15º

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Talvez eu pudesse aceitar o pagamento que Gabriel tinha imposto. Eu poderia deixar de lutar e concordar em ser a bonequinha dele, para servi-lo em troca de não ir para a cadeia. Não era um cativeiro tão ruim. O lugar parecia um paraíso, eu tinha liberdade para fazer o que eu quisesse, tinha meu próprio quarto, muitas roupas, comida bem-feita e um macho da melhor qualidade na minha cama.

Mas era justamente aí que morava o perigo. E se eu me acomodasse? E se eu passasse a gostar demais, e quando ele me mandasse embora, eu já estivesse apegada a tudo isso?

Eu nunca fui uma mulher que ficava parada esperando as coisas acontecerem, ilegal ou legalmente eu ia atrás da minha independência. E não ficaria parada esperando Gabriel se cansar desse joguinho. Ainda sentindo em meu corpo os vestígios da tarde de sexo, fui para o andar de baixo, disposta a tomar uma atitude. Não foi difícil atrair Tereza para uma armadilha e prendê-la no banheiro. Eu tinha descoberto mais cedo que na cozinha havia um monitor para a câmera do portão e um dispositivo que o abria. Também percebi que geralmente na casa ficava apenas Tereza e, às vezes, por perto, Laerte, um dos empregados, algo como o chefe dos peões braço direito de Gabriel na fazenda.

Então, quando eu a tranquei no banheiro, corri para baixo, abri o portão e, como uma louca, corri para fora da casa. O percurso era longo para fazer a pé, e eu teria poucos minutos até que alguém aparecesse. Meus cabelos soltos voavam ao vento, minhas pernas doíam com o esforço repentino, e eu pensei que deveria ter treinado mais com Gabriel.

Coloquei mais pressão e aumentei a velocidade. Ao longe, o grande portão de entrada estava aberto. E então, para meu pânico, ouvi o grito atrás de mim.

— Carool! — Nem virei para saber que era Laerte. Os galopes atrás mostravam que ele estava a cavalo. Ele me alcançaria rápido, a não ser que...
Esperei ele estar bem perto e então parei de repente e me virei. Ele vinha a toda velocidade e puxou o cavalo para desviar de mim.

Eu aproveitei o momento e berrei, batendo os braços para o cavalo se assustar. Funcionou. Ele não conseguiu frear a tempo e, com o susto, ambos caíram. O cavalo se levantou depressa e correu para o outro lado, e eu voltei para a minha missão de alcançar o portão da rua, agora com Laerte a pé, ao meu encalço.

— Fechem o portão! — Laerte gritou. E eu não lembrava que havia duas guaritas. Os guardas lá dentro olharam e, quando me viram, acionaram o portão. Ele estava fechando e eu correndo o máximo que conseguia para alcançar.
— Porraaaa! — berrei.

Não conseguiria sair a tempo, então desviei e adentrei as árvores, indo em direção ao pomar. O plano tinha sido um fracasso, e eu já podia pressentir a raiva de Gabriel quando chegasse. Corri até o pomar e me encolhi entre as árvores. Ele não me pegaria facilmente, eu fugiria até as minhas forças esgotarem.

 Ele não me pegaria facilmente, eu fugiria até as minhas forças esgotarem

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Solucei de raiva e entrei correndo.
Em casa, Tereza estava muito amedrontada e me pediu clemência assim que cheguei. Apesar da raiva por ela ter sido facilmente ludibriada, eu não iria puni-la. Eu conhecia desde o início as pilantragens de Carol.

— Me conte o que houve. —Tentei não ser bruto com ela. Eu sabia como Tereza era fiel a mim.

— Ela me trancou no banheiro, abriu o portão e correu. Ainda bem que a distância é grande para ela ir a pé. Ela derrubou Laerte do cavalo.

— Como é que é? — Não sei como ela conseguiu, mas... foi isso... Ela ainda está na propriedade, mas não sabemos onde.

MINHA REFÉMWhere stories live. Discover now