Por favor, tire essa dor de mim!

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Eu me perguntava o que eu tinha feito para precisar passar por aquilo, me perguntei se em uma outra vida eu tinha sido um dos homens que seguia cegamente Hitler ou se fui um dos que ajudou com a morte de Jesus.

Talvez aquilo fosse uma cobrança de uma vida passada, era a única explicação.

Meu coração batia tão forte que eu sentia meu sangue correr mais rápido em minhas veias, o medo de estar certa, a vontade de gritar pela maldita cidade, toda a raiva que sentir nesse último mês, todo homem que matei tentando aliviar oque eu sentia, a lembrança dos gritos dos Smiths vivas em minha cabeça, o homem que me alertou para não confiar em ninguém.

Tudo, tudo, tudo.

Um toque de celular ecoou dentro do carro em que estava junto com Dimitri, percebi que era o dele, ele levou o celular aos ouvidos e me olhou com o olhar repleto de tristeza.

- O que foi?

Fiz um esforço enorme para conseguir falar, minha garganta tinha um nó que me machucava como se tivesse 10 pregos arranhando ela, me cortando por dentro.

- Entraram na casa de Damian.

Meus olhos arderam e eu pisquei esperando que ele continuasse com a fala;

- Damian está morto Estrela!

Damian está morto Estrela!
Damian está morto Estrela!

Neguei com a cabeça freneticamente me negando acreditar naquilo, não podia ser verdade. Por Deus não!

Meu abismo estava cada vez mais próximo, me chamando. Eu senti meu peito abrir um buraco profundo em meu coração, sentir minhas mãos suarem e um grito que não dei romper minha garganta, eu desejei morrer ali.

- Você está mentindo Dimitri!

Uma risada sem humor se misturou as lágrimas que sem aviso começaram a molhar meu rosto, eu não podia acreditar

- Diga para mim que é mentira.

Ele não disse, continuou em silêncio pelo que me pareceu um século, Dimitri alternava entre me olhar e olhar a estrada, seus olhos repletos  de tristeza.

- Pare o carro!

Sussurrei, aquele carro estava se fechando ao meu redor. Eu precisava sair dele, precisa de ar, precisava conseguir respirar. Dimitri não demorou para estacionar em um lugar deserto, não existia nada além de nós dois e minha dor.

Eu imediatamente abrir a porta e sair, meus olhos ardendo, uma dor aguda me sufocou, eu sentir o ar faltar, minha respiração ficou acelerada minhas mãos tremendo freneticamente, eu me curvei e me ajoelhei no chão, eu estava me curvando ao luto.

Eu precisava sentir uma dor que não fosse a interior e então comecei socar o chão da estrada, sentia minha carne rasgar e arder em contato com o chão duro e a areia,

Soquei, soquei, soquei

Vir o chão manchar com meu sangue mas não parei, não liguei. Eu continuei socando!

Minha filha!
Estarei com você sempre!
Não precisa ser forte o tempo todo!
Te amo Luz!
Cuidarei de você como uma filha!
Luz, você é a minha luz!
Volte para casa pequena!
Tenho muito orgulho de você Estrela!

Braços me rodearam, eu tentei me afastar mas ele não deixou, não me soltou.

- Por favor, me diga que é mentira!

Eu supliquei, eu implorei mas ele apenas me apertou ainda mais em seus braços.

- Eu sinto muito!

Eu sinto muito!

Comecei a socar o peito dele desesperada, gritando em meio ao choro.

- MENTIROSO, VOCÊ ESTÁ MENTINDO, POR FAVOR... por favor... Por... Favor!

Eu socava, eu gritava, implorava para que fosse mentira que ele me tirasse daquele pesadelo, eu estava em um pesadelo, meu abismo se aproximando ainda mais.

- Eu estou aqui coração, eu estou aqui!

Eu não queria ouvir, eu só queria parar de sentir aquela coisa que me rasgava.

- NÃÃÁO!!

Eu me debatia em seus braços, minha cabeça girando e latejando, minha visão ficou turva, sentia calafrios, tremores no corpo.

- Coração, respire!

Mesmo com a neve caindo encima de mim, meu corpo todo suava, o tecido do vestido começou me incomodar e eu sem pensar duas vezes com as duas mãos comecei a rasga-lo, eu não queria aquilo me tocando. Dimitri segurou meus dois braços, impedindo que eu continuasse.

- Porra Estrela se acalme, conte até dez comigo ok?

O aperto em meu peito se intensificou e eu só conseguia me concentrar na névoa de escuridão que me levava para longe

- Estrela porra, me escute! Respire coração. 1,2,3,4,5.....10!

Eu fechei os olhos com força a imagem perfeita dele em minha mente, meu pai, o homem que me acolheu mesmo sem saber que eu era sua filha, o homem que escolheu viver nas sombras em pró de proteger a lembrança que eu tinha da minha mãe, o homem que sempre esteve comigo durante anos, que me protegeu e fez questão de mostrar para o mundo meu rosto, meu pai agora estava... Morto!

Damian está morto Estrela!

Por minha culpa ele estava morto.

Eu abrir os olhos tentando controlar minha respiração e me deparei com os olhos azuis de Dimitri me olhando, ele ainda me mantinha em seus braços me impedindo de desabar.

Mas eu já tinha desabado, eu estava destruída.

Eu deixei as lágrimas rolarem e ele não disse mais nada, continuo ali no chão comigo deixando que eu curtisse minha dor.

Damian está morto Estrela!

Eu sabia quem tinha feito aquilo, quem tinha matado ele e aquilo só me afundou ainda mais

Sinto muito!

Damian começou murmurar e eu também sentia, eu sentia tanto, Deus, como eu sentia!

Eu estou aqui coração, estou aqui com você!

Nada, nada era capaz de aplacar oque estava sentindo mas uma pequena gota de tristeza evaporou ao ouvir aquilo.

Eu estava deitada ali sendo absorvida pela agonia, me lembrando de cada sorriso que ele me presenteou, cada abraço ou bronca,

Cada vez que desejei arrancar a cabeça dele, o olhar de orgulho que ele me deva sempre que conseguia realizar uma missão.

Eu estou caindo cada vez mais fundo, me pergunto como vou conseguir levantar? Como vou conseguir encarar tudo isso?

Por favor, tire essa dor de mim!

Alguém me ajude, eu imploro!

Eu queria dizer mas não conseguia, minha voz não saia, meu cérebro em sintonia com meu corpo. Ambos querendo um meio de aliviar aquilo mas nem um dos dois conseguiu.

Minhas mãos se fecharam em punhos, aquela coisa que me transformei, aquilo morto.


A luz da morte. Where stories live. Discover now