De Pink Floyd à Bowie

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— Isaac. — Ele cumprimentou o amigo e andou até o mesmo, que organizava uma prateleira de vinis. Remus reconheceu que era o corredor de Blues. — Como vai?

Isaac largou o que estava fazendo e seus braços fortes rodearam Remus, o apertando em um abraço. Lupin soltou uma risada nervosa e tirou o disco de seu peito a tempo. Ele deu um aperto leve em Isaac e logo se separou do amigo, mordendo o lábio.

— Estamos em público, Zack.

— Ah que se dane o público, e eu já te disse que Zack é um apelido hétero demais pra mim. — Isaac sorriu e pousou a mão no ombro de Remus. — Eu estou indo, Remie, feliz que ainda não fui demitido desse emprego. E você? Como vai sua escola de mesquinho?

Isaac provocou e voltou a colocar o estoque novo na prateleira.

— Ugh, a gente pode conversar sobre escola outra hora?

— E esse é o nerd falando. — O sotaque sulista de Isaac era tão forte e bonito que fazia o coração de Remus derreter um pouquinho.

Remus mostrou a língua pro amigo.

— Eu só estava aqui, querendo comprar um disco, e esse funcionário fica me atacando, cadê o seu gerente?— Remus brincou e Isaac riu alto.

— Olha, querido, esse disco é seu, de graça, meu presente de natal pra você, huh? — Isaac apontou com a cabeça pro disco nas mãos de Remus e acariciou os ombros dele. — E eu não quero ouvir um "a" seu reclamando, em março eu não consegui te dar um presente porque você estava naquela escolha particular de gente rica.

— Isaac! Eu... — Remus parou com o olhar do amigo e suspirou. — Okay! Você é tão mandão!

— Você gosta. — Isaac piscou pra ele e Remus sentiu até seu pescoço ficar vermelho.

— Insuportável.

— Eu diria lindo e maravilhoso. — Ele terminou com os vinis. — Você tá livre o resto do dia?

Remus assentiu com a cabeça e apertou o disco novamente contra seu peito.

— Então...— Isaac retirou um molho de chaves de seu bolso e entregou para Remus. — Você pode me esperar no meu apartamento, meu turno acaba em...— Ele checou o relógio na parede da loja. — Uma hora. Fechado?

— Okay! — Remus pegou o molho de chaves e o apertou contra sua mão. — Só... eu não quero atrapalhar.

— Ah, querido, você nunca atrapalha. — Isaac piscou e foi para os fundos da loja.

Remus sentiu seu coração martelar em seu peito e rodopiou antes de sair da loja, com as chaves em mãos.


Remus subiu os dois andares de escada até a porta do apartamento de Isaac. Ele entrou e trancou a porta. As paredes verde musgo eram familiares, ele encostou suas costas contra a porta e deixou um sorriso tomar conta de seu rosto. Ele sentia falta de Isaac, ele era o ponto seguro de Remus. Ele não sabia da magia, da licantropia, onde Remus realmente estudava. Nesses últimos tempos a única certeza de Remus era Isaac e esse apartamento. Bem, se Isaac conseguisse manter o apartamento sem ser expulso. Ele já estava o segurando por alguns meses agora. Remus sentiu o calor de orgulho esquentar seu peito. Por falar em esquentar...

Remus fechou todas janelas e ligou o aquecimento central. Ele tirou seu gorro, cachecol e jaqueta. Seu rosto ainda estava vermelho. Ele diria que era por causa do frio. E não porque ele viu o garoto que roubou seu primeiro beijo. Jamais.

Na parede à direita da porta estava o mural de fotos de Isaac. Ele tinha uma polaroid e tirar fotos era seu hobbie. Remus se aproximou e tocou uma foto com as pontas dos dedos. A escrita no inferior da foto datava o verão de 76. Eles já se conheciam há meses, mas foi quando Isaac o beijou. Era um dia incomum de verão. A pele de Remus grudava com o calor. Ele estava sem camisa jogado no chão do apartamento. Isaac estava deitado ao seu lado do mesmo jeito que Remus. O ventilador estava no máximo e o apartamento parecia fritar ambos. A pele escura de Isaac brilhava. Remus ignorou que era por suor. Era uma cena bonita, que ele gostava de admirar. Isaac percebeu o olhar e um sorriso cresceu no canto de seus lábios grossos. O rádio de Isaac foi um dos grandes companheiros deles naquele verão. Quando o olhar de Remus estava subindo pelo peito do garoto ao seu lado. Uma música familiar começou a tocar e Remus grunhiu alto.

— Eu juro por Deus que se eu ouvir essa música mais uma vez eu pulo dessa janela.

Isaac riu alto.

— Estamos no segundo andar, o máximo que você vai conseguir vai ser um braço quebrado. E qual o problema com Bowie? Essa música é ótima!

— Sim, nas primeiras vinte vezes que você ouve, Deus, já fazem o que? Seis anos que a música lançou! As rádios podiam achar algo novo!

— Como você é rabugento, Lupin. — Ele disse como se estivesse saboreando o sobrenome de Remus em sua boca e se virou pra ele. — Você ainda não me disse qual o problema com Bowie.

— Olha, — Remus se apoiou em um cotovelo e olhou para Isaac. Ele não queria falar a verdade. Ele não queria dizer como toda vez que ele ouvia Bowie, seu coração acelerava com a lembrança de Sirius. — Eu não tenho problema com o Bowie, mas essa música já tocou o suficiente pra uma eternidade.

— Eu sinto que você está mentindo. — Os olhos de Isaac brilharam e Remus conhecia aquele olhar de travessura. Afinal, ele convivia com James Potter e Sirius Black.

O clímax para o refrão chegou e Isaac cantou o mais alto que conseguia.

ALL THE YOUNG DUDES! CARRY THE NEWWWWS!

Remus grunhiu alto novamente e tapou suas orelhas com as mãos. Mas Isaac não iria desistir tão fácil. Ele subiu em cima de Remus e segurou as mãos dele pra que a tortura de Remus fosse completa. Ele continuou cantando. Mesmo que Remus pensasse que era mais gritando do que cantando. Ele não lutou contra o aperto do garoto, ele estava ocupado demais corando dos pés a cabeça com o fato de Isaac estar sentado no seu colo segurando suas mãos. Ele cedeu à sua tortura.

Isaac riu e se inclinou em cima de Remus. Remus achou que poderia entrar em combustão ali mesmo. Ele parou de cantar.

— O gato comeu sua língua, Remie?

— Pelo menos você parou de cantar. — Remus resmungou.

— Ah, cale a boca. — Os olhos de Isaac brilharam novamente.

E então ele beijou Remus. A primeira coisa que Remus conseguiu formular em seu cérebro foi: isso é molhado A segunda foi: e bom. E do mesmo jeito que o beijo havia começado, ele acabou. Rapidamente. Remus olhou para Isaac, sem saber o que dizer.

— Pelos menos você parou de falar. — Isaac retrucou com o mesmo tom de Remus.

Remus estava sorrindo com a lembrança. Ele soltou a foto.
E, okay, ele tinha que admitir. Ele havia mentido para Sirius.

No Halloween, Remus alegou não conhecer Bowie. Enquanto Sirius surtava naquela fantasia ridícula. Isso foi uma mentira. Era óbvio que ele conhecia o cantor e sabia suas letras de cor. Primeiro, que ele havia passado o verão anterior inteiro beijando um garoto que trabalha em uma loja de discos. Segundo que Sirius era o tipo de pessoa que, quando ele gostava de uma música, ele literalmente a ouvia repetidamente até o disco riscar. E Remus gostava de prestar atenção no que Sirius gostava.
Então, por que ele havia mentido?
Sendo sincero consigo mesmo, era porque Remus tinha medo. Ele não queria contar pra Sirius e ter de explicar. Porque suas duas opções eram terríveis, ele se perguntou qual seria pior, "Eu tenho um crush gigantesco em você e por isso eu presto atenção em cada detalhe seu" ou "Meu namorado trouxa me beijou o verão inteiro ao som de Bowie, aliás, ele trabalha numa loja de vinis, quer um souvenir?"
Então mentir foi mais fácil. Não que ele esteja orgulhoso de ter feito aquilo. Mas era uma mentirinha branca. E Remus estava acostumado a mentir.

Ele balançou a cabeça. Não era momento de pensar em Sirius. Ele não iria estragar seu dia assim. Ele deixou as chaves em cima da mesa. Agora que ele estava quente e confortável, ele notou as diferenças no apartamento. Havia alguns toques femininos. As coisas estavam mais organizadas, o cheiro de Isaac se misturava com um cheiro doce no ar, e andando pelo lugar ele até achou maquiagens no armário do banheiro. Ele franziu o cenho. Isaac não era a pessoa mais masculina do mundo, mas ele não era do tipo de usar maquiagem, nem o tipo de namorar uma mulher. Remus voltou pra sala pra ver se achava alguma resposta.

E, antes de ele conseguir criar qualquer paranoia em sua cabeça, uma coruja piou, e, pousada no parapeito da janela da sala, a coruja dos Potter carregava uma carta.

Bem, ao menos não era Sirius, Remus pensou, e suspirando, ele abriu a janela e pegou sua carta. No momento que a janela se fechou novamente, a coruja já havia ido embora.

E, apesar da coruja ser dos Potter, era a caligrafia perfeita de Sirius que endereçava o envelope.


Hey! Espero que tenham gostado da atualização dupla, é compensação do atraso de postar os capítulos!
Apolo xx.

ConstelaçõesWhere stories live. Discover now