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Eu desmaiei logo após assitir aquela reportagem, meu corpo simplesmente desligou no meio da recepção. Quando acordei, algum tempo depois, eu estava na sala de medicação do hospital, com o soro já pela metade.

Eu mal me mantinha de pé, mas eu precisava ver a Hani, não iria aguentar perder mais alguém aquela noite.

A única notícia boa que pude ter naquele dia, é que a pequena foi trazida justamente para hospital onde eu trabalho, então eu poderia ter mais acesso ao quadro dela, não precisando implorar por notícias.

Hani ficou internada por 2 dias, passando por uma longa bateria de exames, afinal por mais que aparentemente ela não tivesse se machucado gravemente, não sabíamos se ela tinha sofrido algo interno, mas felizmente foram apenas alguns arranhões. Mild e Mew se revezavam para me fazer companhia no hospital, tentando me fazer comer e descansar, coisa que eu sinceramente não fazia a menor questão no momento, só uma coisa me importava aquele momento: a saúde da Hani.

O enterro aconteceu logo após a liberação do hospital, Jom ficou responsável por toda a preparação, além de ter total liberdade para cuidar de toda a papelada referente a guarda da Hani, minha família sempre confiou no trabalho da advogada, além dela ser quase parte da família, já que é irmã do meu melhor amigo.

Eu estava anestesiado, não conseguia chorar, falar ou agir, a médica disse que eu estava em estado de choque, e que eu devia evitar ficar sozinho, já que alguma hora tudo que estou sentindo vai explodir, e eu vou precisar de muito apoio. Bom, essa reação veio mais rápido do que imaginei, bastou pisar na capela onde velariam o corpo da minha irmã, que eu cedi a uma crise que me desmaiou mais uma vez.

A última lembrança que eu tenho daquele dia, é também a mais importante. Diante do túmulo de Grace e Charlie eu jurei que cuidaria da filha deles como se fosse minha, e que nada jamais me afastaria da Hani.

E eu vou cumprir essa promessa, custe o que custar.
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Mesmo sentindo como se estivesse morto por dentro, eu tive que me erguer. Meu apartamento dividido com Mild não teria a menor condição para a Hani, então eu tive que engolir toda a minha dor, e levar nossas coisas pra casa da Grace, onde ela tinha todo o necessário para o bem estar da pequena.

Eles tinham uma vizinha chamada Sammy, um anjo que nos ajudou com coisas básicas como trocar uma fralda, fazer a mamadeira e dar banho. Eu e Mild éramos a única família que Hani tinha, então teríamos que aprender na marra a cuidar da bebê. Mew vinha aqui toda noite após o trabalho, nos fazia comer, e fazia companhia até que eu pegasse no sono, coisa que estava sendo difícil ultimamente.

E foi no 5° dia vivendo na casa de Grace, e sendo um tio de primeira viagem, que algo aconteceu. A campainha tocou, e eu fui praticamente me arrastando atender. Diante de mim, uma mulher desconhecida, cabelos enrolados e pele bronzeada, suas roupas sociais contrastando com a maleta que carregava em sua mão.

- Olá, você é Gulf Kanawut? - Perguntou ajeitando seu óculos.

- Sim, e você é...?

- Meu nome é Melissa, eu sou assistente social, vim para falar sobre o caso da sua sobrinha, podemos conversar?

Não sei por qual motivo, mas eu senti que aquela conversa seria ruim, ainda assim a permiti entrar, levando a mesma até a sala, onde Hani brincava no chão com bolinhas de plástico junto a Mild, que ergueu os olhos curiosos ao nos ver.

- Esse é o Mild, ele é meu primo e tem me ajudado com a Hani - Apresentei.

- Que bom que esta aqui também, porque essa conversa cabe aos dois. Já adianto que ela é um pouco ruim, mas muito necessária - Senti um arrepio na espinha, me adiantei sentando de frente pra mulher, tentando controlar meu nervosismo - Antes de qualquer coisa, preciso que entendam que não estou fazendo nada disso porque quero, mas infelizmente é o meu trabalho, então por favor não vamos tentar manter a calma ok?

- Você ta me assustando - Mild falou se aproximando com a menina em seu colo.

- Antes de começar, eu preciso saber se é da sua vontade ter a guarda da Hani - Perguntou olhando pra mim.

- Sim, eu quero muito isso, e eu sei que seria o que a Grace iria querer também - Respondi com firmeza.

- Eu não tenho a menor dúvida disso... Só que temos um problema. Nós verificamos que sua família é toda do interior da Tailândia, e que vivendo aqui na capital temos somente vocês dois, correto?

- Sim - Respondemos juntos.

- E quanto a família do Charlie, todos coreanos, apenas ele vivia aqui, correto também?

- Sim, ele não tinha nenhuma ligação com a família - Respondi.

Charlie é coreano, nasceu em berço de ouro, já que seus pais são donos de uma rede de produtos de beleza. Ele foi criado para no futuro ser um grande líder e empresário, a frente da empresa da família, mas ele nunca quis nada daquilo, e depois de muitas brigas ele decidiu sair de casa, juntou suas coisas e veio pra Tailândia, a princípio para um intercâmbio, mas acabou permanecendo. Seus pais tentaram de todas as formas fazê-lo voltar, e depois que descobriram do romance com a minha irmã, passaram a odia-la por acharem que ela o prendia aqui, gerando ainda mais brigas, até que eles cortaram laços de vez.

Nem mesmo quando Grace descobriu a gravidez eles o procuraram, a criança nasceu e eles nunca nem mesmo mandaram uma mensagem de parabéns, ou mostrando interesse em conhecê-la. Nós nos tornamos a família de Charlie, já que a dele, era como se nem mesmo existisse.

- Tudo bem... Eu vou ser direta. As chances do juiz deixar que um de vocês fiquem com a menina é mínima - Meus olhos arregalaram em desespero - vocês são muito novos, ainda estão fazendo faculdade, a situação financeira não é nada estável, já que você ainda está estagiando, e seu primo trabalha meio período...

Não não não não

- Mas ela só tem a nós! - Quase gritei já exaltado, Mild apertou meu ombro como um pedido mudo de calma.

- Aí que ta... - Ela suspirou profundamente - A família do Charlie entrou com um pedido da guarda da menina, os avós.

- Que? - Dessa vez foi Mild quem gritou - Eles nunca nem viram a criança, e agora fazem questão de serem avós?

- Eu sei, revoltante ... - A mulher tirou o óculos massageando as têmporas - Se ao menos um de vocês tivesse uma fonte de renda estável, já fosse formado e um pouco mais velho, talvez as coisas fossem mais fáceis, eu juro que quero ajudar, mas eles passam uma imagem de maturidade pro juiz, além de claro, ter bens o suficiente pra poder dar uma boa vida a ela, isso conta muito.

- Ta me dizendo que não vamos poder ficar com ela por sermos pobres e novos? - Mild perguntou totalmente desacreditado.

- Não com essas palavras, mas sim, é por aí - Ela respondeu sincera.

O celular tocou e a mulher se levantou pedindo licença para atender. Minha cabeça estava a mil, eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo.

Eu não posso, não quero, e não vou perder a Hani pra aqueles velhos imundos.

Como num sinal divino a porta se abriu, meu melhor amigo chegou trazendo várias sacolas novamente, nos olhando em confusão, talvez por ter visto a mulher do lado de fora.

Foi aí que minha mente deu um estalo.

"Se ao menos um de vocês tivesse uma fonte de renda estável, já fosse formado e fosse um pouco mais velho"

Me levantei agarrando seu braço o puxando escada acima, deixando um Mild confuso e uma criança mordendo um brinquedo do Pikachu pra trás. Entrei no primeiro cômodo que vi, acabando por ser o banheiro, e o prendi na parede.

- Que isso, ta doido? - Seus olhos felinos estavam arregalados e ao mesmo tempo seu cenho franzido numa clara confusão.

- Mew, eu preciso que você finja ser meu noivo.

Count On Me (Mewgulf)Where stories live. Discover now