Capítulo Cinquenta e Oito

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Eles não estavam me esperando dentro do galpão, mas sim no alto da pequena elevação de terra — nem tão pequena, já que era duas vezes mais alta que o próprio galpão —, que se erguia mais atrás. O caminho até lá havia sido pavimentado manualmente pelo pessoal do Comando por meio de pedras. Podia ser estranho, mas eu gostava do som abafado que os pneus faziam ao passar por cima delas.

Assim que parei o carro, percebi que tinha uma rapaziada de peso acompanhando o Kalil, o Tatu e o Capuava. O Tatu parecia que estava com diarreia, tamanha sua cara de desconforto.

Assim que desci do carro, fui ao encontro deles, ainda sem acreditar que era aquilo que estava acontecendo por ali.

Conforme eu me aproximava e fui reconhecendo os rostos: Di da Caboré, Maneta, Vira-Vira e o Pedrinho, eu não me contive e me entreguei à risada.

— É sério essa porra aqui mesmo? — perguntei ao Kalil, indicando a todos com a mão, ainda rindo.

Pilhado, como se tivesse tomado ecstasy, Capuava já foi me cortando:

— Ó lá, que nem eu falei, o cara quer se achar mais importante que a própria facção.

— Não quero me achar mais importante que ninguém nem nada nessa porra aqui não, maluco — aquele assunto já tava me saturando tanto, que nem ao filho-da-puta eu quis me dirigir. Indo a quem realmente importava, exclamei: — mas porra, Kalil. Armar um circo desses por causa de uma besteira dessas, puta que pariu, mas tá querendo foder com o meu juízo mesmo.

— Com todo o respeito, Alemão... — o Di da Caboré tomou a palavra.

— Na boa, irmão — o interrompi. — Se tem uma coisa que vocês não estão tendo aqui é respeito. Porque me arrastar pra uma merda dessas; você, Kalil, sabendo de toda a treta que eu tô envolvido com o meu pessoal, a minha empresa, por causa de um vacilão do caralho que nem ele, você pode falar sobre qualquer coisa aqui, menos de respeito.

— Vacilão do caralho, eu?! — Capuava esgoelou, ultrajado. — Nem atitude de homem você tem, rapá! 'Cê foi se crescer pra cima de mulher. Cadê que você veio se crescer pra cima de mim que sou o marido dela? Uma porra. Foi é mandar aquela vagabunda bater na minha mulher na frente de todo mundo, que nem pra fazer a merda com as próprias mãos, você foi homem. Agora o que? Vai mandar algum filho-da-puta pra vir me bater também?

Mas eu dei foi risada, maluco.

— Agora, além de vacilão do caralho, bateu com a cabeça também, foi? — ainda sorrindo, o encarei. —Tá variando, maluco? Com a sua mulher, eu nunca fui nem de trocar ideia. A treta dela é com a menina lá e tudo o que eu fiz foi deixar as duas resolverem o que tinha pra resolver. Agora com você a história é outra e eu não preciso mandar ninguém pra resolver esse tipo de coisa pra mim. O Tatu tá aqui, de prova. Ou vai me dizer que esqueceu que eu desci o cacete em você uns dias atrás?

Ele bufou, contrariado.

— Se eu não sentei a mão na tua cara como você merece, maluco, é porque aqui tem palavra — ele bateu no peito. — Aqui segue a disciplina como eu sempre fiz. Não sou um sem proceder nenhum que nem você. Nessa porra, seu cuzão, não se bate em homem que nem você fez. Se bem que nem homem você é...

— Tem palavra a minha pica, seu moleque do caralho — eu até tava levando aquela palhaçada numa boa, mas vou admitir que eu não tava gostando nada de conhecer aquele Capuava. — Você quer falar de quem é ou quem não é homem comigo? Toma vergonha na sua cara, filho-da-puta!

— Alemão... — advertiu o Di da Caboré num tom baixo.

— Tem conversa aqui não, da Caboré — retruquei, revoltado. — Esse comédia do caralho tá tendo a cara de pau de meter o louco comigo com o Tatu aqui, porra! E ainda alguém tem a coragem de manter esse circo? — olhei pra todos eles. Aquele não era o Comando do qual eu me lembrava.

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