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Eu até pensei em discordar, mas quando vi, já estava rodeada de mulheres me dando dicas do que fazer. Isabela pediu que trouxessem vestidos do meu tamanho, pois eu sou um pouco mais baixa que ela - todavia havia curvas mais acentuadas e uma generosa bunda que a genética me deu. Meu coração pulsava desesperadamente enquanto eu experimentava os vestidos. Em segundos, tinha passado de servente da Cinderela, e Isabela tinha se tornado minha fada madrinha, uma pessoa extrovertida e gentil que eu julguei mal precocemente. O vestido escolhido tinha um tom vinho escuro. O busto bem trabalhado com predarias e seu comprimento até um pouco abaixo dos joelhos, classificado como mídi, me deixaram muito elegante. Atrás era aberto, tornando-o sutilmente ousado. Elas trouxeram sapatos para combinar, e depois que saímos da loja, Isabela me forçou a ir a um salão que ele conhecia, ali por perto.

— A produção tem que ser completa, Carol. Gabriel tem dinheiro a rodo pra gastar.

Pegamos um táxi, pois ela tinha vindo com o motorista do pai dela, e no caminho Isabela ligou para Laerte, dizendo que precisou passar no salão e que lá seria o lugar para a limusine buscá-la.
—E se Laerte chegar antes e não permitir essa loucura?

—Deixa que dele eu cuido. - Piscou para mim, e suspeitei que ela queria mesmo "cuidar" dele.

O que importava era que o motorista da limusine não conhecia a acompanhante de Gabriel. Eu apenas torcia para não ser barrada na casa da família dele. O salão era de um homem gay, que nos atendeu prontamente e ficou eufórico quando Isabela contou o plano.
— Amores vocês vão pirar o homem. Venha aqui, eu mesmo irei te transformar na rainha da noite.

Eu tinha pintado sozinha meus cabelos curtos, na altura dos ombros. Ele aplicou uma nova tintura, deixando -o em um tom castanho escuro. Fez cachos e depois penteou de leve, para dar um ar volumoso. E depois que aplicou uma maquiagem bem feita, eu não acreditava no que via à minha frente. Eu estava completamente mudada. Outra mulher. Os olhos estavam bem marcados, mais escuros, com direito a cílios postiços, nos lábios, um batom claro.

— Esse batom não sairá com facilidade. Mas vou te dar uma amostra grátis da mesma cor, só para você retocar se precisar.

Quando eles me ajudaram a colocar o vestido, quase desabei em lágrimas, porque eu via na minha frente uma mulher poderosa, de alto nível, com um corpo bonito, rosto impecável e cabelos modernos. E essa mulher era eu. Minha autoestima estava lá no alto, e eu acreditava que poderia vencer uma batalha naquela nova armadura. Às sete, a limusine chegou, e quando saímos, Laerte acabava de descer do outro carro. Assim que me viu, entrou em desespero.

—Carol, você não vai fazer uma sacanagem dessa.

—Não estou vendo sacanagem, Laerte. - Empinei o nariz e desfilei para a limusine, levando comigo uma carteira na mão. Mas Laerte não desistiu.

—Pelo amor de Deus, eu serei demitido, entre no carro e vamos para a fazenda.

— Laerte, querido. - Ela o segurou. - Não há mais o que fazer, Carol já é dona da situação. Somos apenas espectadores.

—Ela a obrigou a fazer isso?

—Não. Eu a obrigue. Agora me leve para um bar legal, vamos beber alguma coisa. Amanhã Gabriel nem saberá o que é raiva, confie em mim.

Entrei na limusine, o coração pior do que tambor em ritmo descompassado. Minhas mãos suavam. Ainda tinha tempo de desistir, mas eu jamais faria isso. Queria que ele olhasse e visse que eu não estava para brincadeira. Sem falar que Gabriel não poderia fazer nada comigo lá, diante da família dele. Gargalhei sozinha no espaçoso banco traseiro.
A limusine arrancou, e eu fechei os olhos. Era o momento de avançar uma casa a mais no jogo. A mansão do pai de Gabriel era gigantesca, parecida com casas de filmes. Estava toda iluminada, e vários carros de luxo paravam em frente e eram imediatamente recebidos por homens de terno. A limusine ficou minutos na fila, até a oportunidade de parar em frente. Eu olhei, embasbacada, para a altura da mansão e engoli em seco, amedrontada. Eu estava prestes a invadir uma festa a qual não fui convidada. Um dos homens abriu a porta e me ajudou a descer.

MINHA REFÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora