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Carol Fernandes

Ele levou a delegada para o escritório e lá ficaram por quase meia hora. Quando saíram, ela se dirigiu a mim.

— Não vamos arquivar essa denúncia. Quando descobrirmos quem fez a denúncia anônimo, voltaremos.

— Claro, eu fico agradecida pela segurança em nosso estado. - Ela me direcionou um olhar torto, se despediu e saiu. Me joguei no sofá, arfando aliviada, e Gabriel fechou a porta. Ele me estudou com as mãos na cintura e com um olhar penetrante.

— Quem fez isso? -me questionou.

— Também quero saber. - falei. Na verdade, eu tinha certeza que fora Letícia, mas não ia contar para ele. Não ia dizer que sabia de todo nosso rolo. - Será que não foi Miguel?

— Não. Ninguém sabe do sequestro. Nem meus irmãos. Quem mais sabe sobre isso, Carol?

Eu queria proteger Leticia, não queria Gabriel indo com tudo pra cima dela. Pelo menos não antes de saber o motivo, talvez fosse uma tentativa de me ajudar. Ela sempre se preocupou muito comigo.

— Olha Gabriel. Talvez eu tenha deixado escapar para a minha mãe. Não sei.

— Não sabe? Contou para sua mãe que foi sequestrada? Porra, Carol! Lógico que sua mãe iria denunciar. Tem noção do que poderia ter acontecido comigo?

— Sim, eu sei.

— Ou foi você quem fez essa denúncia? Numa tentativa de fugir daqui e se vingar de mim? Foi você, Carol?

A indignação me consumiu. Me levantei e fiquei bem perto dele, enfrentando-o.

— Você deveria estar me agradecendo. Era a minha chance de escapar e jogar você numa sela, mas tem sorte que eu sou uma besta desenvolvi um pouco de apreço por você, de modo que jamais pagaria na mesma moeda. - Virei para subir a escada, mas voltei rapidamente. - O que acha que eu ia fazer? Denunciar você depois de tudo? Eu conheci sua família, suas lembranças do passado, seus planos e ainda me ofereci para ajudar. Eu não seria tão fria para jogar na cadeia o homem que eu divido a cama, apesar de ele merecer.

Subi as escadas correndo, entrei no quarto destinado a mim e, com minhas mãos dentro dos cabelos, caminhei no cômodo. Eu não seria mesmo capaz de denuncia-lo. Se fosse no dia em que havia chegado aqui, eu faria sem pensar, mas depois de duas semanas. Não dava. Gabriel se tornou parte dos meus dias e noite, não podia simplesmente feri-lo.
Da janela, olhei o jardim lá embaixo. Estava acontecendo o que eu mais temia: Eu estava me acostumando a fazenda, era péssimo.
A porta se abriu e eu nem precisei olhar para saber que era ele. Gabriel sentou- se na cama e ficou ali, calado, por alguns segundos.

— Eu sei que não foi você. - Ele sussurrou. - Obrigado por ter me acobertado.

— Que seja.

— Eu fiquei apavorado.

— Não se preocupe. - falei sem olhar para ele. - Se depender de mim, não será preso.

— Eu não fiquei apavorado em ser preso, Carol. Eu só pensei que você pudesse ir embora. E dessa vez, seria impossível ir te buscar de novo. Seria um porre estar nessa fazenda imensa sozinho.

Ouvir isso vindo dele me desestruturou. Gabriel estava sendo sincero ao abrir seu coração para mim. Um homem acostumado a ser machão e sempre dominador estava me mostrando qual era seu pior medo. E por incrível que pudesse parecer, era extremamente igual ao meu medo, ter que ir embora daqui. Eu me sentei na cama, ao lado dele.

— Por sorte, você tem um contrato que me obriga a ficar. - Gabriel me fitou e sorriu. Passou o braço no meu ombro e me puxou para abraça-lo.

— Você continua sendo minha refém.

MINHA REFÉMHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin