Caixinha

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Semanas depois...

Karol

É esquisito como o tempo passa devagar sempre que você está sofrendo. Tenho a sensação de que os ponteiros do relógio se arrastam e que os minutos começam a virar pequenos séculos dentro das horas. É uma certeza mórbida de que a ferida no peito não sarou.

Ainda não me sinto dentro de mim. A minha alma parece planar em volta do meu corpo, realizando as tarefas cotidianas, ajudando meu filho, resolvendo papeladas, contratando pessoas, demitindo, preparando o casamento...

Quero ficar genuinamente feliz por cada pequena coisa dessa, mas lembro de Agustín.

E agora que ele se foi, é estranho.

É extremamente estranho.

Viro-me de lado e escorrego o braço para debaixo do travesseiro, ficando consideravelmente mais aliviada ao ver Ruggero dormindo ali.
Ele não me deixou sozinha um segundo sequer, e mesmo que estivesse no trabalho, Mike, Jeff ou até mesmo Margô apareciam e ficavam o tempo inteiro comigo e com o Henry.

Eram nesses pequenos gestos que eu o amava mais.

Chego a pensar que não tem mais espaço em mim pra tanto amor, mas daí ele sorri e tenho a certeza de que meu coração triplicou de tamanho só para acomodar mais um pouquinho desse sentimento que vem salvando os meus dias.

Se não fosse por todas essas pessoas, sem dúvida eu não aguentaria.

─ Parece um sonho. ─ Ele diz abrindo os olhos bem devagarzinho, olhando pra mim por baixo dos cílios volumosos. ─ Não me acostumo com a idéia de acordar ao lado de uma deusa.

Acabo sorrindo.

Levo minha mão até seu rosto e o acaricio.

─ Obrigada por ter tanta paciência comigo.

Sei que não é fácil para ele me ver tão abalada por outro homem, mesmo que esteja ciente de que Agustín era como um irmão pra mim; mas, ainda assim, me ponho em seu lugar. É doloroso ver alguém que amamos definhando.

─ Por você eu faço qualquer coisa.

─ E eu digo o mesmo.

Ruggero beija minha mão e então se senta, esticando os braços e se espreguiçando.

Sempre que ele faz isso eu observo. Gosto como suas costas nuas se alongam, como os músculos se movem enquanto seus braços são erguidos acima da camisa, alinhando sua espinha, fazendo sua pele exposta reluzir contra os finos raios solares que entram pela janela aberta.

Como se percebesse meu olhar, ele se vira e deita novamente, mas dessa vez com o queixo apoiado na minha barriga e um dos braços em volta do meu corpo. Ele ama ficar assim, e eu amo também.

─ Eu estive pensando, baby, sobre o casamento.

─ Pensando?

─ Unrrum. ─ Ruggero abre um sorriso cauteloso. ─ Essas últimas semanas têm sido complicadas para todos nós. E eu sei que especialmente pra você. O nosso filho também não anda bem depois de tudo o que ouviu aquele imbecil dizendo. Agora ele sabe que o Blaine tinha capangas, que a Elizabeth pagou aquele estúpido... É um pesadelo. E eu sei que ele está sendo um garoto forte, que está superando, mas leva tempo.

Sim. Quando aquele homem estava com a arma apontada para a mim, ele disse que Elizabeth o mandou ir até a casa, e disse também que trabalhava para o Blaine... Abriu o jogo.
Um jogo perigoso, cruel.

À Prova de BalasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon