— Ai, você não faz ideia! Como eu não notei que ele gostava de mim? – Volto a me sentar e escondo o rosto entre as mãos.
— Bom, você sempre foi meio lerdinha, sabe…
— Você sabe que não tá me ajudando, né?
— Foi mal. Agora vamos conversar sério... – Ela tira as mãos do meu rosto e me faz encará-la. — Você gostou do beijo? – questiona, esperando minha resposta com o rosto transbordando em expectativas.
— E isso importa?
— Sim, importa.
— Não sei. – Cristine me olha com cara de quem não acreditou nem um pouco no que acabei de dizer. — Um pouco... – Ela levanta as sobrancelhas loiras, e eu sei que não adianta mentir, nem para mim mesma, nem para ela. — Tá bom! Eu gostei do beijo! – Me jogo de costas na cama, frustrada.
A vida tem mesmo que ser tão complicada aos 17? Achei que os problemas só começariam a aparecer depois da maioridade.
— Numa escala de zero a dez, quanto você gostou? – Ela se joga na cama também, e nós duas ficamos encarando o teto.
— No que isso vai me ajudar?
— Só responde a pergunta.
— Acho que... uns 9? – respondo, apesar de parecer mais uma pergunta.
— Acha ou tem certeza?
— Eu sei lá, Cristine. Foi bom e pronto.
— Ok, ok, estressadinha. – Ouço seu suspiro, ela claramente já está perdendo a paciência.
Não a culpo. Eu também já perdi a paciência comigo mesma.
— Você gosta dele? – volta a perguntar.
— Só como amigo – respondo, com total convicção.
— Então por que retribuiu o beijo? – Minhas convicções caem por terra. — Acho que, talvez você goste dele sim, nem que seja um pouquinho, mas nem se deu conta disso.
— Não! Eu... nunca pensei nele nesse sentido.
Ela solta um suspiro exasperado.
— Ok. Estão, se não sente o mesmo, é só dizer a ele. Não precisa ficar tão estressada com isso.
— Acha que é isso que tenho que fazer?
— Claro, Heloísa! Honestidade é tudo na vida. Além disso, alimentar as esperanças de alguém quando você não sente o mesmo que a pessoa é… horrível, para dizer o mínimo.
O que ela diz me pega de jeito. Não existe nada pior do que amar alguém e não ser correspondido (nisso eu tenho três anos de experiência), mas ficar na incerteza deve ser 10 vezes pior.
— Tem razão – digo um tempo depois. — Mas ele já sabe que gosto de outra pessoa.
Só depois de falar é que me dou conta de que a Cristine não faz ideia da minha paixão platônica por Paulo.
Olho para ela, apreensiva, mas me surpreendo com o que ela diz logo depois:
— Ainda não desistiu do Paulo?
— Como você... – Engasgo, completamente surpresa.
Ela se senta na cama e me encara de sombrancelha levantada, como se eu tivesse feito a pergunta mais idiota do mundo.
— Achou mesmo que eu não perceberia? Você seca aquele garoto desde o primeiro ano! – ela ri.
Acho que meus olhares não foram tão discretos quando eu pensava...
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Do Que o Amor é Feito | Amores Platônicos 01
Teen FictionO que você faria se um estranho descobrisse um segredo seu? Heloísa nutre um amor platônico pelo mesmo garoto há quase três anos. Ela nunca criou coragem para declarar seus sentimentos para Paulo, nem para contar sobre isso a ninguém. Mas ela não...
Capítulo 34 - Como pude ser tão cega?
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