Acidente

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Karol

Eu estava com um sorriso idiota no rosto, mas nem sob tortura admitiria que era por causa daquele bilhete bobão que o Ruggero deixou na mesinha ao lado da minha cama. Quero dizer, não tinha nada demais, e foi justamente por isso que fiquei feito idiota relendo até que precisei sair do quarto, porque tinha trabalho a fazer.

Dei uma última lida e guardei o papel debaixo do meu travesseiro.

"Quando entrei no quarto havia um sorriso nos seus lábios. Espero que esteja sonhando comigo. Afinal, sinceramente, por qual outro motivo sorriria daquele jeito tão lindo?
Bom dia.
R."

Eu não sabia como alguém podia ser tão egocêntrico e fofo ao mesmo tempo.

Ruggero não tinha limites.

─ Bom dia, moça sorridente! ─ Margô exclamou assim que entrei na cozinha.

Corei imediatamente.

─ Ah, não precisa fingir que não está feliz. Até seus olhos estão brilhando! ─ Katy comentou em seguida enquanto servia um copo de suco a nossa patroa. ─ Agora comece a contar o motivo de tanta felicidade. Alimente nosso espírito fofoqueiro!

Ri zombeteiramente e fui me sentar, pegando uma maçã e dando uma generosa mordida, só para perder um pouco de tempo – ou ganhar, na verdade.

Mas as duas eram obstinadas e não paravam de me fitar com expectativa.

Porra!

─ O que foi? ─ Indaguei meio sem jeito. ─ Não fiquem me olhando assim. Eu não tenho nada para contar, ok? Só tive uma boa noite de sono. Só isso.

─ Ah, então, por acaso... ─ Margô coçou o canto da boca e riu. ─ Essa boa noite de sono atende pelo nome de Ruggero Pasquarelli, que por ventura é, na verdade, o meu netinho?

Um pedaço ligeiramente grande da maçã desceu pela minha garganta sem que eu conseguisse mastigar direito e me engasguei.

Aceitei de bom grado o copo de suco que Katy empurrou na minha direção e bebi tudo de uma vez, aliviando prontamente o ardor na minha garganta e a tosse tempestiva que me fez lacrimejar.

Pigarreei ao pousar o copo na mesa.

─ Margô, pelo amor de Deus! ─ Guinchei com a voz rouca.

As duas estavam rindo, para variar.

─ Não seja tão careta assim! ─ Minha patroa deu um tapinha na minha mão. ─ Eu sei o que os jovens fazem, sabe por quê? Porque há pouco tempo, eu também tive a sua idade. Então, relaxa. O importante é que vocês estejam felizes. Só isso.

O que ela queria dizer? Margô tinha visto...o que fizemos no escritório dela?

Ah não. Eu nem queria imaginar isso.

Deus do céu!

Droga! Não. Ela não pode ter visto. De modo algum.

Eu ia matar o Ruggero!

─ O seu neto e eu... Nós. Nós não... Quer dizer, nem tem um 'nós'. Na verdade, nós não temos nada assim, de fato. É só...

─ Vocês estão ficando. Eu sei como funciona isso. ─ Margô disse de modo despreocupado, então se virou para Katy. ─ É coisa atual, sabe? O povo começa a namorar, mas não quer compromisso, ai não "rotula". Chamam de 'ficar'.

Ela fazia aspas bem extravagantes com os dedos e explicava como uma expert no assunto.

Confesso que achei engraçado.

À Prova de BalasNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ