Algumas Mentiras

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Dias depois...

Karol

Ruggero estava sentado na beirada da cama calçando a meia do pé direito quando sai do banheiro enrolada no roupão, ciente de que dali alguns minutos ele teria que ir até a delegacia e só nos veríamos a noite novamente.

Quanto mais as coisas iam ficando definidas entre nós mais difícil era me separar dele, mesmo que fosse por algumas horas apenas.

Estar com ele me fazia pensar que podia flutuar, ver o mundo de cima, sem que nada mais pudesse me machucar, porém quando ele ia embora ficava apenas uma sensação de vazio sombrio que engolia a minha mente o resto do dia, até que ele voltasse de novo.

─ Acho que você precisa de férias. ─ Falei encostando-me ao batente da porta do banheiro.

Ruggero pegou a meia do pé esquerdo e calçou rapidamente, então olhou pra mim por entre aqueles cílios negros.

─ Sabia que eu não tiro férias há anos? Sempre preferi trabalhar, até os dias de folga eram uma tortura pra mim.

Isso eu já imaginava.
Ruggero havia me contado de sua saga em busca do assassino da Belinda e de como ficou desnorteado ao perdê-la. Tudo isso o deixou fora dos eixos e incapaz de ver cor na vida. Ele se afundou no trabalho para não pensar, para não voltar a sentir.

─ Imagino que a Margô se preocupava muito.

─ Ela sofreu muito com a minha ausência, mas agora pretendo compensar isso.

Abri um sorrisinho.

─ Então você vai parar de implicar com o Elliot?

Ruggero torceu o canto da boca em claro descontentamento.

─ Isso ai são outros quinhentos, Karol.

Bufei achando graça.

Bastava tocar no assunto que a carranca crescia, mas eu já estava começando a achar isso fofo.

─ Quando vai parar de ser tão detetive e mais neto? Ela só precisa do seu apoio.

Rugge apoiou os cotovelos nas pernas curvando-se para frente.

─ Eu não sei se vou muito com a cara dele.

─ Ah, amor, por Deus! ─ Acabei rindo. ─ Outro dia mesmo ele foi super gentil quando deixou você fazer aquela enxurrada de perguntas no jantar. Tadinho, aliás!

─ Não fiz nada de mais! – Deu de ombros com aquele desdém teimoso.

─ Ruggero, você perguntou se ele topava fazer exames de sangue pra saber se o cara não tinha algum tipo de droga no organismo! ─ Me vi guinchando.

Isso ele achou engraçado.

─ Foi só uma piada, amor.

─ Você já tinha ido ao consultório para marcar os exames!

─ Que tal se a gente mudar de assunto?

Estreitei os olhos, mas não tive tempo de retrucar porque o celular dele apitou na mesinha, avisando a chegada de uma mensagem.

Ultimamente ele vinha recebendo muitas mensagens. Quero dizer, eu entendia o trabalho dele, ainda mais nessa nova função, mas os últimos dias estavam impossíveis! E para piorar, sempre que chegava uma dessas mensagens, ele tinha que ir embora.

Rara eram as vezes em que explicava direito. Na verdade, eu já começava a achar que o que ele dizia eram só desculpas esfarrapadas.

─ Algo importante? ─ Perguntei casualmente, indo até a mesinha para buscar a minha escova de cabelo.

À Prova de BalasNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ