Capítulo 34 - Como pude ser tão cega?

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— Ai, você não faz ideia! Como eu não notei que ele gostava de mim? – Volto a me sentar e escondo o rosto entre as mãos. 

— Bom, você sempre foi meio lerdinha, sabe…

— Você sabe que não tá me ajudando, né?

— Foi mal. Agora vamos conversar sério... – Ela tira as mãos do meu rosto e me faz encará-la. — Você gostou do beijo? – questiona, esperando minha resposta com o rosto transbordando em expectativas.

— E isso importa?

— Sim, importa.

— Não sei. – Cristine me olha com cara de quem não acreditou nem um pouco no que acabei de dizer. — Um pouco... – Ela levanta as sobrancelhas loiras, e eu sei que não adianta mentir, nem para mim mesma, nem para ela. — Tá bom! Eu gostei do beijo! – Me jogo de costas na cama, frustrada.

A vida tem mesmo que ser tão complicada aos 17? Achei que os problemas só começariam a aparecer depois da maioridade.

— Numa escala de zero a dez, quanto você gostou? – Ela se joga na cama também, e nós duas ficamos encarando o teto.

— No que isso vai me ajudar?

— Só responde a pergunta.

— Acho que... uns 9? – respondo, apesar de parecer mais uma pergunta.

— Acha ou tem certeza? 

— Eu sei lá, Cristine. Foi bom e pronto.

— Ok, ok, estressadinha. – Ouço seu suspiro, ela claramente já está perdendo a paciência.

Não a culpo. Eu também já perdi a paciência comigo mesma.

— Você gosta dele? – volta a perguntar.

— Só como amigo – respondo, com total convicção.

— Então por que retribuiu o beijo? – Minhas convicções caem por terra. — Acho que, talvez você goste dele sim, nem que seja um pouquinho, mas nem se deu conta disso.

— Não! Eu... nunca pensei nele nesse sentido. 

Ela solta um suspiro exasperado. 

— Ok. Estão, se não sente o mesmo, é só dizer a ele. Não precisa ficar tão estressada com isso.

— Acha que é isso que tenho que fazer?

— Claro, Heloísa! Honestidade é tudo na vida. Além disso, alimentar as esperanças de alguém quando você não sente o mesmo que a pessoa é… horrível, para dizer o mínimo.

O que ela diz me pega de jeito. Não existe nada pior do que amar alguém e não ser correspondido (nisso eu tenho três anos de experiência), mas ficar na incerteza deve ser 10 vezes pior.

— Tem razão – digo um tempo depois. — Mas ele já sabe que gosto de outra pessoa.

Só depois de falar é que me dou conta de que a Cristine não faz ideia da minha paixão platônica por Paulo. 

Olho para ela, apreensiva, mas me surpreendo com o que ela diz logo depois:

— Ainda não desistiu do Paulo? 

— Como você... – Engasgo, completamente surpresa.

Ela se senta na cama e me encara de sombrancelha levantada, como se eu tivesse feito a pergunta mais idiota do mundo.

— Achou mesmo que eu não perceberia? Você seca aquele garoto desde o primeiro ano! – ela ri.

Acho que meus olhares não foram tão discretos quando eu pensava... 

Do Que o Amor é Feito | Amores Platônicos 01Where stories live. Discover now