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Sai rapidamente da cozinha. No quarto, me vesti na velocidade da luz e dei um "até logo" para a mulher que me olhava com cara de interrogação enquanto eu corria porta a fora.
Na lanchonete, tomando café da manhã, me senti solitária e dependente de um ombro amigo. Eu nunca tive amigos, a não ser Letícia, que sempre monopolizou minha atenção. Éramos inseparáveis, e ainda não acreditava no que ela tivesse sido tão baixa comigo, só para ter uma vida boa. Peguei o celular e toquei o número de Gabriel. Era a primeira vez que eu ligava para ele. Ele atendeu imediatamente.

— Como passou a noite? - perguntou logo.

— Bem. Que espetáculo é aquele na casa dos meus pais?

— Bruna já chegou?

— Gabriel, não queremos nada seu. Por favor, para de tentar.

— Você disse que eu poderia tentar te convencer. - Não havia estresse na sua voz, e isso me incomodou. Era com o se eu o quisesse louco, revoltado, arrancando os cabelos.

— Reformando a casa dos meus pais?

— E o que mais você queria? Que eu fosse cantar serena na sua porta? Eu quero te dar bem estar, Carol, não vou correr o risco de deixar um pedaço de gesso cair na cabeça da mãe do meu filho.

— Nossa. - falei apenas isso e me calei. Ele também estava calado, podia ouvir sua respiração, e tive a impressão de que se ele fechasse os olhos, sentiria ele ao meu lado.

— Por favor, volte pra casa, fique comigo, Carol.

— Não. Tchau. - Desliguei e tomei calmamente meu suco de laranja natural sem açúcar. Sem manipulação, sem Gabriel Barbosa.

Conforme os dias se avançavam a realidade me tomava completamente, fazendo meu corpo e mente aceitarem a boa nova. Automaticamente, algo inexplicável começou a mudar dentro de mim, como se eu visse a gravidez com outros olhos. Passei a ver fotos de grávidas, curtir páginas de bebê, ir para lojas de bebê e até marquei uma consulta com um obstetra.
E hoje, quatro dias depois de ter visto Gabriel pessoalmente, eu tive que recorrer a ele, passando por cima da minha promessa de que não precisaria dele. Gabriel me ligava todos os dias querendo saber do meu estado de saúde. Todas as vezes implorava para que eu voltasse e, como sempre, eu negava. Uma semana havia passado desde que eu tinha ido embora da fazenda, e mesmo assim, ele não cansava de pedir para eu voltar.
A reforma na casa dos meus pais estava em andamento, havia um carro pra mim na garagem que ele mandou entregar, pedindo para que eu não dirigisse sozinha. Ainda ontem pediu a Laerte para entregar várias guloseimas diets que ele pediu à Tereza para preparar. No bilhete que acompanhou a cesta, ele dizia:

O recheio do cupcake, eu mesmo preparei. É uma geleia de uva, receita da minha mãe. Tente não comer muito para não pesar o estômago, e por favor, meça continuamente sua glicose.

Gabriel Barbosa

E agora, voltando da consulta, eu lembrava do bilhete e tive vontade de chorar. Porque eu estava assustada, e de repente tive a necessidade de ter Gabriel por perto.
A médica me encaminhou para um obstetra especializado em gravidez de risco. Ela me
explicou que diabéticas devem planejar a gravidez por conta da glicose e dos diversos problemas que podem ocorrer. Má formação do feto era a coisa mais assustadora que eu poderia escutar. Ela me pediu para agir o mais rápido possível.

Sentei em um banco do lado de fora da clínica, peguei o celular e liguei para Gabriel. Como da outra vez, ele atendeu imediatamente.

— Oi, Carol.
Que droga! Eu não queria ter de depender dele. Mas era impossível agir sozinha.

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