Persuasão

507 67 766
                                    

Karol

Eu não queria voltar a dar trabalho para a Margô, especialmente porque eu estava ali para servi-la e não o contrário. Entretanto a minha patroa deixou bem claro que querendo ou não, eu seria avaliada pelo médico da família.

Mas o que mais de deixava com inúmeras sensações perpassando meu corpo era o fato do Detetive estar ali.
Ele não havia saído por nem um segundo. Permaneceu de pé próximo ao batente da porta. Vez ou outra seu olhar esbarrava no meu, mas era rápido e muito despretensioso.

Fora o fato daquela coisa toda, ainda tinha o infeliz do Blaine. E só de me lembrar do que havia acontecido o medo já retornava.
Era tão fácil me apavorar com a idéia de morrer; talvez porque já tenha encarado a morte diversas vezes, inclusive no dia em que atirei em Logan.

"Olhe para o espelho... Olhe para o seu reflexo pálido e assustado. Você vai para o inferno. Eu vou matar você. Não! Não vire o rosto. Quero que se olhe enquanto eu acabo com você, Karol." As palavras dele ainda ecoavam dentro da minha cabeça dolorida.

─ Vou buscar mais gelo. ─ Margô disse já se afastando da cama.

─ Margô, eu estou bem. De verdade. Vai passar. É só uma torção boba. Vou melhorar.

Não que eu acreditasse nisso. A porra do meu tornozelo doía pra caralho, além do mais, estava inchando muito.
Não que me assustasse um ou outro machucado, mas me dava pânico pensar que ficaria impossibilitada de cumprir meu serviço. E eu não podia me dar ao luxo de abusar da hospitalidade da Margô.

Ruggero já havia deixado bem claro a minha função ali, e que a vida pessoal não se mistura à profissional.
Muito embora ele estivesse falhando miseravelmente nisso...

É, entendê-lo era uma sinuca de bico para mim.

Tentei me mexer e a dor aumentou. Merda!

─ É, estou vendo como é uma torção boba. ─ Margô desdenhou. ─ Fique quieta. Não queremos que piore. Não sei que agonia é essa!

─ Eu não quero dar trabalho! Estou aqui para acompanhar a senhora, estar sempre à disposição, ajudá-la... E, sinceramente, não tenho feito nada disso. Pelo menos não como deveria.

Margô estreitou os olhos pra mim.

─ Acha mesmo que eu estou preocupada com isso? Se lhe incomoda tanto ficar de repouso... Que tal cuidar do bazar online que eu tenho? É isso! Você fica ai quietinha e resolve a questão das compras e se tudo está correndo bem com o dinheiro arrecadado que, na verdade, é mandado diretamente para um Centro de Reabilitação Infantil. O que acha? Pode fazer isso por mim? Eu sinceramente não tenho o menor jeito com internet.

Puxei o ar com força e fiz uma careta por causa da dor que já estava subindo pela perna.

Inconscientemente olhei para Ruggero e ele apenas me olhou de volta. Não vi nada que me fizesse sentir uma completa inútil.
Dessa vez ele não parecia disposto a esfregar na minha cara as minhas funções ali.

Engoli em seco e me virei para Margô.

─ Claro. Posso fazer isso. Cuidarei de tudo da melhor forma, eu prometo.

─ Ótimo! ─ Guinchou. ─ Agora se aquiete e espere o... Ah, ele chegou! ─ Acompanhei seu olhar até encontrar o homem baixinho que ia entrando logo após cumprimentar Ruggero. Pareciam velhos conhecidos e talvez fossem mesmo. Ele segurava uma maleta preta e tinha um sorriso amigável nos lábios finos. ─ Dr. Ricardo! Como vai? Ainda estou esperando a Samantha para aquela tarde do vinho, hein?! Sua esposa me passou a perna!

À Prova de BalasWhere stories live. Discover now