Capítulo Vinte e Nove

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É assim que deveria ser

Viver jovem, selvagem e livre

Snoop Dogg, Wiz Khalifa, Bruno Mars – Young, Wild & Free


Cara, que dia bom.

Tava tocando uma música daorinha na rádio do Snoop Dogg que transmitia a mesma sensação que eu carregava comigo desde a noite passada: de tranquilidade, alegria. Me livrei do excesso de cinzas pela janela do carro, enquanto eu cortava pra sair da Nove de Julho e entrar na Turquia.

Geralmente era um inferno aquele pedaço, mas no domingão, o fluxo tava tranquilo e eu fui cortando até a casa do Ademir numa boa.

Eu devia ter pego o celular dele, caralho, pensei sorrindo comigo mesmo. Queria poder saber melhor a letra da música pra ir cantando... ramelei, porra, em não ter pegado o número dele. Bebida é uma desgraça. Se eu tivesse numa boa, com certeza que viria à mente a ideia de pedir o número dele pra podermos ir trocando ideia, mas na fissura de curtir o momento, nem pensei. E também não dava pra eu ir perrecar em cima da Maira pra ela me passar o número. Eu estava naquela ainda de saber e não saber o que eu queria, então, por mais eufórico que eu estivesse, ia fazer o possível pra levar tudo aquilo da forma mais natural que eu pudesse.

Eu não queria bancar o emocionado.

Embora eu fosse um, no momento.

E olha que eu tinha dito a mim mesmo que não iria no tal brunch que a mulher do Ademir me chamou pra ir na casa deles na última quinta, mas eu tava de tão bom humor, que mudei de ideia e resolvi ir. Mesmo eu achando tudo aquilo uma frescuragem do caralho... e o próprio Ademir tinha dito que era mesmo e que era coisa da mulher, mas eu já tava ligado que ele curtia esses baratos que ela organizava, mas não falava nada porque tinha medo de eu arruaçar com ele, o que eu faria de qualquer jeito.

Assim que cheguei na rua dele, já vi que o bagulho tava animado mesmo, pois ele estava se afastando da calçada de casa com a Cátia meio que gritando do lado de fora, indo na direção dele, com algumas pessoas no portão observando a confusão.

Quem diria que eu ia ver logo a Cátia num barraco daqueles?

Resolvi, então, estacionar o carro umas duas casas pra trás e saí do carro pra entender melhor o que estava acontecendo.

— ... como é que você me faz um negócio desses, Ademir?! — Cátia, naquele misto de raiva e desapontamento, estendia a mão na direção do povo que assistia a treta do lado de dentro da casa. Ademir começou a vir na minha direção assim que me viu. — Minhas irmãs, os maridos delas, minhas amigas... todo mundo aqui e você nem aí. Só pensa em você.

— Vamos lá na feira logo, grandão — disse Ademir, tenso, chegando do meu lado. Nem esperou eu falar alguma coisa e já foi pro lado do passageiro tentar abrir a porta. Não destravei. — No seu carro mesmo.

— Ixi, louco. Qual foi a fita? — eu quis saber. — Nem tomei café pra vir comer aí. Tô com fome, caralho.

— No caminho a gente para numa padaria. Vamos — e tentou abrir a porta, sem sucesso. — Abre aí pra mim.

— Segura aí, caralho. Eu vim pra comer aqui não em padaria.

— Você não vai me dizer nada, Ademir? É isso mesmo? — e Cátia se aproximou um pouco mais. — Vai se esconder e fugir? Na frente de todo mundo.

— Vamos, grandão! Olha a confusão aí... como é que você vai conseguir comer com esse inferno?

Ergui os ombros.

DeclínioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora