundo sabia que eram só para disfarçar.

— Carol e eu estamos nos conhecendo, pai.

— É o suficiente. Hoje Gerson está noivando e você me apresentando uma futura namorada. Não poderia me deixar mais feliz.

— E o Thiago? - Joguei a isca. De todos nós, meu pai nunca cobrou do Thiago que ele se casasse, os dois não tinham uma boa relação.

MINHA REFÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora