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- Senhor? - Ele riu

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- Senhor? - Ele riu. Um sorriso delicioso, mas sem deixar de lado o tom provocador.

- Gosta da palavra "senhor"?

- Ah, desculpe. - Olhei para Franco, que nem parecia estar na sala. Olhava de modo despreocupado o celular.

- Não, não sou casada.

- É uma casamenteira que não se casou? Interessante.

- É...

- Suponho que pretendentes não lhe faltam.

- Não sou tão rodada como você. - Dei uma risada sem graça, mas ele não riu. Ao contrário, pareceu intrigado. Seu cenho se franziu, o deixando absurdamente sexy. Caramba, por que fui falar isso?

- Então me acha um rodado? Tem acompanhado minha vida sexual?

- Não, senhor... Ah, droga, desculpa... não, Gabriel. Não me importo com quem você... pega... ou... - Eu me calei. Ele estava me deixando aflita, e, com isso, eu não conseguia parar de falar asneiras.

Seus olhos se fixaram em mim por mais alguns instantes, então Gabriel sacudiu a cabeça em negação e sorriu em um tom que eu considerei calmo, mas fiquei confusa, uma vez que seu maxilar estava enrijecido.

- Tem muita sorte por não ter um motivo para eu te manter por aqui. Vamos continuar.
- O quê?

- Eu disse para continuarmos. - Ele me fitou muito sério. Olhei rapidamente o papel e sussurrei: - Oitenta mil, os convites e lembrancinhas. - Engoli saliva e levantei meu olhar.

Ele estava na mesma posição, parado, com a caneta entre os lábios, me fitando. Era só o início de uma tarde longa. Gabriel estava ficando cada vez mais instável, e eu, ainda mais pressionada e amedrontada. Apenas quando ele começou a surtar em cada item da lista é que eu fui ver como parecia mesmo absurdo. Não tinha como pagar seis mil em um bolo que ninguém ia comer só porque fez a encomenda e cancelou. Meus olhos abaixavam a todo segundo para o total: três milhões e oitocentos mil. Sendo oitocentos mil do meu roubo. Ele surtaria mais ainda quando visse isso. E creio que meu medo pode ter deixado transparecer, afinal ele não quis terminar de analisar e pediu para Franco ligar para a joalheria, onde a conta estava quase chegando a um milhão. Ele já estava de pé no escritório, bebendo o uísque que lhe fora servido, e Franco digitava o número no celular. É agora que minha farsa será descoberta.

- Achamos que o senhor estava a par... - Franco tentou amenizar a situação.
- Eu confiei em você para que tomasse conta de tudo e deixei o caixa da empresa disponível para todos os seus saques. Mas não achei que seria essa facada.

- Gabriel, não pense que eu te...

- É claro que não estou pensando. Você não estragaria sua vida tentando me dar um golpe. Mas essas porras de serviços podem dobrar o valor quando veem que se trata de um homem poderoso como eu. Um milhão de reais na porra de uma joalheria? Comprou o quê? Um diamante para cada padrinho?

Franco mostrou o dedo indicador para Gabriel, pedindo um minuto, enquanto esperava alguém atender a ligação. Eu fiquei de pé no mesmo instante.

- Ahn... eu posso ir rápido ao banheiro? É coisa rápida.

- Claro. - Gesticulou sem dar importância. - Siga em frente na sala, vire no primeiro corredor. É a primeira porta.

- Obrigada. - Saí rapidamente, olhei em volta, não vendo ninguém, e corri para fora, lutando para que os sapatos não fizessem tanto barulho no assoalho. Meu coração pulsava em desespero, parecia que estava vivendo um pesadelo. Lembrei do meu sonho, em que era algemada, e o pânico me tomou. Não tinha como fugir. O portão era automático e devia ser acionado por alguém na casa. Eu estava presa, e era questão de minutos para Gabriel descobrir o golpe e chamar a polícia.

Eu era pobre, pegaria fácil dez anos de cadeia e seria esquecida lá dentro. Corri em volta no belo jardim tentando encontrar um funcionário que me ajudasse a sair. Não tinha ninguém por perto, a não ser... O carro da jardinagem.
Um dos homens entrou no lado do motorista, e o outro foi pegar a caixa de ferramentas. Era minha chance. Mais rápido que uma larápia, tirei meus sapatos e corri.
Entrei na porta de carga traseira, que estava aberta, me encolhi atrás de uns sacos de esterco e tremi, quase batendo o queixo quando ele jogou a caixa de ferramentas e fechou as portas. Eu
tinha que sumir no mundo. RJ seria pequeno quando Gabriel descobrisse. Ele viria com tudo para cima de mim.

[...]

- Mãe, é muito dinheiro...! - Quase gritando em surto, eu explicava para minha mãe tudo que deveria ser feito na minha ausência.

Depois que eu pulei fora do carro, assustando os homens da empresa de jardinagem, peguei um táxi e, em dois minutos, juntei tudo que precisava para fugir. Mas não tinha ainda quitado
a hipoteca. Não dava para confiar em meu pai, era um alcoólatra. E minha mãe mal conseguia andar. Ela tinha fibromialgia, e ultimamente a doença havia se intensificado. Eu não sabia o que fazer.

- Carol, pelo amor de Deus, o que está acontecendo? Por que tem que viajar? Fique e pague a hipoteca segunda-feira.

- Não dá, mãe. - Jamais diria a ela que o dinheiro era roubado. Além de matá-la de desgosto, minha mãe não iria aceitar. - É uma emergência na empresa, tenho que viajar agora. Mas vou transferir o dinheiro para sua conta, e segunda-feira, peça para o Daniel levar a senhora ao banco.

Daniel, meu irmão mais novo, trabalhava durante o dia e estudava à noite. Mal tinha tempo para dormir.

- Sabe como a vida do coitado é corrida...

- Eu sei, vou ligar para ele. Ele pode vir no horário de almoço. - Peguei minha bolsa, coloquei no ombro e me abaixei para dar um beijo nela, sentada em sua confortável poltrona.

- Se cuide, ligarei quando chegar lá. Se qualquer pessoa vier me procurar, diga que não sabe onde estou.

- Você está com algum problema? Conte para sua mãe.

- Problema nenhum, meu amor. Volto em breve.

Eu não podia gastar ,uito tempo indo de ônibus para chegar a São Paulo. Recorri ao voo. A todo instante, era como se eu estivesse sendo seguida. Eu me mantive em alerta a cada segundo, pronta para correr a qualquer pequeno sinal de ameaça. Comprei passagens e, de chapéu e óculos escuros, esperei impacientemente até o momento do embarque.

Só dentro do avião, quando já estava no alto, eu respirei fundo, sorri e me deliciei com a visão do RJ lá embaixo. Eu estava livre, por enquanto. Sei que fugir era só o atestado do meu crime. Se ele me denunciasse, eu me tornaria procurada pela polícia. Ainda não queria pensar se foi um erro ou acerto ter fugido.

Ao menos, me dava tempo para pensar mais no assunto, tempo para planejar. Assim que cheguei a São Paulo, a primeira coisa que fiz foi comprar uma tinta e, no quarto do hotel, pintar meus cabelos de preto, próximos da cor natural. Com pesar no coração, dei adeus a meu ruivo de anos. Ver meu reflexo moreno novamente me deixou surpresa, mas até realçou meus olhos verdes.

MINHA REFÉMWhere stories live. Discover now